terça-feira, 20 de março de 2018

Dessas Batalhas

que vencem sempre
por maneco nascimento

À tarde do dia 14 de abril, na abertura da Semana Nacional do Teatro em Teresina-SeNThe, a atração da hora, às 18 horas,  repetia-se à melhor performance de espetáculo realizado, na véspera, em Campo Maior, pelas comemorações do 13 de Março.

A hora era do Musical "A Batalha do Jenipapo", para texto de Bernardo Aurélio, direção musical de Edivan Alves e direção geral e de arte de Franklin Pires.


Na porta do Theatro 4 de Setembro, após a apresentação da Banda da Corporação do 25o. BC - 100 Anos; o Hino Nacional cantado por Gislene Danielle e Edivan Alves; mais a performance "Tal Dia é o Batizado!", com alunos/as da Escola Técnica Estadual de Teatro "José Gomes Campos", chegaram os ventos cênicos do Musical "A Batalha do Jenipapo" , com elenco de + de cem artistas envolvidos direta e dramaticamente na cena quente de espetáculo a céu aberto.

Franklin Pires e Edivan Alves conseguem reunir emoção, memória e história brasileiras e demonstrar que a arte pode e deve pedir licença e gerar poesia, sem comprometer ciência e academia, mas especialmente deve realizar Teatro sobre o que quer que seja, que gere cena viva e deslocada de ranço de academicismo de orelha de tratados científicos.


Teatro é Teatro, História é História, Teatro é História e História é Teatro e a Escola de Annales quebra as barreiras que engessam discursos de que História não pode ser Teatro, ou dialogar com ações dramáticas de reproduzir memórias.

O espetáculo Musical "A Batalha do Jenipapo" abre margem de curiosa atenção a fatos históricos, narrados de forma lúdica e poética e, encontra no elenco corajoso que concorre à audição de participação na revitalização da cena da cidade, pondo a escanteio a preguiça, os velhos e azinhavados medalhões do Teatro estreitado pela leniência e descuido de atuar e, reinventa-se ao mote do Teatro de defesa de Brook.

Pois assim é que é o espetáculo, trazido às vezes de história, memória e musical, que abstrai ranços de quem faz menos pela ação dramática viva da cidade e subtrai o Teatro engodado pela falta de ousadia e coragem de reinventar o modus operandis de assinatura da cena que se propõe a novidade no Piauí.


Franklin Pires coaduna atores, atrizes, cantores, cantoras, capoeiristas, criança, jovens e adultos, gerações entrecruzadas de artistas da cena local e os torna estrelas de narrativa dramática, já repetida para vinte edições, com diretores e elenco distintos, haja vista o espetáculo de 2018 completar 20 anos de Atos encenados do Projeto de espetáculo às comemorações do histórico 13 de Março.

O diferencial para esta versão 2018, que já se havia concretizado em outras duas oportunidades anteriores, capitaneadas por Franklin Pires, é que é às feitas de Musical. A dobradinha Edivan Alves e Franklin Pires revalorizam a cena de ação dramática de palco aberto a céu livre e deslizam atos musicados e interpretados por solistas e coro afiados e afinados no desenho dramatúrgico de reiteração da história real dramatizada.

Num universo conspirado de livre inspiração ao modelo do musical Os Miseráveis, de Victor Hugo, o enredo musicado "A Batalha do Jenipapo" se instala no contexto da história da Batalha às margens do Rio Jenipapo, no município de Campo Maior, ao norte do Piauí, em que campônios juntos e fortes são flecha e arco da revolução que brasileiros perdem a guerra, mas vencem a batalha e inscrevem no capítulo da história brasileira a luta de adesão à causa da Independência do Brasil.


Enredo inteligente, dinâmico e perspicaz para recepção dramática, o Musical "A Batalha do Jenipapo" empertiga talento, vivacidade de alimentar drama em cena limpa, degusta o sabor de compor arte e fato histórico à pena da licença de poesia dramática epopeica, sem perder-se ao limbo de drama estéril e estética engessada de contar história, que não fugiria da historiografia cartesiana.

Basta-se com estética de novidade e eficiência de atrair e ganhar a recepção pelo emocional desenhado na pauta melódico-trágica de bem contar um fato histórico.


Por vinte anos de Projeto de espetáculo, três diretores [Arimatan Martins, Siro Siris, Franklin Pires]  passaram pela prancheta de criação-reprodução do dado histórico do 13 de Março. Dadas as medidas particulares de olhar dramático ao Projeto, fica na ponta de mais ousar e criar um novo viés os ventos que sopram para o lado de Franklin Pires. 

O resultado está lá, o envolvimento coeso, a sinergia estética aplicada, idem. E, os desdobramentos que correm aos olhos da assistência ressoam mesmo depois que a "tragédia" contada se desmancha e o elenco se recompõe e canta o Hino do Piauí. Musical? Sim! Por que não? Indiferente? Nem por uma sombra, que se houvesse teria sido escolha dramática de diretriz do encenador.

Imagens, emblemas, composição de elenco, figurinos, campos de atuação das personagens das simples às autoridades espelhadas no roteiro, que deslocam ação e imprimem compromisso de interesse do público ao  contado.

Tudo está na conformidade da técnica e estética da proposta apresentada para espetáculo com diálogos e canções e encenações. Então, está é bonito! Só não gosta que já mordeu a ponta da língua da desídia, inveja "Branca de Neve!" e desaprendeu o jogo de jogar pelo coletivo.

Teatro. Teatro limpo. De tradição e ruptura. De Renovação do discurso estético. De atenção ao novo que nasce da conformidade do velho[Pound] e, especialmente, Teatro vivo, "doelha a quem doelha!"

Se há novos dramaturgos, diretores, atores que poderiam realizar mais eficientemente que Franklin Pires, que se apresentem e apresentem Projeto que desbanque o modelo que Pires se banca como criador. Caso contrário, continuarão a regurgitar modelo de lamúria e saliva ácida escorrendo pelos cantos da boca seca de construção de novidade à cena local.

De mais: mais trabalho, pesquisa, imersão nas próprias limitações para prospectar algo que se se possa renovar a si mesmo e até apresentar algo que surpreenda a nosotros. Por ontem, por hoje, por hora, Franklin Pires e seu Musical "A Batalha do Jenipapo" estão no lucro...

Parafraseando o Poeta e Anjo Torto: difícil é não apontar falha nos outros, quando a própria inapetência em criar o novo insiste em bater à porta e lembrar que desaprendeu da reinvenção criativa e perdeu o bonde da criação que gere até "inveja branca".

Parabéns Bernardo Aurélio, Edivan Alves & Franklin Pires.

Evoé, Musical "A Batalha do Jenipapo"!

fotos/imagem: (Geirllys Silva/divulgação ascomSeCult)

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