sábado, 28 de outubro de 2017

"O Mal amável"

"O mito de Pandora"
por maneco nascimento

As semelhanças, entre mito primordial e a realidade, esta que se nos possa apresentar, ao erguerem-se em coincidências, seriam para estudos, teorias, ciência em transversal de comportamento humano, arqueologia cultural, ou fruto de natureza humana ilustrada pela força do mito, do mito do eterno retorno (M. Eliade), arquétipos e inconsciente coletivo (Yung), ou apenas fruto de iniciação de mente criativa à justificativa da humanidade que vê além do lago de Narciso? Fico com a ciência em qualquer de suas acepção de recorte do reflexivo.

(reprodução web)

'Para perder o homem, Zeus ordenou a sue filho Hefesto que modelasse uma mulher ideal, fascinante, semelhante às deusas imortais (...) Por fim o mensageiro dos deuses concedeu-lhe o dom da palavra e chamou-a Pandora, porque são todos os habitantes do Olimpo que, com este presente, 'presenteiam' os homens com a desgraça! Satisfeito com a cilada que armara contra os mortais, o pai dos deuses enviou Hermes com o 'presente' a Epimeteu. este se esquecera da recomendação de Prometeu d jamais receber um presente de Zeus, se desejasse livrar os homens de uma catástrofe (... ) A raça humana vivia tranquila, ao abrigo do mal, da fadiga e das doenças, mas quando Pandora, por curiosidade feminina, abriu a jarra de larga tampa, que trouxera do Olimpo, como presente das núpcias a Epimeteu, dela evolaram todas as calamidades e desgraças que até hoje atormentam os homens. Só a esperança permaneceu presa junto às bordas da jarra, porque Pandora recolocara rapidamente a tampa, por desígnio de Zeus, detentor da égide, que amontoa as nuvens. É assim, que, silenciosamente,  porque Zeus lhes negou o dom da palavra, as calamidades, dia e noite, visitam os mortais... Foi, pois, com Pandora que se inciou a degradação da humanidade (...)" (Hesíodo: Trabalhos e Dias/ mito das Cinco Idades IN Brandão, Junito de Sousa. Mitologia grega, vol. I. 21 ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.  440 p[ recorte das páginas 176 e 177])

Até aqui, desde século VIII a.C., Hesíodo posterizou-se à nossa contemporaneidade. Seu pai, natural de Cime, na Eólia, emigrou da Ásia Menor para a Beócia. Ali nasceu Hesíodo, na povoação de Ascra, junto ao monte Hélicon, consagrado a Apolo e às Musas. Aquele, o Poeta que iria reinventar/organizar a história dos deuses Olímpicos.

Dele a cultura ocidental herda, à posteridade, nosso contemporâneo, a Teogonia, poema de cunho didático, a estabelecimento da genealogia dos Imortais, deuses da mitologia grega e intercursos e um cunho que abriu horizontes à aproximação histórica, ciência do comportamento e as variantes de estudo e pesquisa sobre mentes e humanidade entre a epifania, cosmogonia e origem do mundo e mundo real aplicado a exemplos de dados colhidos de Poetas que posterizaram suas experiências de história e memórias orais reinventadas.

Na obra Trabalhos e Dias "(...) Mas Hesíodo não deseja que a justiça seja praticada apenas por Perses, mas também e sobretudo por aqueles que têm a função de aplicá-la. Estes, infelizmente, se deixam, não raro, subornar, a ponto de provocar a presença de Horco, o juramento, e de se ouvirem os clamores e os soluços da própria justiça:
De imediato o juramento se apresenta em perseguição
às sentenças torcidas, elevam-se os clamores da Justiça
sobre o caminho por onde a arrastam os reis comedores
de presentes, que fazem justiça à força de sentenças torcidas.
Ela os segue chorando sobre a cidade e às habitações dos homens, que a expulsaram e aplicaram sem critério. (Trab., 219-224) (...)" (Idem. pag. 190)
E mais declara o Poeta em Trabalhos e Dias:
"(...) Meditai sobre isto, reis comedores de presentes ,
sede justos em vossos julgamentos e renunciai
para sempre às sentenças torcidas. (Trab., 263-264)" (Idem. pag. 191)
E, por fim, também reitera:
"(...) É preciso que o povo pague pela loucura desses reis
que, com tristes desígnios, falsificam seus decretos
com fórmulas torcidas. (Trab., 260- 262)" (Idem. pag. 191)
Das lições de caráter poético-mítico aos dias de realidade brasis, que se nos apresentam a esse momento de gole, estratégias de permanência, "podres poderes" executados e preservados a qualquer custa e os desvios dos "reizinhos e deuses" com pés de barro do pântano da corrupção brasileira, estaríamos vivenciando uma ficção do mito do eterno retorno, ou em alguns teriam sido reanimados os arquétipos de reis que recebem uma lição de expiação da justiça ao coletivo em Hesíodo, sec. VIII a.C?

Bom, para lição de leitura e crítica, ficam as intertextualidades ao exercício de semântica crítico reflexiva acerca, especialmente, de nosso momento político brasileiro em que os poderes constituídos parecem alcateias e seus conjugados machos alpha mijando sobre a constituição e o povo brasileiro, este que, em algumas manifestações ainda transformam pulhas em mito[mito de amor voltado "a mal amável", clamam por ditadura e acreditam que toda a mídia "requentada" para lembrar Jards Macalé, está com a razão que vai conduzir ovelhinhas cordeiras em sacrifício aos deuses pagãos, violentos, corruptos e fulminadores de quem nada pode sobre o poder da barganha de justiça, poder, dez(ordem) e mando político aplicado.

Se há Pandora, ou algo, algum, alguéns arquetípicos de entornar a jarra de boca larga, há mal bem realizado ao que podemos abrir um comparativo a leituras livres, abertas e fora do juízo horizontalizado  das vênus platinadas que pautam a sociedade que consome a notícia pronta.

Se não há Pandora, bom. Há um mal que se assemelha à proteção de uns, em detrimento do coletivo. E isso é realidade, não é mito. Fora do maniqueísmo de margem estreita, há um obscuro orquestrado e, de caso pensado, definindo rumos nada naturais, do ponto de vista cartesiano, que forja um equilíbrio em avançada dinâmica de desequilíbrio a bens coletivos, e isto não é ficção, é fato, "só não vê, quem não tem nada a ver.", diria Zé Dantas, ator e sonoplasta da cidade.

Eu não tenho como devotar qualquer sentimento de fé e amor para "a Mal amável". Seja Pandora, ou Temer e os seus, não abro qualquer devoção que não seja de caráter cientifico de observação e crítica reflexiva.

E para todos os mesmos efeitos de posição: Fora Temer! Com ecos daqui ao tártaro mais profundo, submundo de Hades.