quarta-feira, 14 de junho de 2017

Pérola rara, ato dramático

Sobre “Raroquerer Haraquiri”
por maneco nascimento

Uma Leitura Dramática, de texto do dramaturgo, poeta, artista plástico e escritor, o piauiense Roberto Muniz Dias, realizada durante o DIGO - II Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero, que ocorreu em Goiânia, Goiás.

A Leitura, do texto-monólogo "Raroquerer Haraquiri", foi realizada pelo ator Rodrigo Unganelli. O ato cênico deu-se no Teatro Centro Cultural UFG.

Do autor,
[A proposta é de apresentação de um monólogo intimista, mas que adentra a magia do processo criativo de um escritor em busca de seu melhor texto. Para isso, vai à sua infância, procurando pela parte mais ingênua e mais sincera. Então, nesta simulação da sua própria vida, vestido de gueixa, Germano vai se (...)] 
(Publicado por Roberto Muniz Dias, em 10 de jun de 2017, no you tube)

Da recepção de um ator,
[Pra começar, o trocadilho muito feliz Raroquerer Haraquiri é uma sacada de aprendiz de feiticeiro, aquele que sempre vai superar o último preceptor. Traz novidade desde o jogo das palavras, mais todo o universo que há nas linhas em si, nas entrelinhas e para além delas em proposta criativa.

Quanto à dramaturgia de cena. Gosto desta terra do escritor, em seus desmanchados de pisar e livros e consoles e vinho e bebidas e a taça de drink e banco (cadeira de sala confessional/divã de casa) que se misturam e um "rio" (MARCA DE TECIDO AZUL) recortando espaço de caminhar das memórias do escritor, enleado pelo sentimento quente, navegado do coração rubro (QUIMONO VERMELHO, segunda pele da personagem) que regurgita o tempo do pensamento que revira as memórias.

Ao figurino: um quimono de kamikasi que desnuda o sujeito do (sepulku/harakiri), na dialética do corte, ruptura, quebra do paradigma, rompimento do interdito. 

Kamikasi, porque leva consigo um coletivo a ser desprezado na "liberdade" de nova vida, novo tempo. A gueixa que escolhe o destino, desvia-se das marcas da tradição em nome da nova edição de novo viver.

Quando a personagem se desnuda vejo um quase jovem deus pan e sua música mágica, ou um sátiro que enleia melodias e distribui-as aos outros, através da flauta presenteada (daí à dialética, ou semântica, que a flauta tome... seria outra recepção).

O intérprete/leitor tem uma natureza imberbe, mas sem a força da gueixa (silenciosa/pragmática/medida em métodos da tradição milenar da cultura Japão), as idiossincrasias do ator, às vezes, (não sei se proposital), sobrepõem a gueixa... mas, se um jovem deus pan aparecer fica na média entre os deuses e os mortais, divinos e mitos e o inconsciente (arquétipos) incorporado às falas do corpo que geram imagens mitológicas, em visitas a mortais.

Algum momento, a pedagogia da imagem da narrativa, fica infantilizado. E, talvez, o neutro, melhor valorizaria ação de leitura textual, mas noutros momentos as falas de corpo definem identidade com o textual.

O ato de vasculhar o "baú de ossinhos", em paráfrase ao "baú de ossos" (O Terno e o Frango, do escritor paulista Joca Oeiras), é de imagem que ilustra bem, haja vista as coisas, os objetos e a mala de memórias aberta e os recolhidos de dentro, as armas de prazer (flauta) e dor/rompimento (punhal).

A morte brechtniana se instala bem e o desaparecimento da "mulher", de lábios pintados, que se esvai na luz em resistência ao black out revela a transição/passagem de sombras à Luz e luz às Sombras das memórias. No piscar ao escuro, um barulho ensurdecedor vai (na obra aberta) gerar a nova Luz já apontada no discurso.

Mas, o essencial, na Leitura Dramática é o texto, é indispensável. As imagens e cenas mais particulares devem ser de desenho mais limpo e sempre coerentes ao discurso das falas do texto, não que haja, na Leitura, essa falha (trágica), mas o mais é o menos e o menos é sempre o mais, na simplicidade.

Mais respostas, só na leitura do texto original, pois que observação a partir de um registro vídeo you tube da performance dramática. 

Ah! a música (Hugo Santos, outro piauiense pancada) é linda e o diálogo com as novas tecnologias, áudio visual, das memórias alter ego, de super valor do si no outro do outro no si, revela bem ao conjunto dramático, abre costura e recompõe capas da cebola dissecada.

Tá bom, ou fugi muito da recepção de observador do ato político e cênico de raras ações, ato dramático, feito "Raroquerer Haraquiri"?

fotos/imagem: (Roberto Muniz Dias)

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