sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Tessitura de fina estampa

"ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos"
por maneco nascimento

Com esse sui generis título, "ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos", Maria das Graças Targino nos apresenta um recorte afiado de experiências, vivências, vida, viagens, trato de letras e memórias de correr, ou decorrer da próprias história.

E se nos apresenta sentimentos, pensamentos, reflexões de natureza humana, sem rodeios, sem falsas palavras ou fartas modéstias. Simples, humana, limpa, límpida e, corajosamente como prova dos nove, numa aritmética de somar dois + dois e só ser quatro, na fuga da licença poética que possa possibilitar outro resultado.

As dores de amores, as ousadias em dores de amores e paixões que afiam viver e "morrer" de paixões e amores também pinçam, pintam, marcam tinta das cores que imprimem impressões e inspiram expressões de dizer o que precisa ser dito e, mal ou bem dito, dizer assim mesmo, à força da verdade que vincule a sincera arma de bem ser real, sincera e se se doer, doa a quem doer, "macktub!"

Senso crítico, textos concisos, precisos, preciosos escritos da boa feita jornalística e de profissão de pedagogia do saber, ir-se construindo à feita de aprender a aprender e apreender novas e velhas experiências afeitas a renovar-se em ser conhecimento e vida em andamento, na dinâmica de sobreviver como aprouver e em seguro, que morreu de velho, assegurar umas boas memórias a serem regurgitadas e. por que não divididas?

Internet, crimes, violações, abusos e evasão de privacidade nas redes sociais, crimes contra a mulher, violência, política, viagens e impressões mundo afora, de cultura, comportamento e modos doutros de virem o mundo, o humano e os lados do homem(genérico), a vida como ela é e como a autora a observa, registra, reporta em comunicação eficaz de boa escritora, jornalista, contista, poeta, mulher, professora, mãe e dona do próprio e livre arbítrio. De opinião, de registrar e informar e formar opinião, como Graça e arte de ser Targino.


"Esses homens que matam ou flagelam mulheres o fazem por sua própria condição de fracassados. Quase sempre, são frustrados, complexados, impotentes (em qualquer acepção) para o amor. São incapazes de suportar o riso solto da mulher, a liberdade de ir e vir, o pensamento que vagueia por onde  a alma alcança, os sonhos que nos levam adiante. Pobres assassinos! Cruéis assassinos! O que não sabem é que as mulheres assassinadas sobrevivem em nós, que ousamos continuar a falar por elas, aos gritos ou no sussurro dos amores que chegam, permanecem para sempre ou partem de repente. As mulheres que se vão continuam em nós."  
(Targino, Maria das Graças. Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos. Teresina: Halley, 2014. 256 p. [As mortas sobrevivem, pags. 52/53])
E até porque ninguém é de ferro, e mesmo que às vezes se perca a vontade de jogar, se resiste, se persiste e mantém-se o jogo da vida e descobre-se que se pode ser metal + precioso, mesmo que a alguns se possa parecer feitio que fingem não enxergar, mas ainda assim luz em reluzente voz de estar no lugar que cunhou às próprias expensas.

E sobre comportamentos, futuro e possibilidades a que o ser humano possa se se permitir, se assim quiser ou puder exprimir o que julgue seu melhor, defende: "Em suma, vivemos a certeza de um presente virtual e, ao mesmo tempo, a incerteza de um futuro de paz. O amanhã depende de cada um de nós, dos deuses ou das bestas que carregamos conosco, porque sobre a consciência dos homens, decididamente, a tecnologia não intervém. Não faz ninguém melhor ou pior." (Idem. [Certeza de presente virtual: Incerteza de futuro de paz, pags. 128/129])

Ou ainda, "Afinal, é preciso ter gravado no coração e na mente: o homem ainda é o centro de todo este viver que cheira a tecnologia, modernidade, avanço e evolução, mas que não pode perder o olor de solidariedade, esperança, carinho e doce amor." (Idem. [Internet: O Bem E O Mal De Mãos Dadas, pags. 130/131/132/133])

Targino detém-se em assuntos que povoam nosso dia a dia, e até já permeiam tempo de banalidades, mas ainda assim muito presentes e fontes de reflexão a quem nunca perdeu a ternura, embora se tenha endurecido um pouco +, visto que a vida nos cobra taxas escorchantes.

"'O verbo matar', em que Drummond discorre sobre os desdobramentos que imprimimos ao verbo matar, mesmo para quem proclama paz, amor e quietude num mundo impregnado de horror a cada esquina (sic) Assim, concordamos com Drummond: as tragédias que povoam os dias de hoje constituem a 'afirmação cotidiana do lado perverso do ser humano.'" (Idem. [Matar: O Lado Perverso Do Ser Humano, 166/167])

Quem é dono da verdade, se há este alguém no diverso de poderes sejam eles podres, ou + assépticos. De sorte é que, parece que a cada dia + se vê instalada a Teoria do Silêncio. Não comunga com o "comum" das conveniências, está fora do círculo das "fadas" e "divinos".

"Trecho atribuído ao autor de telenovelas, romancista e dramaturgo Dias Gomes afirma mais ou menos assim: há quem diga que não é mais época de acreditar em bruxas. Mas, elas ainda existem. Podem ter alterado seu aspecto, da mesma forma que o satanás muda de métodos. Portanto, hoje, é mais difícil combatê-las, porque facetas e métodos são mais e mais diversificados (sic) Resta-lhes entender que, ao contrário das sociedades desenvolvidas, num mundinho pequeno, em que sobram bruxos e bruxas, alguém com experiência e responsabilidade social é travista e jogada de lado. Mas que mundinho é este que ser cidadã ética incomoda?" (Idem. [Síndrome do Ninho Vazio, pags. 229/230])
E, com o "Vestido de Domingo" encerra sua obra de crônicas, relatos, fatos vividos e presenciados à pecha de viver a vida como bem ela lhe pode ser. Repercutindo o poeta, "Somos o que podemos ser" (engenheiros do hawai). Ela esteve, está, vestida para amar e ser quem ela é. E o faz com a sinceridade até de dizer e mostrar a cara  ao tira-teima, porque se fez à Graça de ser mulher que é dos Targinos das terras da Paraíba.

"Assim, hoje, aos 66 anos - idade que jamais pensei alcançar - por uma única razão: sempre me pareceu longínqua e eterna, não sei quem sou. Mulher, mãe, avó, amante, amiga, tia, sogra, cunhada, vizinha. Professora, escritora com livros publicados na área de biblioteconomia e comunicação, contista, cronista (sic) Não sei o que dizer. Olho com orgulho os corajosos que se autorrotulam com adjetivos magníficos e atributos invejáveis. Olho para dentro de mim. Vejo uma mulher que não sabe quem é. Quem sou eu? Uma mulher com alma de criança, que ainda acredita no amor, nos sonhos e no outro. Quem sou eu? Uma mulher sempre com o dedo no gatilho para apontar e apostar em novos caminhos. Quem sou eu? Uma mulher que carrega consigo um saco de sonhos que se sobrepõe a um saco de desilusões (sic) Porém, mais importante do que tudo isso, é que cheguei ao  mundo, vivo e vivi a vida, e já sonho em retornar para finalizar os sonhos que deixei no caminho, inclusive retornar à Missa com o 'vestido de domingo'!" (Idem. Vou À Missa com O Vestido De Domingo, pags. 246 a 253)
Em licença tão poética, não poderia ser + profética, pois pregoeira da própria verdade, sem absolutos editos ou ditames que, em termos bíblicos, as profecias encontram lugar de assento aos que defendem + humanidade e verdade despidas das máscaras sociais e publicanas.

Quem és tu? És aquela que carrega a própria coroa e o peso elevado à simplicidade de depoimentos que não negam quem seja Maria das Graças  Targino. És de estado de Graça e de Targino, que maior honraria ninguém poderia deter. És Graça de ser mulher e contar a própria história orgulhosa e sem riscos de vaidades, ou efigie mergulhada no lago de Narciso, para quem bem entenda de mitos e de suas falhas trágicas.

Já és Maria das Graças e és da Graça de ser Targino, o que não é pouco.

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