terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Amici, amici

amizades em todo aparte
por maneco nascimento

Nesta noite, última, de 26 de dezembro, foi de muitos encontros, de arte, amizade, satisfação em dividir uma boa conversa, rir, trocar figurinhas, falar de assuntos comuns, teatro, cena, direção, texto, beber, brindar e brincar de felicidade desejada, com quem parcerizamos nossas escolhas de, ao uso da expressão corriqueira, "fazer teatro".

Noite em três doses culturais. O Boca da Noite Extraordinário, que aconteceu na Galeria de Arte do Club dos Diários "Nonato Oliveira" e reuniu a Banda Raiz do Sertão, o DJ JoAo Meireles e a apresentação da performance do querido amigo Dan Martins, "A Volta de Carmem Miranda" (resultado de disciplina no Curso de Teatro que desenvolve na UniRio).

Como o assunto é amizade, vamos ao tema. Há alguns anos atrás, fui convidado pelo então diretor da Escola Técnica Estadual de Teatro "Gomes Campos", o dramaturgo Aci Campelo, para compor comissão de avaliação a pretendentes a uma vaga na Escola. Entre os candidatos havia um jovem, adolescente maior, que viera do interior do estado, ao sul do Piauí, para fazer Teatro em Teresina.

(nós, por Roberto Muniz Dias)

Sua história, ouvida na preleção, era original. Sempre quis ser artista e o teatro era sua escolha. Então, resolveu bater malas rumo à capital e veio ficar na casa de primos. Se inscreveu ao teste da Escola e desempenhou sua cena. Havia não só coragem, ímpeto de artista à cena, mas uma determinação que o definia para a escolha. E sua atuação já era boa. Fiquei comovido, à época, com aquele jovem artista.

Anos, não muitos, + tarde o encontro atuando e aquele ator me chamou a atenção. No encontro ele me contou sua história e eu descubro que tive uma insignificante participação nela. Lá atrás, quando ele ingressara na Escola "Gomes Campos". Nos tornamos amigos e até dividimos algumas tarefas de práxis comum. Dirigiu um filme, de memórias, em sua cidade natal e eu estava lá, participando de seu filme.

Ele foi pro Rio. Queria se profissionalizar na academia e ingressou na UniRio. Agora, nesse dezembro, ele de férias, presenteou-nos com um resultado de sala de aula. O mesmo homem, daquela juvenilidade e arroubo de certezas que eu via nos trabalhos, em que nos encontramos, fosse infantil, adulto, comédia, cinema, etc.

Só que desta vez ele vem com assinatura de acadêmico de teatro, com performance imergida em obra de Marcelino Freire, autor de livros "Angu de Sangue" (2000), "Balé Ralé" (2003), de onde se extrai o conto "A volta de Carmem Miranda", objeto de estudo, adaptação e energia dramática apresentada em Teresina.

O José Dantas, quando chegou a Teresina, virou Dan Martins para sair da concorrência com outro Zé Dantas (ator e sonoplasta de teatro). E, agora esse Dan Martins apresentou na Galeria de Artes "Nonato Oliveira" o seu olhar e de um colega de sala de aula para "A volta de Carmem Miranda". As falas do autor, as vozes sociais dos escritos sobre a ausência marcelinofreireano.

Dan se mostra sem falhas trágicas, nem desvio. Não há falsa moral, há acuidade em fidelizar o autor, adaptado ao exercício, e uma compreensão do que se se discute e se quer trazer à baila. As perguntas que soam tinir respostas em quem as ouça.

Sincero, (in)discreto provocador, concentrado na linguagem e no método de exploração do drama solicitado. Inflexiona bem as razões da(s) personagem(ns), tem projeção limpa e verdade de cena para "constranger" os incautos e, ou os que corram por fora do "boca escancarada" que defende liberdade.

Sempre uma dignidade em cena e solidariedade para dividir arte, ao interpelar um colega (Vitorino Rodrigues) que faz as vezes do duplo, eco, reverbero das próprias vozes que regurgitam "o mundo (des) encantado de Marcelino Freire" (escritossobreaausencia.wordpress.com//www.erodito.blogspot.com/ jun. 2. 2010).

" (...) por todas as bichas debochadas e que ferem nosso cotidiano comum e certinho com seu linguajar esdrúxulo e próprio (...)" (Idem).

Parabéns ao Dan Martins e Vitorino Rodrigues que se nos apresentaram lâmina afiada que corta e deixa marca, com sabor de sangue, para regurgito posterior, no silêncio de nossas zonas de conforto.

Na mesma noite, como conluio de teatral, conheci outro amigo de Teatro. Ator, autor (romancista, contista, poeta), dramaturgo, artista plástico e apaixonado pela arte dramática, assim como eu, Dan, Vitorino, Marcelo Rêgo Filho, Francisco de Castro, Silmara Silva, Adriano Abreu, João Vasconcelos, Lourdes Vasconcelos, Reijane Telma Dias. Ele, Roberto Muniz Dias. Natural de Teresina, radicado em Brasília. Escritor de prosa, poesia e textos dramáticos.

(nós, por Roberto Muniz Dias)

Ao assistir a uma leitura dramática, dirigida por Silmara Silva, atriz e diretora e componente do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, através do Projeto Ciclo de Leituras Dramáticas, senti que estava deliberadamente envolvido pelos escritos de presenças apresentadas, por Roberto, à expiação da recepção pública,

"Uma cama quebrada" me deixou ocupante daquela parte e objeto doméstico da casa de uma relação homoafetiva, explorada às memórias de um triângulo de cuecas, mergulhadas nas afeições, sonhos e fantasias de três de espadas. Texto definitivo, contundente, simples em complexo de imersão na beleza e no outro lado do espelho, ou retrato que também revela marcas da natureza humana e suas falhas trágicas.

Conhecer a obra gerava a necessidade de conhecer o autor da obra que traz três personagens em busca de um autor da felicidade e que um, dentre os doisotros, amplia o diálogo com o Galo Colorido (alter ego/lenda portuguesa Galo de Barcelos na esteira deus Ex-machine) cultivado, às vezes das tintas, e que este revela-se um retrato às pequenas maldições, ou o lacaio acompanhante do César, para lembrar ao imperador que não era Deus.

Roberto Muniz surpreende com boa escrita, densa, afetiva, sem rodeios, esclarecedora e conflitante (conflito gera mudança) à feição de discutir  problemas à nossa porta e em busca de soluções, no confronto, de germinar identidades afirmativas, na diversidade que se nos são sempre humanas.

Sua dramaturgia in texto, em dobradinha com a dramaturgia de cena de Silmara Silva, gerou um terceiro elemento: o teatro do universo que conspira arte presente, viva e em pulsação com o mundo em nosso derredor. "Uma cama quebrada" é um luxo de inspiração em big bang na expansão da verdade épica para Brecht e outros sinais em fuga do teatro morto.

E, olha quem está flertando uma amizade comigo? Roberto Muniz Dias. Dois presentes, dois amigos (Dan e Muniz) e os parceiros com quem divido ser teatro, KK, Sil, Adri, Vivi, Marks, Marcelo, JoVasc, Lourdes, Rê.

(nós, por Júnior Marks)

Quando o universo conspira, Macktub! A sorte está lançada e vencemos nós. Salve, Simpatia!

Viva a Amizade!

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