domingo, 28 de agosto de 2016

Cinco em umas

"Efeméride" expiada
por maneco anscimento

Numa parceria do Teatro Municipal de Porto Porto) e o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo (Cabo Verde – África), o FestLuso 2016 – Ano Júlio Romão, recebeu para o palco do Theatro 4 de Setembro, na noite do dia 26 de agosto, às 20h30, uma cena portolense/caboverdeana que repercutiu três vidas “presas”, numa sala de espera de aeroporto, enquanto recebem liberação para entrar no EUA.

A "efeméride" expiada, na licença poética de uma sala, sem nacionalidade, de um aeroporto internacional americano afirma dramaturgia literária da pecha de José Luis Peixoto (Portugal), com direcção e encenação de João Branco (Cabo Verde) e a ação performance realista, em suspensão lúdico coloquial, direcionadas às “Estrangeiras”  Francisca Lima (Portugal); Janaina Alves (Brasil) e Silvia Lima (Cabo Verde).
(elenco e director/encenador de Estrangeirs/fotos: J. Branco)

Três braços linguisticos de raiz afim, vindos de partes distintas do mundo lusófono, dividem tempo e espaço, no compasso de espera, na expectativa de receberem passagem livre da polícia de fronteira e poderem seguir rumo, em terras americanas, adentro.
O forçoso encontro entre as três mulheres acaba revelando as idiossincrasias e vias de escape e defesa das personagens de muito + coisas aproximadas que o traço lingüístico.

Numa metalinguagem o autor reúne três intérpretes de tronco comum latino português, vindas de sítios geopolíticos diferentes e, três personagens, na busca de um auto enredo de sobrevivência em terras estrangeiras.

Num gracejo de imbricar discurso das personagens na narrativa de desvelar as próprias sortes ali expiadas, coloca vozes na boca das intérpretes, que têm em comum o mesmo espaço geográfico diaspórico das personagens, Portugal, Brasil e Cabo Verde, respectivamente. À medida que as circunstâncias provocadoras vão surgindo, as emigrantes seguem revelando a porção serpente.

A cenografia, uma óbvia sala de espera, fechada, de paredes (neutras ao branco), com a porta trancada, e disposição de cadeiras, nos extremos do metro quadrado do espaço indiferente, desenhando o mapa de área de atuação das, presas, acuadas.

A luz (desenho de Luz João Branco) neutra, acompanha a impessoalidade do ambiente e, revela o ansioso da espera das personagens, no momento em que aquece o subjetivo da angustiosa demora de solução, ao refletir uma aproximação de algum sinal de presença, pelo lado de fora da porta.

A música original, de Caio Terra (Brasil), também corrobora aos expressivos de expectativas de espera e quebra do terreno “vulgar” das domesticidades ali aprisionadas e abrir alegria e ligeirismos de ilustração das personagens e, ou marcas de identidades ladinas, das pessoas comuns e mortais, que atritam as feras enjaulas às próprias existências postas na paleta de curiosidades.

Os figurinos, de Janaína Alves, gesticulam ao habitual das identidades das personagens, sem virtuosismos de fuga do real.

A personagem brasileira, ao contrário do comedido de comportamento proposto pela criação, às outras duas estrangeiras, ressalta uma presença recorrente de moda das franjas sociais brasis que, descida das periferias, ganhou o asfalto e virou expressivo de livre contumaz dos shortinhos, extra curtos, e blusas sobrepostas, reveladores de formas modelo exploração sensual e aceno de ascensão de interesse masculino da marca “piriguete” de vestir.

Presença marcante de Janaina Alves gera uma brasileira (da ficção dramática) ousada, descolada, boca de frasqueira paraguaia e da pá emborcada, seja nas tiradas insutis e de cicuta discreta despejada na apimentada salada, sem rúcula, servida no banquete das imigrantes.

A brasileira, de composição, que se nos é apresentada, fica na média da garota sem Ipanema, nem Leblon, mas de exportação para encanto de turista, ou numa visão + rígida de sobreposição de gênero enviesada, uma provocadora, em potencial, de violência, moral ou alhures. Gracejada ao apelo do riso, detém no “cavalo” da personagem um “timing” de carisma à platéia do gargarejo.
   
As outras duas intérpretes (Francisca Lima e Silvia Lima) afiam o triângulo das lusófonas e ficam na média de PhD 6.98,99, seja à composição de tipos, seja às tiradas de construção frasal inflexional de paradigma das naturezas modelares do teatro que lhes chegou como forma criativa.

A dramaturgia de cena, confeccionada por João Branco, não é desafiadora, nem ressalta novidades, pois não parece querer ser modelo de pólvora chinesa. É de encenação afiançada no real risonho, nas fórmulas naturais de maneirismos dramático cômicos de comunicar, pela facilidade do entendimento que coloquialize a ação que chega imediata à recepção.

A "efeméride" dramática, atrelada na linha discursiva do gênero dramático textual literário, que afia crítica em ressalto de preconceitos, problematizações e contraditórios sócio culturais, apega-se na distância e proximidade geopolíticas e nacionalidades lingüísticas discursivas, de conflitos femininos. Guarda o esforço para gestão de cena peculiar do riso e peculiar de dramaturgia horizontal e de fácil escolho para linguagem de reflexivo, a partir do riso.

Corrobora com o mapa textual que aproxima mulheres comuns, numa DR coletiva de identidade de gênero, em intertextual com os outros gêneros dramáticos intrínsecos na construção dramatúrgica, que coexistem na cartografia de qualquer cena criada.

Cinco vozes, em umas, ao uno das falas de dramaturgia prospectada (José Luis Peixoto, João Branco, Janaina Alves, Francisca Lima e Silvia Lima), “Estrangeiras” não pede muito esforço para ganhar a recepção, nem suscita reflexão cabeção, também não perde práxis de emitir parecer teatral, em foco à linguagem de comédia moderna, com ligeirismos estético coloquiais ao bom riso.

fotos/imagens: (João Branco)

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