domingo, 11 de outubro de 2015

Todo mundo mora onde?

no Dirceu
por maneco nascimento

A noite do dia 09 de outubro foi também de pré-estreia do filme "Todo Mundo Mora no Dirceu", de Franklin Pires.

A partir das 20 horas, o diretor do filme, Pires, recepcionou os convidados. Era uma noite para convidados, amigos, elenco e quem + viesse nesse primeiro momento.

E falou da experiência de + uma ousadia na área de áudio visual. Lembrou de "Corpúsculo"; "Mocambinho" e que o atual empreendimento era "mais um erro. Ia continuar errando" e lançava àquela noite seu novo projeto.


(elenco, diretor do filme, Pires, e Secretário de Cultura, Fábio Novo/foto disp. mvl. m. nascimento)

Em seguida, chamou às falas o Secretário de Estado de Cultura do Piauí, Fábio Novo, para deixar suas impressões à ocasião. Aproveitou, Pires, para provocar o Secretário a respeito de mudanças que deveriam ser implementadas na Lei de Incentivo Estadual à Cultura - SIEC.

Considerou, o ator e diretor de teatro e cinema, que houvesse uma melhor distribuição de recurso, por cotas de linguagem de arte, para beneficiar com equidade a divisão do bolo, haja vista os pequenos projetos concorrerem com grandes eventos, micarinas, micaretas, etc., e acabarem perdendo espaço na confirmação de inclusão em reporte de recursos.

Fábio Novo lembrou que já há um sinal de melhor distribuição de recursos investidos, numa ação de editoração de literatura piauiense. Que a Academia Piauiense de Letras estaria capitaneando edições de livros, através de recursos do SIEC.

Lembrou também, o Secretário, de investimentos em equipamentos culturais que começam a, efetivamente, serem vistos. Testemunhou de como estava o Teatro Maria Bonita, em Floriano, quando visitou-o em maio deste ano e que, nesse momento, a Casa já dispõe de infra estrutura que o traz de volta ao circuito de espetáculos. E que o Maria Bonita detém, como o Theatro 4 de Setembro, equipamento de som e luz,  poltronas e climatização para receber espetáculos que circulem por Teresina e também possam chegar naquela cidade.

Acredita, Novo, que os esforços da Secult e Governo do Estado serão para equipar também outras Casas de cultura estaduais, em municípios que também fiquem inclusos na passagem de companhias de teatro e outras ações artísticas, bem como os Projetos culturais da pasta do estado. Finalizadas as palavras oficiais, Franklin convidou o público a assistir "Todo Mundo Mora no Dirceu".

O filme começa ardente, com imagens cotidianas do bairro que nomeia a fita e segue para fechar na comezinha vida da personagem central do enredo, Dirceu e suas idiossincrasias. A família e as convivências que compõem a narrativa dinâmica, humorada e atabalhoada dão ao "Todo Mundo Mora no Dirceu" uma graça e impulso ao gargarejo natural à recepção de se ver representada nas personagens e falas cotidianas de Dirceu (Franklin Pires), ou sua Mãe (Edithe Rosa), Saracutiana (Zé Karlos di Santis).

Também desfilam pela fita, com muita competência, o casal em desacordo, composto por Alinie Moura (a mocinha, Nina) e Bruno Lima (o bandido romântico das periferias, Toião); Amauri Jucá, numa passagem curta, mas bem divertida, para uma reprodução do caronista de bicicleta; Whindersson Nunes (o traficante Mambirão).

Stela Simpson e Linda Danilo França são personagens do público de espetáculo apresentado no Teatro do Dirceu/JPII; Lene Silva (como a prostituta do ponto) e um corolário de participações, Zezinho Ferreira, o lojista do pedaço; João Vasconcelos, como um bêbado hilário; Júnior Silva, o aprendiz de traficante; Júnior Marks, como farmacista; Gleyciane Sisley (diretora da clínica de reabilitação); Alex Zantelli (o modelo do comercial Personalitex) e a presença poderosa de Wilson Gomes, a balconista para a comédia dos erros, entre outros risos programados no roteiro franklinpireano.

O filme tem uma força de atração, a partir das imagens corriqueiras do bairro e a sonorização catapulta (músicas interpretadas por Lene Silva e Franklin Pires e outros sons) a energia positiva do filme. Músicas românticas, nalguns momentos, e outras bem energéticas ilustram a vida quente do filme.

Entre as "falhas" trágicas, que não podem ser aliviadas, na composição final do filme, registre-se o fato de alguns atores não terem conseguido dublar as próprias vozes na narrativa. Gera uma certa estranheza, a quem conhece os atores da cidade, que fazem parte da trama, virem suas vozes serem encobertas pelas de outros colegas de cena.

Mas o filme discute assunto pontual, a negação/aceitação de identidade; drogas e dependência química; o poder de influência midiática e convencimento do milagre da mudança, através do uso de medicamentos experimentais e, especialmente, as periferias comuns e simples das franjas sociais, que compõem qualquer rincão desse continente chamado Brasis.

O roteiro de Franklin Pires opta pelo humor e riso histriônico à escatologia das naturezas humanas e, leva de passagem, à ilustração de sua história, uma aproximação com o cinema da grande indústria, ao aparelhar sua narrativa que transforma a personagem central, numa média "tupy or not tupy" do "O médico e o monstro", às avessas licenciadas ao cinema local.

Comédia de humor romântica em que tudo acaba bem, quando tudo está bem. O casal conspirado para ficar junto, o protagonista (Dirceu) e a mocinha (Nina) terminam juntos e felizes até que o tempo diga que não. São purgadas as culpas, as dívidas sociais pagas e a vidinha de Dirceu, e dos seus, segue bem.

"Todo Mundo Mora no Dirceu" valoriza o bairro e suas composições de periferia inchada, mas vivaz de vida e natureza humana diversa. E valoriza, especialmente, o discurso social de exclusão e redenção à melhor sorte, como requer folhetins e cinema romantizados. As falas de gentes comuns experimentam trazer, na forma de arte audiovisual, as vozes sociais de identidade local e pertencimentos de gente como a gente é. Nisso Pires acerta +.

Não consegue, ainda, ser um "Mocambinho" e fica difícil não cumprir comparações. "Todo Mundo Mora no Dirceu" é fato, fez carreira de pré-estreia na noite do dia 09 de outubro e seguiu em temporada, de dois dias, à entrada comercial, nos dias 10 e 11 de outubro de 2015, no telão do Theatro 4 de Setembro.

"Todo Mundo Mora no Dirceu" está para ser visto e o público que acorreu ao Theatro é a prova viva disso. Depois, deve ser digerido, ou vomitado, aceito ou negado na confirmação do Complexo de Nazaré.

Franklin Pires sabe o que está querendo com suas empreitadas. Consegue manter carisma, atração teen e converte em arte, mesmo que lhe torçam o nariz, seus projetos sejam de audiovisual ou teatro e musicais. Tem marca, nome e empresa ousadia de viver sua arte.

Então, certifique-se ou cumpra-se ordem de despejo, como lhe aprouver a recepção. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário