sábado, 29 de agosto de 2015

Marionetas sem tradução

teatro de bonecos de Macau
por maneco nascimento

Elisa Vilaça, a pesquisadora da linguagem na Ásia; contadora narradora da história dramatizada; personagem manipuladora dos títeres e, mágica que sopra vida animada nos surpreendentes bonecos, nas marionetas de Macau, na China, presenteou a cidade e o FestLuso, com seu encanto fabular de "O rouxinol e o imperador", montagem da Elisa Vilaça - Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau/Macau - China.

"O rouxinol e o imperador" se apresentou, extraordinariamente, às 10 horas, nesta manhã do dia 29 de agosto (sábado), no Teatro do Boi/Matadouro.


 O FEstLuso  - Teatro do Boi - ficou para a agenda dos espetáculos às 18h30, mas neste dia, especialmente, a pauta se instalou no horário da manhã e o excelente público, entre convidados lusófonos, artistas da cidade, crianças e pais e público da comunidade, deixou a plateia consistente e atenta às marionetas de Macau.

O espetáculo está para texto de Hans Christian Andersen, com Direcção Artística e Plástica de Elisa Vilaça. A mágica de títeres asiáticos também assina a Criação, Construção das Marionetas e Figurinos. São 35 minutos de feliz e mágico mundo animado chinês das marionetas.

Para quem não perdeu a palestra acerca do Projeto Vozes da Terra - "As marionetas asiáticas - raízes culturais", que ocorreu na manhã do dia 26 de agosto, quarta feira, às 10 horas, no Theatro 4 de Setembro, soube confirmar, comparar, in loco, a técnica e beleza cênicas, de manipulação de marionetes, em narrativa ao vivo, do que ela falou durante a comunicação, acerca da pesquisa que desenvolveu, por quinze anos, sobre a linguagem.

Bonecos de vara, de manipulação direta, de varas horizontais nas costas dos bonecos/personagem, bonecos de sombra e bonecos de fios. Figurinos e personagens, construídos pela pedagoga, artistas, atriz e manipuladora de marionetas, foram conferidos e lembrados nos exemplos contidos na excelente aula painel que se teve no dia 26, durante o Lusófono.

Da peça, a revisitação da tradição dos bonecos asiáticos, com sua cultura musical de paz e tranquilidade; sonoridades dinâmicas e orquestrais de sons e tambores de pertencimento cultural; de cores; tecidos, máscaras felizes; comedimento de gestos e valoração de fauna, flora e mitos de tradição e hierarquias de reinos dos contos fabulares.

A atriz gera um método de narradora, contadora de história que à frente do espaço da cena explica e lê a fábula do livro, na quebra da quarta parede e entra no mundo espetáculo para ser partícipe, contar e manipular as personagens do enredo. 

Entra e sai da magia do espetáculo para interagir, especialmente com o pequeno público, haja vista a classificação ser a partir de 4 anos de idade. Sua tranquilidade, suavidade e economia em traduzir a história, a seu público, já é um dos ótimos momentos do espetáculo. Os silêncios e comedimentos da cultura asiáticos enleiam e transferem a assistência para dentro do universo das magias e coloridos.

O idílio da cenografia e bichos e aves e insetos e gentes e pompas e circunstâncias e os "monstros", dragões, lendários e coloridos abrem as portas a estar na vida da história. A manipulação a sublime efeitos de imagens à borboleta, o pássaro, os empregados do palácio e serviçais, a criança, a mulher do imperador, o chefe do gabinete real, o guarda e o mensageiro e a própria imponência suave do Imperador e seu trono.

A manipuladora vai montando a cena, animando o mundo dos seres vivos e abre a caixa de surpresa, que se transforma em livros e de dentro da caixa/livros, dispostos à composição da cena, surge a pessoa do Imperador, em seu posto de vigília do reino, seu trono.

Um libelo de beleza rara de plástica, estética de linguagem e sonoridades que segundo material do espetáculo repercutem "um conjunto de temas musicais que passam pelo clássico ao fado português, não esquecendo a música chinesa, nos permite atravessar continentes." A voz do rouxinol pareceu ser um chorinho tradicional brasileiro com suas nuances alegres e ligeiras.

Há um deleite de belo e plástico em todo o corpo composicional do espetáculo. Cenas do cotidiano doméstico do palácio, das vidas diárias dos povoadores do drama. Soluções práticas e visíveis à linguagem são aplicadas pela manipuladora, que mantém a atriz jamais invisível, uma extensão da vida da marioneta, visto que seu corpo completa a energia vital do boneco e gera graça e beleza de encher os olhos. 

Elisa Vilaça, em seu ato tranquilo e de paixão pelo teatro, técnica e linguagem de magia de títeres nos apresentou um encantador exemplo de Vozes da Terra nas raízes culturais transversalizadas de nações asiáticas e europeias e dialogou com a recepção do público Lusófono, na manhã do FestLuso, no Teatro do Boi.

Parabéns à Elisa Vilaça - Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau, de Macau, China, que nos deixou uma lição de amor ao teatro, sem tradução, em seus tempos de silêncios, músicas e sonoridades característicos, costumes, imaginário popular e do "impossível" das tradições chinesas, feitos arte dramática. 

Sem uma palavra sequer. As imagens, gestos, sons e vidas animadas são a própria fala, as vozes sociais visitadas e em visita à Cena Lusófona.

Numa palavra: Belo. "O rouxinol e o imperador" uma canção de amor à cena de marionetas.

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