segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Callas ou não Callas

eis a encenação.
por maneco nascimento

Baseado em livre e reservada vida, a de fora da mass media, viu-se em Teresina, por dois dias, 14 e 15 de agosto (sexta e sábado), no Theatro 4 de Setembro, o espetáculo "CALLAS", vendido assim mesmo em caixa alta. 

Montagem, com produção de Fernando Duarte, que também assina o texto adaptado para a encenação de uma Maria Callas, em revelações de seu mundo que, até chegarem ao domínio público, só as biografias detinham.

Numa metalinguagem, o jornalista amigo da cantora lírica entrevista-a ao recebê-la, em dia anterior à abertura de Exposição, qual estará aberta à visitação pública. 

E, no  espaço dramático da narrativa de metateatro, à medida que a artista é entrevistada pelo amigo, também vai imergindo na própria vida e vestindo as memórias de segunda pele e revivendo seu tempo de glamour e celebridade festejada.

(a intérprete e a diretora para CALLAS/reprodução)

Marília Pêra, a diretora e mestra de dramaturgias regurgitadas e facilitadas ao longo da carreira de grande atriz do teatro brasileiro, é também realizadora da cena forte, por vezes, limpa, eficiente e que descola a atriz de seu pedestal de selfide do pantheon de divindades da vênus platinada e a transfere ao status de egressa da lição de cor, da escolástica inicial do palco e suas magias de persuasão e práxis do fingimento.

O espetáculo CALLAS tem uma entrada neutra, quase à prática de televisão e seus truques de plasticizar os dramas microfonados e de  ações reduzidas a planos de escola americana, mas não se enganem.

A grande Pêra neutraliza o primeiro momento do espetáculo que é + uma entrevista, propriamente, de perguntas e respostas e, quando chega o tempo das reais memórias afetivas da personagem, na pele da atriz Silvia Pfeifer, então há o grande ganho de dramaturga de cena e da aprendiz de feiticeira.

Silvia Pfeifer consegue render drama limpo e corpo que fala emoções e sentimentos ascendentes às memórias acionadas e personificadas aos dramas particulares da Diva, trazidos à tona pela intérprete em boa compreensão da construção da personagem, que lhe foi posta à prova.

A provocação na artista Silvia impulsionou um salto do grau de modelo e atriz de televisão à nereida do mar das divindades de palcos e cenas.

Cenário e adereços clean, a quase kit reinventado. Luz de ambiente a não perder o habituè e os vestidos em exposição que repercutem as memórias sociais de festas, encontros ou representações de espetáculos em que a artista cunhou à própria história o mito daquela que dividiu a Ópera entre o antes e depois de Maria Callas.

A personagem veste "peças" do cenário, enquanto encaminha o enredo e vai desnudando segredos a cada vestir e retirar de uma de suas segundas peles sociais. A intérprete troca de pele com tranquilidade medida à ação e tempo de desvencilhar a memória.

(Callas é Pfeifer e Silvia é Callas/reprodução)

A cenografia viva e interativa vem, de reforço à narrativa, com as projeções de imagens e filmes da atriz cantora de ópera. As eferências sugeridas no texto  ganham ilustração pontual na iconografia projetada.

O que há de + atraente e que vende o espetáculo é uma direção de acuidade comprometida, de Marília Pêra, que tira o espetáculo do lugar comum e em franca fuga do caça níquel.

(arte divulgação de CALLAS/reprodução)

Ninguém se torna Marília Pêra impunemente, e a diretora sabe disso. Logo, eficientiza teatro que traz de seu próprio histórico de atuação e direção e assegura vida cênica qualificada e de domínio da técnica decantada à razão e sensibilidade dramáticas.

A outra boa atração é Silvia Pfeifer que dá o recado e prova que ser atriz está, sem romantismo ou negação da mass media, em vencer os próprios tiques, para lembrar João Bosco, daqueles que aparecem em manias transformadas das vaidades aquecidas pelos aduladores de plantão.

(elenco e Estrelas de e para Callas/reprodução)

CALLAS de Pêra e Pfeifer, para texto de Fernando Duarte, é Maria Callas, é humana e é teatro a ser apreciado. Recomendável para amantes da Diva e das estrelas que a compõem ao histórico do teatro brasileiro de boa monta.


Callas ou não Callas. É Ópera, sem libreto, da natureza humana e artística. 
É teatro e arte de ganhar boa recepção.

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