sábado, 22 de agosto de 2015

Art'Palco

e su'A Poção do Amor
por maneco nascimento


Pássaros e aves que (po)voam pela floresta amazônica, ou habitam em licença poética o cenário da narrativa de "A Poção do Amor", espetáculo de Araguaína, do Tocantins, visto no começo de noite do dia 19 de agosto, a partir das 18 horas, no Theatro 4 de Setembro. O horário da apresentação, confortável, + eficiente que os pautados, às 9h, ou às 15h, que têm circulado por Teresina.

Nesse hora das 6 da tarde, + fácil de aglutinar público comerciário; transeuntes; estudantes saídos do turno da tarde; os agendados que estudem pela manhã e tenham sido coptados a irem ao Theatro ver teatro; artistas e simpatizantes da arte do fingimento e aqueles que acreditem que ver teatro é lição viva de ensino aprendizagem prático.

Mas naquela apresentação de peça do Tocantins, o público era pequeno.

Da peça, as personagens vividas por atores e atrizes, pássaros e aves às cores e correspondências de figurinos pragmáticos. Uma pombinha, uma maritaca, o uirapuru, o carcará (Dr. Carcará) e o urubu. Esses bichos contam e cantam a história de paixões, disputas, feitiçarias nativas, encontros e desencontros do amor e final feliz aos mocinho(a)s.

(a Maritaca/foto Marcos Montelo)

O cenário prático e elementar. Um armário (arara) estilizado, que ao ser movido transforma-se em floresta e, contextualizado, o laboratório do feiticeiro da tribos de bichos de penas, Dr. Carcará, e seu caldeirão de bruxarias xamãs.

Os figurinos base, aos intérpretes, em cores que variam ao branco (Pombinha); verde (Maritaca); amarelo (Uirapuru), entre marrom, cinza e preto aos vilões, Dr. Carcará "o feiticeiro mau da floresta" e o "ganancioso e atrapalhado" Urubu.


(Uirapuru, Dr. Carcará e a Maritaca/fotos Marcos Montelo)

Do armário/arara, com teto de ramos e folhagens, são sacados pelos atores e atrizes os adereços que compõem os animais (asas à base de tecido, adequadas aos braços, os bicos e cristas). A fábula contemporânea adapta falas e vozes sociais às peles(penas) de aves e pássaros e moraliza a lição de convivência e sociabilidades pedagógicas no texto que enreda o drama e a trama de "A Poção do Amor".

(o Uirapuru com A Poção do Amor em mãos/fotos M. Montelo)

Espetáculo de direcionamento a público infantil, ou infanto juvenil, traduz para linguagem de comédia dos erros e dialoga para discurso pedagógico de vencer o mau com a força do amor, amizade e companheirismo à definição do bem sobre a falha do bicho, com voz e discurso humano.

(a Pombinha[presa], a Maritaca, o Urubu, o Uirapu e Dr. Carcará/fotos M. Montelo)

Duas observações aos autores criadores dos diálogos e discurso de falas e oralidades que alinhavam a narrativa de "A Poção do Amor".

No início do espetáculo ou até que ele engate a compreensão e solidariedade de desenvoltura da trama, os colegas das florestas praticam certo "bullyng" com Urubu, que detém um déficit de compreensão e desagilidade para acompanhar a dinâmica dos outros bichos.

(maldades e magias no laboratório de Dr. Carcará/fotos M. Montelo)

Espetáculo para atingir crianças e envolvê-las na fábula, uma "pedagogia" de restringir, ou discriminar o colega, perde a força educativa de "fabulosa história cheia de magia" e o princípio de didática moral da fábula fica enviesado, nesses dias de políticas sócio inclusivas.  

(o Urubu com a Poção do Amor/fotos M. Montelo)

Outra falha trágica do discurso, politicamente incorreto, ocorre em dois momentos perto do fim do espetáculo. Quando o bem vence o "mau", o Dr. Carcará vítima da própria magia invertida é transformado em sapo e uma das personagens o chama de "sapo nojento" e o joga no caldeirão. E, no finzinho mesmo da historinha, outra personagem repete o discurso e lembra do "sapo nojento".

Bom, um sapo jamais será nojento, embora possa causar certo desconforto em algumas pessoas. Mas é um animal natural de qualquer floresta e responsável pelo controle de insetos, ao se alimentar destes. Um sapo da Amazônia é só + um bicho em seu habitat natural, sujeito a viver tranquilamente, ou ser sacado pelo destino da lei natural de sobrevivência, mas não um bicho nojento.

A fábula tocantinense, contextualizada na selva amazônica, ou quintal de brincadeiras de crianças que vivem a vida de bichos de penas, peca no discurso que pode parecer ingênuo ao não perceber que forma opinião que nega a fábula afirmativa. 

Cuidar para melhorar o discurso e deixá-lo + educativo e menos excludente poderá dar um maior ganho à peça que encanta no desenvolto do elenco que canta e dança sua fórmula fabular à persuasão de público infantil.

(a comédia dos erros na tentativa da maldade/fotos M. Montelo)

"A Poção do Amor", do Art'Palco, de Araguaína, no Tocantins, guarda uma energia boa, uma alegria para aproximar plateias de crianças, de qualquer idade, e guarda na manga, músicas e coreografias defendidas pelas personagens e que tornam a montagem num misto de musical e enredo de narrativa de dialogismo cênico tradicional.

Cinco atores e quatro músicos vendem a peça. Os músicos elaboram efeitos e sonoridades, ao vivo, e dão uma dinâmica alegre e circense à história.

As música autorais que cosem as ações também têm papel de importância composicional de estética aplicada à linguagem musical. Fica na média de acerto.

Fora os deslizes de  discurso inadequado para fábula infanto juvenil, todo o restante da peça é para aves, pássaros, gentes em vezes de bichos da Amazônia, ou outra qualquer floresta, e são de natureza legal.

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