sexta-feira, 12 de junho de 2015

Encarnado tempo

"Vermelho"
por maneco nascimento

A programação do Junta edição#1- Festival de Dança Contemporânea, ao dia 11 de junho, trouxe à Galeria do Club dos Diários, a partir das 19 horas, a primeira atração da noite no Complexo Cultural, o espetáculo performance instalação solo, "Vermelho", conjecturado por Cleyde Silva, de Teresina, Piauí. 

Uma hora de instalação performance em que a artista criadora, nua, varia na economia de movimento, a minimais efeitos, de circular, em gradação de  ocupação de espaço, ao eixo anti-horário, e volta ao começo do tempo de partida.

A cenografia da manifestação da artista, uma semicaixa (três lado fechados), preenchida por balões vermelhos, estimulados a movimentar-se pela força de ventiladores à margem, abertura da boca de cena, do espaço de performance, na esquerda e direita. Luzes vermelhas aquecem o interior da projetada área de cena e complementam-se com as bexigas carmins.

Da esquerda, boca da semicaixa, a artista se desloca, leve, compassada, nas vagas dos silêncios, até percorrer o fundo de cena e, numa licença poética da força do vento sobre os balões, ser recoberta por estes. Submersa no monte de balões, ela lentamente ressurge para retomar o início da variação sobre o mesmo tema.

Cleyde Silva detém uma energia, concentrada do corpo em pelos, sobre um salto alto. Neutraliza qualquer outra atenção que não direcionada à sutileza da repetição da repetição do movimento mínimo e com deslocamento preciso. (Des)cansa nas pausas do movimento e partitura a geografia do espaço e corpo deslocados.

Frente esquerda, ponto de vista da plateia; centro; fundo; fundo esquerdo da semicaixa, onde se mimetiza com os balões. Ela emerge da montanha de balões encarnados e, à marca de início, reproduz a leveza dramática e neutra de repetir.

Esforço minimizado, controle de energia e domínio da exaustão física parecem exercício de intransitivar ação cênica em "Vermelho". Cleyde cumpre ritual cartesiano de concentrar forças e equilibrar dramaticidade neutralizada.

Volatiza matéria inteira em átomo do corpo que coreografa influxo de atração, quer seja ao corpo distanciado da artista criadora, quer seja ao motocontínuo de desaceleração da força motriz do corpo, em descanso forçado, ou deslocamentos econômicos que, em determinados momentos, quer gerar a ilusão do falso pulo da matéria aquecida em ocupação de novo espaço.

A performance extrai, da recepção, uma natural atenção para permanecer no silêncio e vácuo da ação silenciosa imposta, ou romper a interação com o próprio tempo de receber a atuação de desempenho determinado da intérprete criadora.

A mulher é do "Vermelho" e a física do corpo é quântica concentrada em atomizações da matéria anatômica exercitada, minimamente.

(mulher submersa no "Vermelho"/reprodução)

O tempo encarnado na espera e sutilezas de deslocamentos ao ato de "Vermelho".

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