sábado, 13 de junho de 2015

Clicks manimal

Kodak, a foto
por maneco nascimento

Um click degeneration/regeneration. "Kodak", de Neto Machado (PR), uma grata surpresa em desconstrução do corpo, da fala no corpo. O desnudar da personagem humorada e gradada em movimentos; técnica de desdobramentos stop motion; sons, onomatopaicos; ruídos produzidos pela boca do artista, às vezes de click de fotografia, vão enredando a dramaticidade alegre e equilibrada de contenção e relaxamento econômicos do corpo e anatomia em desenho da linguagem aplicada.
(a personagem em dialogismo com o alter ego (boneco inflável)/imagem Andreia Salame)

A cenografia, caixas plásticas, de arquivo, coloridas para dialética de uma cidade, centro urbano, de prédios e arranha céus. Ao deslocamento, em meio à cidade, a personagem que se desconstrói/constrói aplica semântica de um gigante sobre a cenografia de vidas em caixas miniaturas, arquitetura edificada.
("Kodak". O coreógrafo Neto Machado é manimal/acervo Andreia Salame)

E, pendentes do céu da cena, luminárias cabides (lâmpadas fluorescentes), em cores que vão ilustrando efeitos dramáticos à exigência da narrativa do corpo falante.

A cada deslocamento da matéria corpo, um "flash", uma pose, um click, um desmanchar do homem sapiens que se vai revelando, ao passo em que se liberta da roupa formal e abre fronteiras para brincadeiras e onomatopeias de valorização da dança break, reinventada ao sincopado dos sons produzidos na boca, por onde saem humorados e discretos clicks, clicks, clicks a um quase auto ventriloquismo de liberdade de emoções cerradas no corpo urbano. 

São cinquenta minutos pancada de movimentos sincrônicos, sons produzidos pelo intérprete criador, ou em outros momentos, eletrônicos, que emendam e mantêm a dinâmica inteiriça de narrativa.

Dança voluntária, imbricada no involuntário cartesiano de reprodução das possibilidades de articulações, quebras, emendas, reinício, retomada do eixos e desenhos da anatomia experimentada, em ações, que incrementam leveza, densidades, domínio de técnica de desdobrar funções do corpo, beleza de possibilidades mapeadas, enquanto narra dramaticidade nas vozes distendidas pelo movimento.

Desmanche e mito do eterno retorno ao mesmo ponto do corpo expandido. Desconstrução e restauração cenográficas entremeiam releituras, revisão, de iconografias do cinema, fotografia, novas mídias, heróis das indústrias culturais, cultura pop e elementos mass media reiterados, ou redimensionados nas narrativas corporais.

Destruir e reconstruir o cenário da "besta" homem que domina o mundinho a seus pés. Das casas, prédios, caixas de arquivos, saem surpresas que alimentam a fome insaciável do manimal racional, cabeça da cadeia alimentar dos bichos às espécies da terra dos homens.

A guerra, a paz, a festa, a brincadeira, a dança, o dancing, as brincadeiras e os brinquedos para (des)controle emocional e controle remoto (carrinho manipulado pelo gigante), ou o boneco Ken carregado pela "besta", entre os prédios, numa alusão ao grande gorila? que é da tela do cinema... ou godzilla incontrolável, seguindo ao horizonte perdido. 

Signos, siglas, sintagmas, morfemas, sememas, linguísticas intertextualizadas pelo corpo falante e semiótica aplicada ao concentrado do objeto narrado na personagem em expiação. Numa sincronia em diacrônico de movimentação, "Kodak" consegue ser vibrante, atraente, dinâmico não extenuante e, à primeira saída da personagem, se já fosse conclusão da narrativa, nada + faltaria.

Mas, mesmo voltando para reintrodução de novas narrativas, dados comunicantes, o espetáculo de nova dança, dança conforme sinais de propósitos ao, talvez, inconsciente da exaustão de incautos da recepção, nunca à do intérprete criador.

Do homem sapiens em imersões ao (i)memorial primitivo, ou manimal, da própria afetividade das temporalidades, consegue a personagem narradora dar sintonia e equilíbrio constantes, em avesso de transitividades a intransitivos formais.

"Kodak", com o intérprete criador paranaense, Neto Machado, um click feliz da espécie na exposição da vaidade, ou na transitoriedade das expiações comportamentais do homem sapiens sapiens, em aplicação de ciência e sensibilidade, através do verbo do corpo criativo.

Click, click, click, ativar!

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