sexta-feira, 6 de março de 2015

O "Doce"

Doce de goiaba
por maneco nascimento

 “Os bóias-frias quando tomam umas biritas/Espantando a tristeza/Sonham, com bife à cavalo, batata frita//E a sobremesa/É goiabada cascão, com muito queijo, depois café/Cigarro e o beijo de uma mulata chamada/Leonor, ou Dagmar (...)//São pais de santos, paus de arara, são passistas/São flagelados, são pingentes, balconistas/Palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados/Dançando, dormindo de olhos abertos/À sombra da alegoria/Dos faraós embalsamados(O Rancho da Goiabada/Aldir Blanc-João Bosco)
Imagine as goiabas da “carne” vermelha selecionadas e a polpa jogada no tacho de zinco azeiado e sobre as trempes de pedras grandes, e de fogo, que acomodam a lenha que vai aquecer a massa do fruto que, adicionado o açúcar e alguma pouca quantidade de água, completam a fórmula do prazer degustado na forma do doce de goiaba. E, quem sabe, a goiabada cascão raspada do velho tacho, melado em grossa camada do bom ponto do doce.

Assim são as memórias afetivas da culinária rural e quiçá aplicam-se ao sabor deixado na boca de quem provou o doce, talhado nas fornalhas da cozinha brasileira e compotado para degustar-se com calma e, por vezes, com voraz apreço de amaciar as papilas identificadas com propriedades organolépticas do paladar.

Mas há outros doces que também passam pela mesa de qualquer mortal e, dependendo de quem o cultiva, podem ter sabor não muito palatável, mas sempre um “doce” que desce goela abaixo.

Planta-se e colhe-se. As goiabas nem sempre produzem a massa apropriada ao doce da vovó. Por outro lado, sempre doce com sabor para acre e sem as regalias da tradição rural e culinária memorável. Mas “doce” que plantado, nalgum momento será digerido, queira ou não queira o doceiro de magias sem a graça branca, mas feitor de toma lá, dá cá. Doce dado, doce recebido de volta a La Lei de Newton.

Mas, saindo da culinária e ficando nas boas notícias que correm os chegados das águas de março, porque como diz o poeta “É pau, é pedra, é o fim do caminho/É um resto de toco, é um pouco sozinho/É um caco de vidro, é a vida, é o sol/É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol (...) É o mistério profundo, é o queira ou não queira/É o vento ventando, é o fim da ladeira (...) Das águas de março, é o fim da canseira/É o pé, é o chão, é a marcha estradeira (...) É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto/É um pingo pingando, é uma conta, é um conto (...) É a luz da manhã, é o tijolo chegando/É a lenha, é o dia, é o fim da picada (...) É pau, é pedra, é o fim do caminho/É um resto do toco, é um pouco sozinho/É uma cobra, é um pau, é João, é José/É um espinho na mão, é um corte no pé/São as águas de março fechando o verão/É a promessa de vida no teu coração (...)(Águas de Março/ Tom Jobim)

Há uma novidade que nos pega de surpresa alegre e recebe, de alguns, um indisfarçável nariz de pouca felicidade. E a vida sendo assim mesmo e parafraseando Nelson, a unanimidade é burra e, às vezes despeitada. Então, quem não gostou que gostasse.

(ator e promotor cultural J. Vasconcelos/image face J. Vasconcelos)

João Batista Vasconcelos recebe, às 8h30 da manhã, do dia 06 de março, das mãos do representante da Fundac, a responsabilidade oficial de coordenar o Complexo Cultural Clube dos Diários/Theatro 4 de Setembro. Solenidade fechada ao quadro de funcionários, colaboradores e alguns amigos que chegam para prestigiar o amigo.

Promotor cultural e agitador de arte e cultural transversal de todos os tempos, entre parceiros de todas as linguagens, o ator e produtor cultural recebe a confiança de um novo desafio e responsabilidade ímpar, estar à frente da maior Casa, oficial, de espetáculos do Piauí e espelho de corredor cultural centrado na Praça Pedro II (Aquidabã Sem Número), na velha Teresina de sempre.

Torcer o nariz, ou o rabo do tatu, em espírito de porco com asas cortadas, pode ser o sentimento que povoa alguéns que gostariam de ver outros nomes que liderassem essa Casa. Não deu, ficará a outra oportunidade. Dessa vez, será a vez de João Vasconcelos e ele sabe agitar cultura e o faz como resposta em agregar + valores artísticos e artistas que também se identificam com sua forma de ação cultural.

Vai essa aí, galera dos sins e nãos. João Vasconcelos está ai e não está prosa. Vivendo e aprendendo a jogar. “Vivendo e aprendendo a jogar/Vivendo e aprendendo a jogar/Nem sempre ganhando/Nem sempre perdendo/Mas aprendendo a jogar (...) Água mole em pedra dura/Mais vale que dois voando/Se eu nascesse assim pra lua/Não estaria trabalhando (...) Mas em casa de ferreiro/Quem com ferro se fere a tudo/Cria fama, deita na cama/Quero ver o berreiro na hora do ronco/Vivendo e aprendendo a jogar(Aprendendo a Jogar/Guilherme Arantes)

João está poesia, drama, comédia, música, artes visuais, dança e o que vier + porque urge fazer cultura e arte, seja em Bar, praça, parque ou palco empenhado em urdir o fazer artístico em expansão, atomizando quem soma coletivo e sana a fuga do complexo de coitadismo, da teoria conspiratória, ou da arraigada leniência de não ser de fato e direito artista e construir arte (aqui entenda-se o viés paulofreireano).

Quem não gostou que gostasse, confere a gira setentona em gíria cultural de recorte à alegria e metáfora de discurso vencedor em combate aos pessimistas, na era da exceção brasileira de céu de brigadeiro e outros marechais de ferro. Vasconcelos chegou ao cargo, de indicação também política, a partir de seu histórico de trinta anos no batente do fazer arte nessa cidade. Então, essa é sua deixa. O texto está dado, a cena começa agora!

Aos “perseguidores” e amargurados com essa boa notícia, vão cantar em outra freguesia. O mundo anda, circula, e a fila é indiana e às vezes até as pedras se encontram.

No meio do caminho, salta-se a pedra e continua-se o curso da vida voejando à arte e cultura locais. Peguem os painéis para alargar conhecimento e revisionem as próprias ações, até dos últimos dias de pregoeiros da excelência produtiva da cidade, ou leiam um romance. Mas paguem as contas do mercado, as prestações... parafraseando Torquato.

Mas deixem em paz meu coração, pois ele é um pote até aqui de doce de goiaba, goiabada cascão. E, para não sofrer de diabetes, evito levar “doces” do destino. Vigio a ação e colho a reação + respeitosa e vivo bem, obrigado. Falou bicho!

Parabéns, João Vasconcelos. Vai que é tua. Operário do viço artístico, não é Elis, “Essa Mulher” inesquecível, que aniversaria neste 17 de março, uma setentona de guerra,  e é de sempre boa lembrança, mas  ele viaja na cauda do furacão e sabe ser porque está sempre girando, girando feito cantiga de roda e é sal da terra.

E sei que os parceiros estarão não só torcendo, mas dividindo essa alegria e contentamento. O 4 de Setembro te aguarda e Daniel, para lembrar o bíblico, sempre vencerá a jaula dos leões e sem matar nenhum deles, para manter-se politicamente correto.

 É + Electra Concreta (para manter-se na cena, lembre-se que não se é Deus, só deuses trágicos, e revisionados, também no teatro de Gerald Thomas, meados da década de 80), ou Electra comCreta, ou sem Esta, mas sempre operário do ofício.

Ah, raspe esse tacho e deguste o doce da tradição desinteressada e + próxima do agregar de sabores apurados. A quem não soube lavorar um bom fruto, sobre-lhe o “doce” da hora.

Evoé, Vasconcelos!

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