domingo, 29 de março de 2015

Ato 27, O Retorno

Arte Integração
por maneco nascimento

Manhã cheia de emoções dramáticas e dramaturgias experimentadas. Dia Internacional do Teatro, não poderia ser diferente. A partir das 9 horas da manhã, no palco do Theatro 4 de Setembro, aconteceu a estréia do espetáculo A Onça e o Bode, versão de texto a fábula farsesca do inventário popular, com a assinatura de Walfrido Salmito.

Dirigido por Roger Ribeiro, a montagem teve a produção de W. Salmito, Sesc PI, e contida na programação realizada pelo Projeto Março das Artes Cênicas, que teve início dia 20 de março, com a apresentação do Exercício sobre Medeia (Silmara Silva, direção de Adriano Abreu) e encerra dia 30, com o Balé Popular de Recife.


Para a estréia de A Onça e o Bode, a montagem contou com elenco formado por Vitorino Rodrigues (Bode), Herberth Costa (Onça), Kleyson Kardozo (caboclo Zeca da Mata, intermediador dos bichos) e Chicão Borges (Coronel Pimentão). Os figurinos e cenário de Wilson Costa e Direção de Roger Ribeiro.

A peça retém cenografia prática, eficaz. A casa da narrativa bem humorada, construída pela Onça e o Bode, numa simultaneidade de desencontros, reúne telhado e paredes às vezes de tecido frisado, a compor estética de cobertura e paredes de palha. Nas cores terrais, realiza composição de efeito convincente ao lúdico e plástico das ações que enredam os bichos que disputam a mesma moradia.
 
(a Casa da Onça e do Bode/ft: m. nascimento)

Os figurinos que revelam e escondem personalidades dos bichos em peles de homens, ou homens em personagens de bichos fabular populares, muito eficientizam o conjunto da obra, no viés dos figurinos, em sinergia estética do matiz aplicada, por W. Costa. 

Numa dialética de vozes do bicho homem volatizadas nas falas de animais “inferiores” que, na fábula ganham status humano, a segunda pele se instala às identidades das personagens e identificação com o universo de aproximação, na recepção, com o público alvo, o infantil.

O Bode Manhoso (Vitorino Rodrigues), que foge da fazenda por não suportar + os maus tratos do seu dono, Cel. Pimentão e resolve construir sua casa própria, tem em seu figurino, composição de tons sobre tons terrais e sua pele/pelo é um avental de operário, que se comunica com um chapéu tradicional de couro cru e chifres de bode naturais, embutidos na “cabeça” do bicho, completam na simplicidade de signos a identidade do animal, bicho da cabeça pra cima e homem com roupas humanas (camisa, calça comprida, sandália de couro), do tronco pra baixo.
 
(cena aberta de A Onça e o Bode em estreia no Dia 27, dentro do Ato 27/ft: m. nascimento)

A Onça (Herberth Costa) veste-se de uma camisa tecido seda oncinha, colada no corpo, e cabeça  (chapéu de onça) confeccionada do mesmo tema à identidade do felino matreiro. Segue as mesmas medidas de pesquisa de figurino, meio bicho, meio homem, como distanciamento cênico na estética de vestuário e envolvimento dramático na apresentação do lúdico de modernidade em releitura da tradição.

O caboclo (Kleyson Kardozo) Zeca da Mata e o Cel Pimentão (Chicão Borges) têm também, na segunda pele, elementos identitários de suas personalidades ao mágico do universo de enleio infantil, ao farsesco e ao histriônico que se amplificam na integração do mapeamento da direção de cena (R. Ribeiro).
 
(Chicão. Herberth, Kleyson e Vitorino no farsesco mundo fabular de A Onça e o Bode/ft: m. nascimento)

Das composições e construções da personagem, Vitorino Rodrigues consegue deslizar livremente como um Bode esperto, manhoso em valorização do próprio nome do animal e amplia o bom humor na veia de convencimento e persuasão do público afetivo. 

Herberth Costa exercita um corpo que também fala bem, embora não se tenha ouvido as inflexões da personagem a todo corpo sonoro e intenções + nuançadas. Não perde o rebolado da Onça, mas poderia executar o pulo do gato em fuga do homem tímido que ainda há no próprio ator e gera o bicho acanhado.

Kleyson Kardoso, que faz o caboclo Zeca da Mata aos diálogos interacionais dos bichos e media a paz entre o bicho do terreiro e seu inimigo natural, o bicho da mata, é talvez o ator que menos parece à vontade na encenação. Quase fala pra dentro e parece introspectar a personagem em “apavorado” sentimento muito particular de não conseguir se doar inteiro à cena. 

Romper essa película do medo e ser ator completo, talvez melhore a performance à construção da personagem a que se propõe. Sabe por onde ir, só precisa caminhar e atirar-se ao precipício do drama e emergir do drama pessoal e imergir no teatral, sem medos.

Chicão Borges desempenha um padrão particularmente aproximado de ser e estar muito próximo de si mesmo. Embora todo ator carregue consigo também suas idiossincrasias, alguns transformam em subsídios à personagem. Seu Coronel Pimentão cria empatia com o público infantil e a caracterização farsesca, apropriada ao universo fabular da história contada, dá-lhe um porto seguro de apoio ao seu perfil de personagem entre a magia e o mundo real de fingimento dramático.

A Onça e o Bode, peça montada, confere linhas divisórias da facilitação de cena, Roger Ribeiro, para agradar o público a que está direcionada. É risível, envolvente e está na média de teatro infantil de formação de platéia.

Ressalve-se que, como para platéia sujeita à agitação, intervenções naturais e burburinhos incontinenti dos infantes, talvez requeira da direção do espetáculo estimular maior projeção de alguns atores para que não fique a audiência prejudicada com os ruídos que se imponham na intercomunicação de platéia infantil.

Eficazmente, só Vitorino Rodrigues conseguiu fazer-se audível em toda presença. Mas teatro se constrói todo dia e a cada nova apresentação. A Onça e o Bode está só em dias de estréia. Pode +, é só ouvir a personagem e aplicar-se às falas dos bichos homens de teatro.

Na programação do Ato 27 - Arte Intervenção Cultura Integração, A Onça e o Bode, de W. Salmito, direção de Roger Ribeiro, cumpriu duas apresentações para público quente e escolar e ganhou a companhia e aceitação da plateia interativa. 

O Dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo, na manhã para crianças e tempo de teatro de expressão e preservação do ato de encenar e integrado ao Dia de Ato 27, cumpriu bem o exercício do teatro nas vezes e vozes de A Onça e o Bode.

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