terça-feira, 17 de março de 2015

13 de Março

impávida tarde de março
por maneco nascimento

Após + de uma década e meia de apresentações no canteiro de obras (Memorial Heróis do Jenipapo, em Campo Maior), feito às cênicas de releitura histórica, “A Batalha do Jenipapo” – a peça, repetiu efeito aos dias “fatídicos de transes desgraçados” e assumiu espetáculo que reconta a perda da Batalha, mas vitória da Guerra às margens do riacho Jenipapo, quando o Piauí se torna a primeira província brasileira a confirmar sinal de adesão à Independência do Brasil.

Texto escrito por Aci Campelo, a partir de pesquisas do historiador e jornalista Chico Castro, o espetáculo tomou forma pela primeira vez lá pelos idos de fins do século 20 e seguiu o exercício do exercício até início dos anos 2000, enquanto governou o estado um político que carregava a alcunha de mão milagrosa (M. Santa, 1 de janeiro de 1995/6 de novembro de 2001).

Em seguida, um governo petista (W. Dias, de 1 de janeiro de 2003 a 1 de abril de 2010) manteve a repetição do espetáculo por sete anos, dois mandatos quase completos. Na esteira de continuidade, houve a encenação nos anos do vice, feito governador, durante sua administração nos quatro anos de tempo pessebista, quando eleito, (W. Martins, de 2010 a 2014)

Em 2015, o marco teatral retorna às solenidades do 13 de março, em mãos de governo petista (W. Dias, a partir de 1 de janeiro de 2015) e repercute, conjuntamente, com a entrega de Medalhas, discursos de homenageados e de políticos, pompas e circunstâncias e desfiles militares perfilados às honras e memórias históricas da Batalha que coloca o Piauí nos anais da construção social brasileira, mesmo que durante muito tempo tenha encontrado nariz adunco e virado dalguns historiadores oficiais nacionais.

No pátio do Memorial do Jenipapo, entre o cemitério dos Heróis, obeliscos arquitetônicos edificados, museu da memória da guerra rural piauiense, o palanque de autoridades erguido, ao evento, e estacionamento e área de passeio de chegada ao local descrito, à margem da BR 343 que ruma ao litoral, se instala há muitos anos a encenação.

Dirigida em sua maioria de vezes por Arimatan Martins; uma vez por Siro Siris e duas vezes por Franklin Pires, uma destas (2012) feito na base de pesquisa do historiador e quadrinista Bernardo Aurélio e outra (2013), como licença poética Musical a La Miserables, contextualizado ao fato histórico local, “A Batalha do Jenipapo” – a peça, fez história à memória do teatro brasileiro a céu aberto.
(elencão perfilado para a Batalha, ensaio geral/foto: m. nascimento)

Desde 2014, a encenação retornou às mãos de Arimatan Martins. Em 2015, em nome da contenção de despesas e orçamento muito inexpressivo do Governo do Estado/Fundac, o espetáculo contou com apenas 38 atores de Teresina e + os coadjuvantes contumazes da cidade de Campo Maior, que também encorpam o mètier da Batalha encenada. Atores profissionais de Teresina, capoeristas do Cordão de Ouro e o Grupo de atores campomaiorense confirmam “A Batalha do Jenipapo” – a peça, em força e magia do teatro.
(Arimatan Martins, diretor e ator; Jorge Carlo, ator e Siro Siris, diretor e ator/foto: m. nascimento)

+ uma vez o elencão ficou acomodado no Campus UESPI C. Maior que, desta feita, sofre intervenção de reforma e estava + limpo, com salas refrigeradas e banheiros assépticos e funcionais.
(elencão nos corredores do Campus UESPI/foto: m. nascimento)

Nova empresa de ônibus ficou responsável pelo deslocamento dos artistas. O motorista só ligava o ar refrigerado quando o transporte ia sair e, naturalmente, não dava tempo resfriar ao conforto do elenco. Devia fazer parte da contenção de despesas.

A alimentação em restaurante estradeiro e contumaz em receber os artistas, não surpreende nunca. Sua zona de conforto se instaura pela cultura de “assim tá bom demais”, para o proprietário, já que o pagamento deve demorar tanto quanto o dos artistas, que desta vez há promessas de recebimento no prazo de 30/60 dias corridos.

É esperar para ver e crer que será + ágil a prestação de serviços públicos oficiais ao serviço prestado pelos atores, atrizes, capoeristas e técnicos envolvidos na obra encenada.

O espetáculo, por si só, se garante como matéria prima manufaturada aos olhos da assistência curiosa. Escolas fundamentais e de ensino médio, cidadãos campomaiorenses, público cativo, autoridades oficiais e convidadas, homenageados com a Medalha, imprensa (tevês, portais, fotógrafos e jornalistas pautados) barraqueiros, Polícia Militar e de Trânsito, segurança governamental, profissionais envolvidos diretamente no circo montado e toda a gente que acorreu ao Memorial “Heróis do Jenipapo” são parte interativa no momento da peça contada.
(ensaio geral na manhã de 13 de março/foto: m. nascimento)

É + uma guerra de cena vencida. A Batalha da Batalha segue curso, fora da legenda datada e dentro da legenda da cultura e arte que premiam a cidade de Campo Maior, quando revisitam a história local e piauiense e transformam memórias sociais em teatro de resistência em terras de canteiros bravos e de cena de permanência à espetacularização da agenda governamental.
(sala de maquiagem, antes da Batalha, a peça/foto: m. nascimento)

“A Batalha do Jenipapo” – a peça, em seu elenco comprometido e atomizado pelo teatro, cumpriu + uma vez seu papel de arte e serviço prestados. Agora é a vez de aguardar a contrapartida do Governo do estado/Fundac em seu papel de pagador do prestador de serviço.

Sorte a todos e aos tempos de promessas renovadas. Artistas da cena, salute!

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