terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Saudades do carnaval...

que passou
por maneco nascimento

Este ano não vai ser igual àquele que passou...”, aquelas fantasias que, durante o ano inteiro, a expectativa costurava, ficou para trás, na memória de outros carnavais.

Os Bailes sociedade, os desfiles de fantasias, os três ou quatro dias de folia e fantasia, uns pra cá, outros pra lá, até quarta feira, perderam-se no tempo do já foi assim.

Assaz, não há + o transitar das gentes, famílias, foliões, caretas, mascarados, os vendedores de máscaras tradicionais de papel cartolina e celofane aos feitos de, o fantasma do quadrinho, a colombina, o pierrô e o arlequim, os monstros e personagens das indústrias culturais de massa, na simplicidade artesanal de esconder, na brincadeira do fingimento de estar fantasiado e ser o outro contido nos eus das máscaras sociais de tantos carnavais.

Os grandes desfiles, quando ainda na Avenida Frei Serafim. As escolas de tradição, das + exóticas e ostentosas às + simples que vinham, dos bairros e periferias foliãs, compor à concorrência e estar no rol das julgadas e escolhidas como as melhores do ano.

Unidos da Palmeirinha, Escravos do Samba, Piratas do Ritmo, Sambão, Brasa Samba, Skindô e, a novidade onomatopeica de sambas enredos e neologismos das passarelas, a caçula e de enredos ostentação, Ziriguidum, entre tantas outras agremiações que romperam o asfalto da Frei Serafim e marcaram histórias do carnaval de Teresina.

Os dias de desfiles das escolas de samba de primeiro e segundo grupo e os dias dos blocos sociedade, blocos dos sujos. E o diverso e fantástico das fantasias, improvisadas ao tempo da rua, ou meticulosamente planejadas ao sabor e humor e escatologias permitidas nas reinvenções, revestidas ao brinquedo feliz de apresentar-se na pista de espetáculo e subir e descer rua acima, rota abaixo, em grupos, em times e corporações alegres, ou só, pra contrariar o coro dos contentes.

Enfeitar o tempo de sorrir e divertir, também, aos curiosos e menos corajosos de representarem uma personagem, e investir no templo de liberdades e profanidades consentidas ao reino de Momo.

As personagens emblemáticas e os tipos libertários de tantos carnavais. Robinho e seu riso grande em imaculada felicidade; o estilista e carnavalesco Lulu Maravilha, que o nome já dá lampejos do maravilhoso mundo de vestir e compor alegrias, em seu requinte de composições ao Desfile de Fantasias, Destaque de Escolas e passarela livre, quando as obrigações oficiais lhe davam cancela liberada para deslumbrar nas calçadas, nos canteiros da Frei e asfalto do lado de cá, na margem da área do cordão e serviços da comissão organizadora do carnaval.

Bernardo Cruz, carnavalesco das costuras detalhistas e brilhos cosidos ao amor artesanal, direcionado às + belas fantasias e vestimentas de cores e efeitos visuais a vestir passistas e estrelas destacáveis às comissões de frente, alas e carros alegóricos na ópera sabão de maior espetáculo a céu aberto, de herança imitação dos tradicionais desfiles do eixo sul. O mestre Bernardo fez escola e deixou legado ao ateliê do samba e às discípulas da alta costura carnavalesca e barracões mágicos.

E a nossa eterna Rainha do Carnaval de Teresina. A Rainha da Comissão de Frente de todas as escolas que passavam pelo canteiro de obras do carnaval, a divina Nicinha. Sempre linda, arrumada, fantasiada, simpática e risonha, maquiadíssima e desfilando prazer e amor à festa momesca da cidade verde.
(imagem colhida da linha do tempo de K. Kruel Fagundes)

Emblemática e de carisma invejável. Para aparecer e mostrar que gostava de samba e carnaval e confirmar que sempre esteve no grupo dos bons sujeitos, nem ruim da cabeça, nem doente do pé, lembrando o gracejo musical, no sambinha excelência, de Dorival Caymmi.

Nicinha adorava conceder entrevistas e brilhar à frente dos holofotes. Recompunha a maquiagem, ajeitava os óculos “fundo de garrafa” e, lá estava, revisitando as próprias memórias e tempos de amor ao carnaval, desde a adolescência, quando ensaiou as primeiras entradas à passarela da maior festa que o país pode transformar em cultura popular manifestada. 

Era assim, em boas doses de folia, confetes, serpentinas e cores da diversidade, em minhas lembranças de outros carnavais, de fins da década de 1970 e aquecidos dias e fevereiros que correram os anos oitenta.

Depois os carnavais foram perdendo seu tempo de existir na Frei Serafim. Transferidos à Marechal Castelo Branco, à beira do rio Poty e, ensaios na Cajuína, sem muitos resultados que satisfizessem sua permanência ali e retornou à Mal. Castelo Branco para receber os desfiles e os axés importados a requentar o fim de noite.

As tradicionais escolas foram arrefecendo o fogo, os desfiles ficaram menores. A saída do centro da cidade diminuiu a fluência de público. Deslocar-se à Mal. Castelo Branco ou Cajuína gerou + custos e riscos de chegar e sair.

O certo é que o carnaval de desfiles de escolas de samba ficou grande d+ ao centro da cidade e a cidade cresceu para fora do Alto da Jurubeba e abriu perspectiva de maiores campos de recepção de grande público e céu + amplo para deslizar carros alegóricos e eventos à grande massa, caso ela acorresse ao novo local. Sim, ela foi aonde o espetáculo poderia estar e ser ofertado. O espetáculo é que perdeu o brilho de outrora.

Sem investimento público oficial satisfatório e sem as agremiações escolas de samba abandonarem a zona de conforto, nem desempenharem a cultura de comunidades que trabalhassem o ano inteiro, na antecedência do próximo carnaval, e aquecessem as baterias à auto sustentabilidade e manutenção da brincadeira, independentemente do sinal financeiro da pmt, + dada à manifestação massiva de carros cortejos, às custas dos proprietários e concorrentes do corso, agregado ao livro dos recordes.

O verdadeiro carnaval de rua e de desfiles de escolas e blocos de sociedade vai cumprindo rito de passagem ao próprio ocaso. Às vésperas dos dias momescos, escolas começam a abrir trincheira de cobranças e reclamões à falta de investimento no serviço de desfile. E, como funcionárias públicas, recebem um holerite em cheque e vão improvisar papel, tnt, cartolina e tecidos malhados a vapor barato, em insistência de rememorar os velhos e saudosos carnavais.

Das memórias e saudades do samba, dos desfiles da (na) Frei Serafim e dos camarotes “improvisation”, nos muros do Colégio das Irmãs, e as idas e vindas enquanto esperava-se a entrada da próxima escola aos dias de aventura e deslocamento, em noite de desbunde, alegria desenfreada e restos de fantasias, na Marechal Castelo Branco que recebe o público que nunca migra a outros sítios carnavalesco, interior adentro do Piauí.

Das melhores memórias afetivas em carnavais, lembrar da doce menina e velha Nicinha de guerra, em front da passarela do samba e desfiles oficiais da festa de Momo que por aqui passou e que no tempo da areia brilhante e “strasser” e “gliten” fazia poeira na alegria de viver bons carnavais.

“Nicinha (Leonice Ribeiro de Almeida) nasceu em Ipiranga, em 5 de março de um ano qualquer no início da década de 40. Filha de Timóteo Ribeiro de Almeida e de Rosa Maria de Almeida. Com o seu falecimento, em 22 de maio de 1992, em nossa capital, o carnaval de Teresina perdeu um de seus maiores símbolos: Nicinha, a porta-estandarte de todas as escolas, a Rainha de todos os carnavais.

No carnaval de Teresina, 1993, foi lembrada pela Prefeitura Municipal de Teresina, com a denominação Nicinha a Eterna Foliã. Muito católica e extrovertida. Baixinha, míope, encurvada, não dispensava saia rodada, baton escarlate e rouge vermelho. Em qualquer época do ano, estava usando sempre a fantasia que mais gostava, a da eterna Nicinha. Gostava de cantar La Violetera.” (Nicinha Eterna Rainha do Carnaval. Texto recolhido da linha do tempo de Kenarde Kruel Fagundes/acesso 9 de fevereiro de 2015, às 20h)

Oh, abre alas que eu quero passar e não esquecer o memorial da história do carnaval da “Tristeresina” que já foi e não volta +. De Chiquinha, a Gonzaga, parafraseada para aproximar da lembrança dos velhos e sempre carnavais à Nicinha, Bernardo, Lulu, Robinho e tantos outros alegres manifestados da memória social, da cultura intangível tangida às favas do “never more, never more”, para lembrar Dobal, que poeta dos melhores que há, não sei se amante do carnaval, mas sei que bom sujeito sempre foi e como brasileiro que é, gostava de samba.

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