segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dias da República

dos Desvalidos: Itararé
por maneco nascimento

Muito se diz da República velha e nova, quando o assunto é história das repúblicas brasileiras. Do cafezinho ao leite servidos nas decisões dos gabinetes políticos e, depois, a quebra desse padrão que laureava governantes sudestinos (política do Café, São Paulo, com Leite, Minas Gerais).

A partir de 1930 instaurou-se uma nova maneira de administrar a nação (Revolução de 1930, com a ascensão do Presidente Getúlio Vargas ao poder). A "República de Getúlio", ou o primeiro ensaio à perversa ditadura que se instalaria no país, + tarde, (golpe político de Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser conhecido como Estado Novo).

A Era Vargas que só teve corte quando em 1954, o então Presidente e populista Getúlio Vargas capitulou e, saiu da vida e entrou para a história (no segundo período em que governou o país, foi eleito por voto direto. Getúlio governou o Brasil como presidente da República, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando cometeu suicídio).

Mas esta é outra história e aqui não é tempo de discuti-la. No muito citá-la para entrar no assunto + direcionado e que dominará as notícias e louvores de chegada e se instalará no próximo final de semana, de fins de janeiro e início de fevereiro: A República dos Desvalidos.




(é d'A República dos Desvalidos/arte Paulo Moura)

Nos próximos dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro, o espetáculo A República dos Desvalidos ganha o palco e o público da cidade de Teresina. A estreia dessa nova montagem marcará cena no palco do Theatro 4 de Setembro, a partir das 20 horas.

Numa montagem do Grupo de Teatro Pesquisa - Grutepe, com aporte financeiro mediado pelo Sistema Estadual de Incentivo a Cultura - SIEC, através do governo do estado, e renúncia fiscal que beneficia empresas e empresários sensíveis à arte e cultura, a peça vem na esteira de representar-se como a terceira versão do original texto Itararé, a República dos Desvalidos, escrito por José Afonso de Araújo Lima e que teve a primeira estreia em 1986.

A segunda montagem conta de 2006, com direção de Zé Afonso Lima e, essa última montagem, 2014, leva a assinatura, de dramaturgia de cena, sinalizada por Arimatan Martins, que a renomeou como A República dos Desvalidos.

Segundo Bid Lima, envolta nas últimas duas montagens, 2006 e 2014, dessa vez o olhar de dramaturgia desloca-se do bairro Itararé e se espelha nos vários Itararés do Brasil. O lúdico tratando de temas sérios, mas de forma divertida e prazerosa de fazer.

O elenco original de Itararé, a República dos Desvalidos, da segunda metade da década de 80, contava com Lari Sales, Vera Leite, Eleonora Paiva, Cândida Angélica, Zé Afonso, Eliomar Vaz Filho e Fábio Costa e, posteriormente, foi inserida a atriz Izinha Ferreira, como a segunda Beata Marta Carvalho, daquela edição.

Primeiramente, dirigido por Zé Afonso, recebeu em seguida a intervenção de José da Providência que a deixou com um circo montado e reforçou a alegria original da dramaturgia textual zeafonsiana. Este grande diretor, o nosso Provi, desaparecido recentemente, será o grande homenageado nesta nova versão que pre-estreou em dezembro de 2014.

Em 2006, a segunda montagem, quando contavam vinte anos corridos, desde que a peça arroubou público e crítica em palcos, festivais nacionais e teatros diversos, Itararé, a República dos Desvalidos, dirigido novamente por Zé Afonso, deu uma nova guinada e recebeu novos atores, arranjos de Aurélio Melo para orquestra e eruditismos pop experimentados e fez nova história na memória do teatro local. Bid Lima, Marcel Julian e Claudinha Amorim chegaram na renovação do elenco.
(mandala d'A República dos Desvalidos/acervo Grutepe)

Para a estreia local, nestes dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2015, mantêm-se parte do elenco original, Lari Sales, Vera Leite, Eliomar Vaz Filho, Fábio Costa e, Bid Lima e Marcel Julian que chegaram na montagem de 2006.

A grande novidade é a atriz Edithe Rosa, como a + nova Marta Carvalho, uma Beata espevitada, língua solta, de trapo, e fidelizada ao histórico das Martas Carvalho anteriores que muito valorizavam o texto histriônico e venal de Zé Afonso.
(Edithe Rosa, bendita entre estelares/acervo Grutepe)

Para Edithe Rosa, está sendo uma experiência muito boa, muito gratificante. Há pessoas com quem nunca havia contracenado. Gosta "do trabalho + elaborado do Ari. A forma do Ari dirigir com o Zé. Vem a turma toda, foi muito bom", confessa a atriz ao lembrar do processo de trabalhar com Arimatan Martins e Zé Afonso, com quem não tinha tido oportunidade de convivência estreita à cena.

Edithe Rosa está entre "assustada", feliz e empolgada em estar trabalhando com os grandes nomes do teatro da cidade. "Estou muito feliz. Itararé é peça bastante conhecida. A terceira montagem, muita gente quer fazer Itararé, mas me convidaram e fiquei muito feliz em ter sido convidada a fazer a peça", diz muito contente com essa oportunidade.

Sobre as dificuldades que teve, para se adaptar aos novos olhares de diretores e autor, processo de dramaturgia bastante diferente dos que já havia experimentado, conviver com atores tarimbados e com vasta experiência, foi desafiador e obteve muita compensação. "As dificuldades que tive foi só por conta do ter que cantar. Cantar não é fácil. Mas como eles querem uma atriz cantora e não uma cantora atriz, fui me adaptando e acho que consegui me adequar ao todo", fala.

Também declara a atriz, quando refere-se aos laboratórios de preparação à Comédia Musical, que foi muito proveitoso. "O corpo com Fefê", diz ao lembrar da preparação corporal facilitada por Fernando Freitas. "Acompanhou a gente, não exagerou para os 'velhinhos'", graceja, "todos acompanharam bastante. Foi um desafio. Está sendo um desafio. Eu espero que me encaixe. Mas dá pra acompanhar, vai-se acompanhando os músicos. O Ari, Zé, são pessoas legais para trabalhar", reitera ao falar do processo de ouvido musical que tentou encontrar ao Musical e da dramaturgia de Arimatan e Zé Afonso.

A atriz ainda confessa que recebeu muito apoio dos colegas de cena, indistintamente. "O elenco todo é bom de trabalhar. Não senti dificuldades de trabalhar com o elenco de Itararé. Uma coisa muito legal do Ari", diz ao falar do processo específico da direção, "o tempo das conversas com o diretor, quando a gente saía dali, já entendia tudo do texto para encenar. O diálogo já era um ensaio. O ator tem que tá atento, porque ali, nas conversas, já é uma cena que foi construída" finaliza a atriz muito contente de estar envolvida na montagem de A República dos Desvalidos.

O texto de Zé Afonso discute os problemas, dificuldades e a convivência comezinha da vizinhança de "desvalidos" em implantação de políticas habitacionais do governo. A vida como ela é, sem cuspe e assopro, com todas as características simples de pessoas reunidas, nas franjas sociais, e o processo de sobrevivência quando a hora do pega pra capar envolve regras de obrigações mutuárias, futricas e intrigas de vizinhos, amores e brigas familiares, entrecruzadas com amigos do lado e políticas comunitárias de implantação do futuro das gentes em casas populares.

A República da peça não detém o caráter dos negócios e interesses federativos, diretamente, mas está contida no bolo social fatiado a assuntos sócio habitacionais das políticas inclusivas. A República dos Desvalidos não gera mortes, nem grandes mudanças no topo da pirâmide social.

Mas gera mudanças e ou perspectivas de discussão e reflexão dos cotidianos simples das gentes com cadeiras na calçada e, na fachada da casinha, da sobrevivência, inscrito encima que é um lar a ser conquistado a cada dia no selvagem mundo das periferias sociais.

A República dos Desvalidos já gerou boa expectativa e deve gerar muito buchicho e toda sorte de impressões e interpretações que devem somar-se ao histórico das montagens anteriores do espetáculo e deixar um gostinho de surpresa, ou outras recepções livres e necessárias ao moto contínuo do movimento de teatro amador da cidade de Teresina.

O texto original é de Zé Afonso, responsável pela produção executiva e coordenação geral da montagem que se alia à dramaturgia de cena de Arimatan Martins; iluminação de Assaí Campelo e Pablo Erickson; cenografia de Emanuel de Andrade; preparação do corpo, Fernando Freitas; adereços, Wilson Costa; som direto, Zé Dantas; assistente de som, Jocione Borges e programação visual Paulo Moura

Aurélio Melo assina a direção musical, arranjos e composições musicais a partir dos poemas de Zé Afonso. Participam, especialmente, do espetáculo, os músicos Aurélio Melo, Paulo Aquino, Gustavo Baião, Wilker Marques e Gilson Fernandes. Bid Lima cria os figurinos, para esta versão e também assinou os da edição de 2006 e Gislene Danielle, realizou a preparação vocal do elenco.

A peça A República dos Desvalidos tem tudo para repetir o sucesso das versões anteriores. Comédia Musical rasgada e cheia de meandros de dramas, comédias, incursões de veios melodramáticos e farsescos transversados com a cidade, seus mitos e ritos religiosos urbanos da construção social de Teresina e povoada do riso e entretenimento.

Serão dias da República dos Desvalidos: Itararé ! Ninguém perde por esperar, ganha só riso na praça do teatro piauiense. Quem quer vir, vê rá rárárá, porque repetindo velhas fórmulas revisitadas trará, com certeza, nova forma de ver, sentir, refletir e se envolver no teatro vivo que o Piauí tão bem aprendeu a construir.

É palmas pra que te quero. Evoé, Itararé brasis!

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
às 20 horas
no Theatro 4 de Setembro
Informações: 086 3222 7100

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