sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Óia nós aqui travez..."

Somos a Cidade
por maneco nascimento

Teresina é alardeada como a cidade musical, e não está forjando uma imagem. A cidade tem mesmo uma característica da práxis cultural da música, com suas escolas, oficinas, aulas particulares, formação técnica e acadêmica, conservatórios e alhures. 

Também apresenta, nos alicerces desse movimento quem constrói essa música, os professores, mestres, doutores, os profissionais, músicos, compositores, arranjadores, pais de famílias, sonhadores e criadores naturais da pauta musical local, com sua nuances, variações e música também tipo exportação.

Sentimos orgulho de nossa agenda musical criativa e criadora. Mas essa profissão e sua sobrevivência, às vezes sofre reveses e há quem abra reflexão sobre o contexto e quem reforce a reflexão. Frederico Marroquim, alagoano de nascença e teresinense de escolha e radicalização, reflete o momento de sobrevivência do músico local e, eu, não me furtaria de comentar sua provocação. Da sua linha do tempo de Fred, e pauta compartilhada por Dino Alves, colhi essa pérola.

(Marroquim, na linha do tempo/image face F. Marroquim)

A MÚSICA ESTÁ MORRENDO...
Sondo, observo, ouço, e assisto ao assassinato da Música no Piauí. Bandas tradicionais quase dissolvidas, com músicos e regentes sumariamente demitidos. Músicos humilhados, de pires na mão, mendigando aqui e acolá uma noitada em bares e restaurantes (que, aliás, pagam miseravelmente!), sem condições de levar o pão às famílias e na rua da amargura! Músicos do calibre de Rocha Sousa, Beetholven Cunha, Luizão Paiva, entre outros, tendo seus projetos musicais, incluindo escolas, dissolvidos na capital e interior, em nome da “contenção de despesas”, esta sempre usada desculpa para se cometerem os mais sórdidos atos administrativos. Tudo conversa fiada ! Dizem que o Prefeito não suporta Música. Não é obrigado a gostar, claro, mas, em sua função de gestor, tem a obrigação de manter e desenvolver o que já existe. Não existe Cultura sem Cultura Musical, gente! O mais estarrecedor nisso tudo é a passividade dos músicos daqui que, com raras e honrosas exceções, não denunciam a real situação. Acuados, amedrontados, mal ousam falar sobre o assunto. Estarrecedor, também, é o silêncio do Estado, da Prefeitura, dos órgãos encarregados de alavancar a arte musical (e as outras, também) em nossa terra. Com a palavra, portanto, o Prefeito, a FCMC. Exigimos explicações. Vamos acabar com o estigma, a ferida, que se traduz numa frase sórdida que ouço desde que aqui cheguei, em 1980: “O Piauí é a terra do já teve...” Basta, não é?" (da linha do tempo de Frederico Marroquim)
(o pianista, arranjador, compositor, músico, artista, mestre musical/image face F. Marroquim)

E, assim, respondo o querido amigo músico, com quem convivi enquanto foi formador musical da antiga ETFPI, hoje IFPI. Os contextos se modificaram, mas as questões parecem que se repetem, melhor se estigmatizam... Então compartilho, com Fred Marroquim, a recepção de sua reflexão.

(Fred Marroquim e seu piano falador/image face F. Marroquim)

Fred, somos povo do rincão do sertão nordestino. Está no cerne da história da criação do Brasil, de gerações hereditárias ibéricas, que a música nos apraz e nos dá prazer de prática e audição. Somos do sol do equador, da terra rachadas, da política dos carros pipas imposta, dos maiores lençóis freáticos do mundo, e também, nesse contexto atual, de última fronteira da indústria agrícola.

Mas também somos musicais, gostamos de música e sabemos produzi-la, criá-la. Não somos afeitos a neve, caso seja a referência do prefeito "menino" com seus arroubos de idiossincrasias festejadas. Gostamos de farinha, de rapadura, de pequi, de música e de nossos músicos, cidadãos brasileiros também os musicais.

Não é da pecha de administrador deixar que suas preferenciazinhas privadinhas e particulares existam em detrimento da manutenção e fomentação da arte e cultura municipais. O recurso é público, ações culturais de políticas públicas de cultura são obrigações oficiais do cargo executivo para a comunidade.

A prefeitura de Teresina e sua equipe de gestão tangida, nos princípios do princípio do prefeito, sabem do Plano Nacional de Cultura, do Sistema Nacional de Cultura e Cadastro Nacional de Cultura, que abrem margem para fundos federais, a serem aportados em regências apresentadas pelo Plano Municipal de Cultura, Conselho Municipal de Cultura e atos de políticas público coletivas de cultura local?

E, saberia ele, da administração de pavões com penas de plástico que toca a atual fundação municipal de cultura monsenhor chaves? Perdendo processos de pagamentos de artistas, escondendo-se para não atender cidadãos, ou fazendo investimento de maquiagem na sede da gestão cultural municipal, enquanto os aparelhos culturais (casas de cultura) de Teresina estão caindo aos pedaços e na invisibilidade proporcionada pela gestão municipal de cultura?

Senhor prefeito "menino", complexo de peter pan é coisa de boa literatura universal. Melquior é ciência que não cabe a collor, por exemplo. Então goste de sua neve, mas respeite a rapadura, a farinha, de mandioca, e o pequi do sertão e faça as veze s de prefeito de toda a cidade e cidadãos com suas diversidades culturais e musicais.


A Música, o Teatro, a Dança, as Artes Visuais,  e demais linguagens culturais, os cidadãos artistas e seus receptores, agradeceríamos o investimento do recurso público municipal a ações culturais de sobrevivência natural da própria arte e cultura!

Como diria a frase emblemática, atribuída a Mário Faustino,"se cai o nível da linguagem, cai o nível da sociedade". Ponto.
(meu querido amigo Fred/image face F. Marroquim)

Obrigado, Fred, por estar do lado dos não acuados, que não calam. Que lebra da premissa imperial romana "Lembra-te, que não és Deus"

2 comentários:

  1. É triste, mas a verdade é essa mesmo. A cidade, a cada ano, perde sua força musical, não acontece nada efetivamente concreto, sempre na contra mão do Brasil com relação a grandes eventos musicais. Acabei de vir de um festival internacional de música em Campina Grande, festival de alto nível. Conheci muitos músicos, e quando pra eles conhecerem o Piauí, muitos diziam que não conheciam nada relacionado a eventos musicais daqui. Também vemos o canto coral morrer a míngua em nossa cidade. Teresina já foi uma cidade de bastante força no quesito grupos corais. Não vemos atitudes concretas da prefeitura pra mudar isso. O nosso encontro de corais, a cada ano, vem se deteriorando e caindo o nível dos corais. Resultado de ausência de políticas públicas direcionadas à boa arte. Para não ser injusto, existe um ÚNICO coral em Teresina, que não é vinculado a nenhum setor público ou fundação, que tenta, relutantemente e corajosamente, manter o bom gosto musical e o nível da música coral, chama-se Madrigal Vox Populis, formado de amantes da boa música e apaixonados pelo que fazem, mas isso sem nenhum incentivo público. É lamentável dizer isso sobre sua cidade, mas não devemos fechar os olhos para a realidade.

    ResponderExcluir
  2. vivemos aqui e sentimos na pele essa ingerência cultural

    ResponderExcluir