segunda-feira, 12 de maio de 2014

Quem deve, deve.

Dívida é dívida
por maneco nascimento

No dia 13 de maio (terça) de 2014, o governo do estado do Piauí acumulará três exatos três meses de dívida com artistas da cidade. Em 13 de março de 2014 o governo do estado, através de sua fundação de cultura, Fundac, foi responsável pela contratação de + de quarenta artistas e técnicos de Teresina para participarem da encenação do espetáculo "A Batalha do Jenipapo".

"A Batalha do Jenipapo", a peça, acontece há 16 anos no Memorial Heróis do Jenipapo, numa iniciativa do estado e da prefeitura municipal de Campo Maior, cidade a uma hora de Teresina.

Todos os anos, os artistas de Teresina são convocados a participarem da encenação que rememora a Batalha, às margens do riacho Jenipapo, local testemunha de luta sangrenta entre roceiros, com foices, paus e facões, e portugueses armados com fuzis e canhões.

A mímesis da Batalha, com desfecho original em 13 de março de 1823, foi + uma vez repetida na forma de espetáculo e repercutiu dezesseis vezes a iniciativa teatral que reconta fatos históricos da adesão do Piauí à causa da Independência do Brasil, desvinculando-se da metrópole Portugal. O Piauí foi o primeiro estado da nação a aderir aos movimentos da Independência.

Nos 191 anos, desde aquela fatídica luta sangrenta e desigual, + uma vez os artistas de Teresina se prepararam para fazer bonito e o fizeram. Depois de uma bateria de ensaios, foram deslocados a Campo Maior e demonstraram sua arte para autoridades, convidados, escolandos, imprensa e público em geral.

Nunca esse espetáculo deixou a dever ao contratante. E nunca uma decisão governamental havia ficado a dever respeito aos artistas, por serviços prestados por estes.
 (atores na encenação d'A Batalha do Jenipapo/foto cel. Jorge Carlo)

O atual governador do estado, Antonio J. M. S. Filho, da legenda de centro centro PMDB, em um de seus primeiros atos de poder, canetou a suspensão dos pagamentos de serviços empenhados pelo gestor anterior, W. M., que deixou o cargo em 5 de abril. Segundo reza a lenda urbana, corrente nos corredores palacianos do Karnak, não parece haver muito interesse em priorizar pagamentos de dívidas passadas. 

Haveria uma alegação de que dívidas de outro governo terão que esperar tempos melhores. Certamente esta é uma lenda que não se confirma, querem crer os artistas. Pois não existem dívidas de governos anteriores, elas são do governo. Gestores assumem governos, riscos e os empenhos herdados. Ou não?

A verdade é que, seja descuido, desinteresse, má vontade ou retardo de prioridade, quem sai perdendo são os artistas que não têm nada a ver com decisões que impedem que recebam seus cachês por serviços prestados, há três meses. 

Todos os anos esses artistas realizam um trabalho que + tem caráter de revigorar a memória e história local, que enriquecer com o cachê proposto, haja vista ser este de natureza quase simbólica, quando comparado aos cachês de artistas nacionais que recebem 50% no ato de assinatura de contrato e os outros 50%, logo após concluído o serviço.

Os artistas locais ficam à mercê do interesse caprichoso do governante. Dessa feita, já há três meses aguardando decisão de sensibilidade política, caso haja isto da parte de gestores.

Em país que os impostos são escorchantes e nunca perdem prazos de cobranças e dedução, termos um estado e município quebrados é uma temeridade. Parece contos de fábulas do esquecimento da realidade.

Senhor governador, assim como assessores, secretários, carregadores de confiança da pasta executiva, artistas também têm contas a pagar. Artista não vive de fantasia, transforma memórias, histórias e cotidianos da cidade e estado em ato de arte que repercute a realidade e, por vezes, vive desse trabalho, tão necessário quanto qualquer outro.

O atual discurso governamental da pasta de publicidade (secretaria de comunicação oficial) valoriza o brasão e as coisas claras que mantenham a melhor imagem do estado. Brasão, marca, signo, sigla, logo, geram a identidade de pertencimento e empoderamento das falas públicas, neste caso da representação do estado executivo.

A santíssima trindade se instalou nos negócios dos estado e no discurso público de falas de aceitação e convencimento de mudança, diferencial e fuga de erros de administrações anteriores. Plataforma de ganho de confiança coletiva. 

Logo, uma melhor imagem que não contrarie o discurso do governo, aparecer bem na fita, deveria abrir prioridade de pagar o devido aos artistas.


(bandeira do Piauí/divulgação)

Têm-se visto, nas solenidades público oficiais, o regurgito de loas à mulher do governador, deputada estadual e empossada primeira dama do estado, como sendo pessoa de sensibilidade voltada para ações que assumam compromisso com o fazer governamental e com a cultura do estado.

Senhora Juliana M. Sousa. , os artistas aguardam seu interesse e dedicação  voltados à cultura. Pagar artistas também é cultura. Cultura de respeito ao teatro local, aos profissionais que emprestam seu tempo a serviços públicos do governo, à valorização da cena que tanto orgulho tem prestado ao estado e mantido reconhecimento fora dele.

Quem deve, deve. Dívida é dívida e não é de partidos, legendas e estratégias eleitorais, é do estado. O governo que assume o estado tem dever moral e cívico de honrar essas pendências deixadas por gestores anteriores. 

Caso haja má condução dos negócios do governo anterior, que sejam acionadas as assessorias jurídicas de governo, pagas pelo contributo cidadão, e que estas façam seu papel. 

O papel do artista é cumprir sua parte. Esta já foi realizada dia 13 de março de 2014. O do estado é fazer valer atitudes de políticas públicas de cultura e interesse coletivo e honrar compromisso, da gestão de cargo público executivo, criado a partir da perspectiva de orçamento planejado às ações do governo.

(bandeiras, arte e artistas n'A Batalha do Jenipapo/foto cel. Jorge Carlo)

"A Batalha do Jenipapo", a peça, sempre foi sucesso mesmo que políticos façam-se de rogados e torçam o nariz para obras de arte que representem também o estado de cultura da nação. A Batalha dos artistas tem sido, até aqui, aguardar que o governo do estado cumpra sua parte no acordo que envolve arte, cultura, memória, história e respeito pelas coisas do fazer artístico local.

Senhor governador do estado, já que não parece ter encontrado tempo para receber o então presidente da Fundac, Scheyvan Lima, que esforça alguma intenção de tratar do assunto, pagamentos atrasados (Solenidade 19 de Outubro, em Oeiras; Opereta de Natal; A Batalha do Jenipapo e Dia Mundial do Teatro - 27 de Março), então trate, desse despacho executivo, V. Excia. mesmo.

Artista também vota e tem contas a acertar com credores. O cachê de 13 de Março é direito, não favor político.

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