terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cantou bem

Meu velho amigo Jerry
por maneco nascimento

No painel gigante, ao fundo do palco, em letras bem visíveis se lêProjeto Seis & Meia O vaqueiro termina de vestir o gibão para correr atrás do tempo. Apaga-se o lampião. Num antigo forno de barro se faz o beijú. A manteiga da terra recobre o cuscuz de arroz pilado nas primeiras horas. A carne de bode seca (...) ao sol. Ao longe o barulho do trabalho árduo dos macetes na quebra de coco (...)”. Essas memórias afetivas parecem querer aproximar o público da ideia do projeto musical e a memória afetiva rural. A licença cumpre a letra.
(o eterno Bom Rapaz/foto: Vítor Sampaio)

Em diversas edições em que pude assistir aos shows, fora a primeira vez em que meus olhos se desviaram do artista para ficar no discurso  poético, por algum momento.(...) se amar demais (...) foi o meu mal (...)”, mais uma vez amei esse bom rapaz chamado Jerry Adriani. Aquele homem com sua camisa social, verde discreto, calça jeans e sapatos elegantes, o cantor de voz inconfundível entra em cena e faz o que melhor soube ao longo de já quase meio século.

Bem humorado, educado, solícito com seu público e orgulhoso de retornar, mais uma vez, em Teresina, Jerry Adriani estava muito à vontade para rir, mostrar sua ginga jovem guarda, contar casos da vida artística, rever as velhas memórias musicais e cantar muito bem. “Às vésperas de completar meus cinquenta anos de carreira (...)Em 2014, completo cinquenta anos de carreira e quarenta e nove de idade”, brinca Adriani.

Agradeceu a todaa gente que acredita na memória da história brasileira”, a quem acredita e insiste na preservação da música brasileira. Lembrou-se do surgimento da Jovem Guarda e das manifestações contrárias ao movimento. Falou da importância dePreservarmos os nomes (...) para existir o Luã Santana (...) existiu um Jerry Adriani lá atrás”, complementa o artista sobre os novos rumos e hits da MPB.

Um amigo que assistiu ao show, do meu lado, se dizia impressionado com a mesma voz, clara e firme. Para ele, parecia estar ouvindo as gravações dos grandes sucessos de Jerry, em LPs. Para quem cresceu ouvindo o cantor em discos, ou nas programações de rádio, ouvir novamente e, ao vivo, a voz do roqueiro romântico de jovens em guarda revelados, não há preço. Especialmente porque a performance e energia do artista são contagiantes.

O homem grato pela carreira, público, memórias felizes, amigos. Homenageou colegas de profissão e geração. Disse ter estado com Wando, dias antes do artista desaparecer. Lembrou Reginaldo Rossi e pediu uma oração para que o amigo supere essa. Na carreira, descobriu que Tinha um cara que me imitava”, riu conosco e cantou versão para “Kiss me quick” (Elvis Presley) e brindou o público com “Me Beija Assim” (autor/versão - Cury), com registro vocal anasalado charmoso de sempre e rock melody para rock gospel do rei do rock.

De Raul Seixas, de quem se tornou amigo e trabalharam juntos, cantou “Cowboy fora da lei”. Ouviu todo mundo, trocou ideias, brincou, provocou o público sempre com humor super respeitável e atendeu pedidos. De uma aniversariante do dia, abriu espaço para italianíssimas. Rosas Rubras também não poderia faltar. Sidney Magal e sua “Sandra Rosa Madalena” não ficaram alheios das homenagens.
(o público de Adriani/foto de Vítor Sampaio)

As clássicas nunca poderiam ficar de fora. O público já pedia “Querida”, desde cedo, mas ele cantou na hora certa e disse que se ela faltasse, poderia “apanhar” dos fãs.” Doce doce amor” veio seguida de “Querida”. Também contou um sonho que teve com Tim Maia, novinho, magrinho. Confessou ter saudade e que de certo o velho Tim queria lhe falar alguma coisa. Já anunciando o fim da noite, que ninguém queria ver acabada, interpretou uma canção como bênção para todos. “Pai nosso” emocionante no vozeirão jerryadrianico.

Depois anunciou o que mais se esperava. Os grandes hits da Jovem Guarda. Ai foi um doce deleite. “Menina linda”; “Rua Augusta”; “O bom rapaz”; “Pode vir quente que eu estou fervendo”; “Coração de papel”; “Namoradinha de um amigo meu”; “Alguém na multidão”; “Esqueça”, et all.

Apresentou a Banda. Parabenizou o Theatro 4 de Setembro e toda a equipe da Casa. A Banda Roupa Nova também esteve presente com “Um sonho a mais”. E, com o bônus extra, desejou feliz natal e entoou “Noite Feliz” e “Bate o sino”.

Agora o fim mesmo foi comTudo que é bom dura pouco”. O que ninguém queria é que durasse tão pouco. Mas durou um tempo de prazeres e felicidade memoráveis. E amar demais, ser bom rapaz foi o meu bem, meu mal de amor por Jerry Adriani.

O Projeto Seis & Meia, mantido pelo Governo do Estado, através da Fundac, ganha estilo continuado de memória e história da música popular brasileira aqui praticado. Encerrou as atividades de 2013 com chave da cidade, que reluz música, entregue ao carisma e talento comprovado do príncipe Jerry Adriani.
(o artista entre amigos piauienses)

O artista a agradeceu com alegria a volta a Teresina, "Me dar a alegria de estar aqui depois de cinquenta anos. Os cinquenta anos que começam agora.", felicitou-nos o artista.

Que venha 2014. Esse ano foi ouro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário