quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Teatro paranaense

À sombra da pereira
por maneco nascimento

“A Pereira da Tia Miséria”, montagem paranaense, assentou palco na Praça Landri Sales (do Liceu), zona centro/norte, na tardinha do dia 05 de novembro de 2013, a partir das 16h30. Era Dia da Cultura Brasileira e, nada melhor que um espetáculo de teatro, na rua, na praça e na fazenda de tecidos multicores da arte do fingimento. A montagem de Londrina. O coletivo, Núcleo Ás de Paus que armou seu carroção da cultura e mandou ver.
 
A cenografia, uma pereira com frutos, forjada à base de ferro galvanizado, tecido, sisal  e copa de guarda chuvas.

Os figurinos, prospectados na cultura de contos fabulares e extraordinários e envoltos na tradição dos mitos naturais do imaginário popular preenchem o olhar do espectador. Ricos, criativos e emblemáticos.

A dialética da árvore da vida, ou árvore do mundo, parece se estabelecer à vida e à morte e à miséria humana em dialogismo para uma mãe que enfeitiça a morte, prendendo-a na árvore da pera. O feitiço só é desfeito quando definido acordo tácito de que a vida e a morte não podem coexistir sem a representação real, também, da miséria.

A guerra, a morte e o impedimento da consumação desta (por conta do feitiço), as misérias, fraquezas e (in)determinações humanas ganham peso de lúdico e fabular nas interpretações seguras e concentradas, no drama de “A Pereira da Tia Miséria”.

Dramaturgia rica de pesquisa musical, contextual de drama reflexivo para teatro distanciado em que os intérpretes montam pernas de pau e ampliam a cena para o popular, com elementos do circo, animando persona e coro da tragédia humana.

As máscaras trágicas se mimetizam com os figurinos e detêm maior estética a todo o corpus do corpo cênico, concretizado ao teatro contemporâneo. Cantam e expiram corpos falantes em expansões e economia do teatro traquejado com eficácia. Os adereços e contrarregras também inflamam ao eixo pontual das respostas dramáticas conseguidas.

(máscaras trágicas e figurinos em cores quentes e terrais/fotos divulgação)

Ponto para a contrarregragem ágil que incorpora o apoio técnico aos artistas que trocam de figurinos e adereços num pragmatismo muito artístico e sempre teatral. O Palco Giratório girou + uma vez em rumo de terras mafrensinas e nos possibilitou uma grande sacada cênica à cena de rua, em pernas de pau e corpus de estética que passeiam pelo medieval, reinventado e transcursado às novidades do rico teatro brasileiro.

 “A Pereira da Tia Miséria” transversaliza o mito da árvore da vida que alimenta, cria e mata, prende e liberta. Da árvore verde da abundância; a árvore-mãe de religião, ritos, mitos e profandades, paraíso eterno, nesse caso, da miséria.

Intertextual da árvore das Fadas (celta) às vezes da feiticeira (Tia Miséria), ou da macieira de Avalon, ou a qualquer mito religioso primordial de qualquer construção social dos povos do mundo.

A representação da árvore e da mulher, fada ou bruxa, detentora da mora, dos destinos da miséria humana, está muito significativa, na metáfora do bem e do mal, características da humanidade em sua completude e falhas trágicas.

O Núcleo Ás de Paus tem uma cartada cheia no baralho da dramaturgia nacional. É jogo bem realizado.
(Tia Miséria e sua Pereira/fotos: divulgação)

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