sábado, 3 de agosto de 2013

Quem não LIZ

Quem não LIZ
por maneco nascimento


(Faces de Lizmedeiros, anjo guardador/foto Francisco Gilásio)

“Os olhos dela são de um verde de tanta luz que fizeram sua mão sair por aqui e acolá pintando a vida, as celebrações da vida, as mutações do viver. Claro, a esperança (...)” (Fonseca Neto)

Quem não conheceu os grandes olhos verdes da esperança, não LIZ. Mas não é sem muito esforço que qualquer um poderia ter visto, ou lido belas orações impressas em obras de arte. Apreciar uma tela em que as palavras fazem curvas, linhas, redemoinhos de intenções em chamar à atenção para as marcas dos pincéis e cores alegres que reverberam vida, memórias infantis, familiares, religiosas e humor gracioso das personagens imortalizadas pelo traço Lizmedeiros.


(Faces de Lizmedeiros, os rostos expressivos/foto: Francisco Gilásio)

Inquietos e calorosos sentimentos de coletivizar AMOR solidário e aquecido, no peito aberto, que apreendesse o apreciador da arte pictórica é que a querida Liz, em salto do gato de Alice, sorriu às tintas estilizadas e a “partir de um determinado momento, passei a inserir, nos meus desenhos e pinturas, fragmentos de textos. Não que a expressão plástica fosse insatisfatória, mas tenho necessidade de contar algumas histórias e não consigo só com traços e pinceladas, o texto surge incorporado ao desenho. Não tenho, aliás, explicação lógica para isso.” (Lizmedeiros)

Assim obras como “Colo de Mãe I”, a peça conta história da memória da infância, olhar infantil em colo materno para bogarins e rosas vermelhas, entre outras piscadelas. Em “Família I”, o anjo guardador sobrevoa a família, enquanto a oração do anjo da guarda se espalha pela tela. Na série a “Amor primeiro”, uma das obras depreende a Salve Rainha, enquanto a mãe ajoelhada, aos pés da cruz, vela o filho crucificado. A tela quase toda é a pinceladas de vermelhos e azuis e a mãe flagela os joelhos em terra amarela ferrosa.

A outra “Amor Primeiro” tematiza o olhar da artista para uma oração à “Pietá”. Obra dominada pelo vermelho sangue, só quebrado pelo azul da virgem Maria. Há um coração em vermelho quente trespassado pela espada. E a terceira “Amor Primitivo”, em oração maternal Maria amamenta seu bebê, enquanto a história contada também pelos textos sobrevaloriza a imagem. As cores suavizadas para o rosa bebê de aproximação do menino Deus, “preso” ao colo da Mãe em oracionada ação de amiga do peito.

A homenagem a Mário Faustino também é comovente, poética e ciente de respeitosa admiração. Nos apresenta numa série, em duas peças. A primeira, “Aqui JAZ aquele cujo nome traçaram os VAGALUMES cujo perfil formaram as PÉTALAS caídas antes do DIA e do VENTO" (Lizmedeiros 2001) e a segunda obra, "gaivota vais e VOLTAS. Gaivota, vais e não VOLTAS Mário FAUSTO E HINO” (Lizmedeiros, 2001).

E para o amor e rosas, revela “QUEM AMA, AMA, NO mato ou NA cama” (Quem ama, ama – Lizmedeiros 2003) e ainda “ROSAS VERMELHAS QUE FICOU DO AMOR QUE ACABOU” (peça erótica em vermelho intenso e personagens perfiladas em traços no preto. “Rosas Vermelhas”, Lizmedeiros 2003)


(Faces de Lizmedeiros/foto: yayhypemagazine.com.br)

“Faces de Liz – manifestação que se realiza a partir de emoções, ideias, dando um significado único e diferente para cada obra (...) apresenta não apenas uma diversidade de linguagem, mas também as inquietações presentes nas questões que marcaram sua arte. O ciclo diversidade é representado como uma mandá-la, não tem começo, fim, sequência lógica, tudo circundava um centro que é o AMOR (...)” (Instituto Lizmedeiros)

O visitante da Exposição pode viajar em expressões impressas para “Flores Azuis”; “O Livro” (2003); “Anônimos I e II”; “Caras Tristes”; “O casal”, obra refletindo o nú sensual; “Tocadores de violões”; ‘Obra inacabada”, em vermelho e preto; “Floresta protegida”, em oração reflexiva sobre o planeta e (in)civilidade da humanidade; “Caras”, obra de beleza recorrente no acervo da artista; “”Palhaço I e II” e “Circo Dr. Alegria”, a  contagiante temática infantil de suas pinceladas; “Aquela Bicicleta”; “Negro”, em reprodução anatômica perfeita; “Estudos sobre a mulher em sépia”, expressionismo suavizado pelo desenho delicado.

(Faces de Lizmedeiros [Obra Inacabada]/foto: yayhypemagazine.com.br)

“MÁTRIA – Liz foi uma mãe farta, o seu colo era macio e disponível para muitos filhos. No lar ensinava o princípio fundamental da vida – o amor – fazendo arte e usando todo esse poder nato de ser mãe. Cada amanhecer era apaixonar-se pela vida, a fogueira de sua existência se reacendia e a mãe Liz, saía ou ficava, produzindo uma arte que se entranhava nela mesma, alegre, colorida, cheia de brincadeiras, de histórias, seu cotidiano, família, filhos, marido, amigos, religiosidade, sexualidade... era mãe criança (...)” ( Instituto Lizmedeiros)

Outros legados em obras, para o diverso das técnicas, a ver “Estudo Negra e Flores” e “Corpo de Mulher” (desenhos); “Vacas e Bois” e “O casal” (óleo); “Negra de turbante”, “Casal de dançarinos” e “Cesta de Flores” (aquarelas); Série ‘Pássaros” (marrecos, tucano azul e flamingo); “Permutação de dia BNH; “Dançarinas” e “Dançarinas aquáticas” (lápis e aquarela) e a belíssima obra “A Santa Inquisição”, trabalho de finalização de curso na Escola de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1985).

(Faces de Lizmedeiros[detalhe de A Santa Inquisição]/foto: Francisco Gilásio)

“(...) era mãe criança. Ilustrou livros infantis, histórias contadas nos terreiros das fazendas, ah!, nos seus desenhos, outras histórias se desenrolavam(...)” (Instituto Lizmedeiros)

Maga das pinceladas que a fez conhecida, também, pelo colorido intenso, os rostos expressivos e pelas mensagens imprimidas nas telas, Lizmedeiros não só tornou-se uma grande representante da arte pictórica brasileira, da cepa piauiense, como também na contagiante disseminadora da alegria e solidariedade traduzidas nas tintas. Posterizou-se, através de sua arte, como a Mensageira do AMOR.

Quem não LIZ, não aprendeu do seu amor revelador.

Expediente:
“Faces de Lizmedeiros”
Na Casa da Cultura de Teresina – Praça Saraiva – Centro
Até 16 de agosto das 8h às 18h

Ação de Recepção: Sala de interação com crianças de escolas públicas e privadas. Contação de histórias com Márcia Evelin.

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