quinta-feira, 25 de julho de 2013

Memórias e urbanidades


 Memórias e urbanidades
por maneco nascimento

à margem do rio, terra vermelha – noite açafrão
aceito o convite proposto pelo céu
um caminho de constelações acesas Meu corpo,
vaga-lume das estrelas 
uma embarcação à deriva
à procura dos mistérios envoltos nas cercanias do capinzal
A noite adensa provocações e convites
embalo das águas, sobe-e-desce das canoas
cricrilar dos grilos
 (à margem do rio, terra vermelha - noite açafrão/rodrigomleite)

Um poeta vibrando juventude no risco das palavras e no jogo das semânticas e sintaxes premeditadas. Do traço urbano radiografado nos sinais de trânsito, nas periferias geográficas e humanas, nos tempos de existir e de ser transeunte coptado pela pena do poeta, essa é a licença em poesia de mleite.

Também as memórias rurais e campesinas ganham frescor que poderiam intertextualizar Manoel de Barros, sem a pretensão de repetir o mestre da poesia, mas repercutir os próprios efeitos de brincar com as palavras e cogitar torquatianas prosa e poesia “avangard”, ou lirismo e libertação de Manuel Bandeira e Drummond e sertão joãoguimarãesroseano nas cercanias da aldeia e raiz como verdadeira arte, vaticinada por Galdí.

baldio entre brumas, 
namoro os aspectos fugidios
assombros vaporosos atrás de arbustos
assobios de seres estranhos imaginários
ninfas vulneráveis zanzando névoa Eu selvagem,
córrego de signo esfomeado pela quinta
sofrendo com alheia beleza da terceira
margem – onde as galhas ferem meu curso 
semiárido de quebradiça 
pele-agreste
 (nenhuma sereia serena/rodrigomleite)

(1° flyer (16.07.13/imagem colhida de atmosferacerrado.blogspot.com)

Serei sereia das imagens míticas, ou do imaginário popular, ou ainda nereidas urbanas impingindo loas e cantos de atração nos atracadouros de passagem dos caminhoneiros do Balão da Taboleta, onde o atraído detém-se ao tempo de convivências fugidias e furtivas com musas e ninfas esqueléticas que povoam as esquinas das periferias da cidade que ninguém enxerga, ou finge que não vê.

Assim é anti herói o heróico construtor das frases e orações metrificadas em versos e reversos da humanidade fora do eixo dos bem vestidos e das convenções da cidade limpa. Na cidade frita, rodrigomleite é sensibilidade declarada, poeta aguando a videira em flor e sem pressa de colher o fruto para aguardar que tonéis lhe devolvam vinho assentado.

(autor rodrigomleite/imagem colhida do perfil de página atmosferacerrado.blogspot.com)

É poesia livre, inteligente, delicada para razão e sensibilidades apuradas. É fato. E poesia que gera deleite pela obra de mleite. Simples, porque caminho de arte desprovida de gorduras e sem forçação de barra para compor sua canção de crônica poética. Não compõe intenção para código de barras, só a código linguístico de expressão para antropologias ampliadas.

A cidade frita, de rodrigomleite, se muito se representa é porque tem força criativa, estética de linguagem própria, estilo conceitual de homem particular hdobadiano, sua letra e sua lei de fazer poético que espelhe o coletivo em reflexão.

Retém nas letras flexibizadas memórias e urbanidades que o retira do lugar comum e nem o quer operário da construção beletrista, talvez um operário em construção que vinicie outras intenções e extensões do poético em contemporâneo exercício da criação.

Expediente:

atmosfera cerrado - sul experiências 
poema: nenhuma sereia serena / rodrigo m leite
visite: atmosferacerrado.blogspot.com.br


+ versão.pdf do livro A Cidade Frita

visite: amusaesquecida.blogspot.com.br

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