sábado, 9 de março de 2013

O céu dos divinizados



O céu dos divinizados
por maneco nascimento

A AIDS é uma praga gay. Gays são pervertidos! Jesus reprova o comportamento homossexual!
(Marco Feliciano – político – 2012)
 (pastor deputado Marco Feliciano/foto: Alexandra Martins/Agência Câmara)


Nessa semana que se passou, na Câmara Federal, a Casa ganhou + uma vez forma e força popular de manifestar indignação e repúdio. De um lado, os que defendem direitos humanos e minorias e, do outro, os paladinos dos direitos “divinos” e acordos políticos da base aleijada naquela Casa legislativa. A indicação de um pastor/deputado à presidência da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal gerou protestos, adiamento da eleição e um escrotinho, digo, escrutínio a portas fechadas para sacramentar o parlamentado Marco Feliciano.
 
(manifestantes, em Brasília, contra Marco Feliciano/foto: Felipe Néri)

 É fato que, os acordos de companheiros e camaradas, do diverso das siglas, com seus pares de interesses e conveniências afins, deram como bola certa o homem que hoje, no Brasil, representa a reprodução do próprio discurso, em púlpito, de exclusão, discriminação, preconceito, e fomentação do enviesado às relações de tolerância às diversidades, sejam étnicas, culturais, religiosas e de orientação sexual.

Durante a sessão da última quinta-feira (07), os fundamentalistas tentaram impedir a fala dos deputados que lutam historicamente na defesa dos direitos humanos. A deputada Erika Kokay (PT – DF) não se calou: ‘Se nem a ditadura conseguiu caçar a minha palavra, os obscurantistas também não conseguirão!' "

Houve deputados que se ausentassem da sessão para não participarem do que foi considerado como  ditadura e houve também quem defendesse a nobreza questionada do pastor político. De portas fechadas a manifestantes, a Câmara Federal fez o PSC vencer.

Ainda sob protestos e a portas fechadas, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados elegeu, na manhã desta quinta-feira (7), o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir o colegiado. A vice-presidência ficará a cargo de Antônia Lúcia (PSC/AC). A votação ocorreu com 11 votos favoráveis, dos 18 membros do colegiado. Pastor da igreja Assembleia de Deus, o deputado causou polêmica em 2011, quando publicou declarações polêmicas em seu Twitter sobre africanos e homossexuais. ‘Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome... Etc’, escreveu o deputado na ocasião. Ele também havia publicado na rede social que ‘a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição’". (www.G1.globo.com/Felipe Néri - Brasília/ 07/03/2013 11h23 - Atualizado em 07/03/2013 13h16)

Muito barulho por nada? Não. Todo barulho gera algum desconforto e ruídos a serem reparados e a campanha contra essa imposição de determinada facção parlamentar ganha força nas redes sociais e protestos gerados nas diversas capitais brasileiras, contra o que foi tratado como ditadura estabelecida à Câmara Federal.

A eleição foi iniciada após a saída da sessão de deputados contrários à escolha de Feliciano, indicado pelo PSC para ocupar o cargo. O ex-presidente da comissão, deputado Domingos Dutra (PT-MA), renunciou ao cargo momentos antes da votação e se recusou a dar continuidade à sessão. ‘Me retiro nesse momento em nome do PT e me retiro em meio a uma ditadura que foi estabelecida aqui', disse o deputado.” (Idem)

O deputado do PSOL – RJ, Jean Wyllys também fez frente durante esse confronto, na tevê mostrou sua indignação e manifestou-se emocionado sobre a manobra política. Suas falas, em outro momento, acerca do assunto foram reproduzidas no facebook.

(...) Esse fato não é escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição. Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos (...) Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos (...)” (JEAN WYLLYS, PSOL-RJ)

As liberdades e democracia brasileiras nos dão as garantias não só de escolher representantes, como também de cobrar deles posturas + éticas, de âmbito inclusivo, coletivas e de amplo interesse a qualquer cidadão brasileiro. O que parece estar ocorrendo no Brasil é uma manifestação de discurso religioso, de determinado seguimento de igrejas que, dentro do congresso, talvez queira legislar à “purificação” social a partir de olhar particular à Bíblia. Esse talvez seja um grave risco em qualquer sociedade, especialmente àquelas com postura laica e aberta.

(...) Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares (...)” (JEAN WYLLYS, PSOL-RJ)

O país manifestante não está chovendo no molhado.  A resposta será social, coletiva e virá em seu tempo. Nas instâncias legislativas do País, em Brasília, que reúnem políticos como Renan Calheiros (PMDB – AL), Eduardo Henrique Alves (PMDB – RN), Jair Bolsonaro (PP – RJ), senado e câmara federal, respectivamente, também abre espaço natural para parlamentares + comprometidos com direitos universais e deveres com a malha social brasileira, muito sujeita a injustiças e intolerâncias.

Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger (...) vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!" (JEAN WYLLYS, PSOL-RJ)
                                 
(manifestantes, em Brasília, contra Marco Feliciano/foto: Felipe Néri)

Uma novidade, dentre as demais escatológicas, em Brasília, vai povoar a mídia e a indignação nacional durante algum tempo. De certo é que o Brasil de parlamentares com o diverso de matizes, o que é muito natural, também se configura como terra de divinizados na busca de um céu aos eleitos. Haverá tentativas de inverter direitos + amplos, já discutidos e adquiridos a uma coletividade.

Ameaças sempre existirão. A história da humanidade está cheia delas. Ao Brasil, basta acordar à justiça social e honrar o povo brasileiro.

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