sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Trilogia da mímesis


Trilogia da mímesis
por maneco nascimento
Depois da crise com direitos autorais, o Grupo Harém na esteira da estética de se reinventar, passa a investir em dramaturgia autoral e, nessa perspectiva, monta a peça número dois da Trilogia Ciência e Dramaturgia hareniana. “Macacos me mordam – A comédia” abriu o triângulo das desnudas intenções. O segundo vértice cênico da Trilogia atende pelo nome de “Abrigo São Loucas”.
“Abrigo São Loucas”, de texto autuado-flagrante das oficinas de criação de Arimatan Martins, tem estréia agendada ao dia 27 de janeiro de 2013, em Floriano, no Teatro Maria Bonita, às margens do Rio Parnaíba que separa o Piauí da maranhense cidade Barão de Grajaú. E, para essa nova montagem que o Grupo escolhe trabalhar com elenco menor, estão na cena emparedando a loucura de viés do humor inteligente, os atores Emanuel Andrade, Fernando Jorge Freitas, Francisco de Castro e Francisco Pellé.
A dramaturgia rege picardia, ironias e inteligência dramática garimpadas ao teatro do humor (re)afinado para públicos fins e afins de uma boa dose de diversão, entretenimento e crítica reflexiva ilustrada de forma que ninguém perca o fio de Ariadne, nem os labirintos da cena distanciada. Peça em comédia político absurda, às vezes de “esperando um novo tempo bom”, como argumenta Arimatan e sem deixar de intertextualizar Godot, mas dentro da estética própria do Harém.
As personagens, três ex-primeiras damas, que se chamam Maria, são peças do jogo do inventário popular (de histórias reais). “Abrigo são Loucas” é uma obra de ficção, mas qualquer semelhança com pessoas, ou fatos reais será esmera coincidência, é o que defende o Grupo. O enredo reflete desde contextos da farra com dinheiro público até a Lei de responsabilidade Fiscal.
As Marias construídas às personagens prezam pela tradição da comédia, com todos os componentes molierescos, com suas ironias de crítica voraz, de feroz estocada aos costumes. Em Molière, a crítica aos médicos. Em Arimatan, aos políticos. As três ex-primeiras damas são matriarcas, amalgamadas em conceitos antigos, retrógrados e reacionários. A decadente ex-proprietária de terras e fazendas; a emergente e a representante das classes populares.
São mulheres, mães, esposas e humanas. Fora do ciclo do poder, armam para voltar ao centro da viciosa tradição do poder. Estão juntas pelas circunstâncias, mas há uma crueldade que as separa e as interliga a um propósito e ou falha trágica do mundinho corrupto que viram ruir, sem que pudessem manter os padrões que refestelavam enquanto esposas de políticos “bem sucedidos”.
“Abrigo São Loucas” está sinalizado numa dramaturgia sob a égide feminina, o signo da mulher à sombra da política e dos desdobramentos que esta posição social lhe impõe. Regurgitam memórias áureas e conspiram a reconquista do território antes marcado pelo mijo do alfa das alcatéias.
Vem riso grosso pela frente. Que viver, verá a segunda peça da Trilogia Ciência e Dramaturgia hareniana, em breve ns palcos de Teresina. E, para os que já viram “Macacos me mordam – a comédia” (arte e ciência), verão “Abrigo São Loucas” (arte e política), não perderão por esperar o terceiro elemento, “As Bestas” (ciência e comportamento), já nas forjas de Hefestos só aguardando a hora de tornar-se “armadilha” ao público da cidade.
Atenção, ao dobrar uma esquina,olhe pros lados, a Trilogia Hareniana vai invadir suas raias, da loucura, do humor e do teatro premeditado. É mímesis da estética apropriada fazendo chegada.

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