sábado, 19 de janeiro de 2013

Ofício do Ator


 Ofício do Ator
por maneco nascimento

Arte do ator, como a natureza de luz e ocaso, está para brilhos e recolhimento, quando se abre ou se fecha a ribalta. Mas enquanto há um ponto de luz e um mapa dramático a ser explorado, lá está o artífice do fingimento e o artista da expressão de reinvenção de enredos, da mímesis destacada da vida imitada. 

Assim nasce o ator/atriz correndo atrás de uma vida de “mentira”, expressa como uma verdade, porque a práxis do(a) intérprete é a do convencimento.

No último dia 15 de janeiro de 2013 foi reaberto um dos projetos de iniciativa cênica + legais aos dias da urbe. O idealizador do evento João Vasconcelos. O local de competência de acontecer, o Bar do Clube dos Diários. A geografia da cena, entre as mesas e clientes. O nome do Projeto “Eu, você e o Teatro da minha Vida”, reaberto ao exercício de 2013 às Terças Cênicas do BCD.

Projeto simples. O artista se agenda e faz a sua parte. Manda ver na terra de domínio de seus pés. Em meio aos burburinhos do carro que passa, do transeunte que para, olha e se se interessa e estaca por um período de tempo para acompanhar uma manifestação da arte da cena. A cenografia técnica do espaço, um ou dois pontos de luz que pendem do teto do Bar para abrir luz ao artista. Cenário e adereços vêm no matulão do(a) performer. O resto é arte do(a) artista.

No último dia 15 de janeiro, a partir das 19 horas, foi a vez do espetáculo-performance “Chuva Ácida” sinalizar as entradas e bandeiras do Projeto ao ano 2013. Com texto de Valdir Medori Jr. e interpretação delicada de Jean Pessoa, “Chuva Ácida” se desenvolve a processo de mergulho do intérprete-criador em que Jean se permite pela auto-direção de mapa dramático. 

O material de processo apresentado, segundo o próprio Pessoa, um experimento para texto curto que, numa busca sua a exercício de cenas curtas, descobriu numa garimpagem direcionada. Bateu os olhos em “Chuva Ácida” e achou a pérola desejada. Um texto de 2008, de autor definidor, em síntese, da alma humana através de dramaturgia literária à cena que especula um futuro (presente) de desordem climática, ou intrínseca acidez humana e mortal.

A chuva é a ameaça de derretimento das gentes. Nas falas da urbe representada, um discurso de memória de abandono, de idades e faixas etárias comparadas e ou revigoradas ao nostálgico amargo e reflexões acerca do futuro de ameaças advindas em sinais dos tempos de hecatombes, disfarçadas sob licenças poéticas e ironias ácidas da natureza do homem (genérico).

O tempo de quem? Dos pais, das crianças, dos jovens, da nova cultura de valoração de novas “frescuras”?. O tempo sem tempo dos velhos tempos. Sem tempo às doces felicidades desperdiçadas, ou preteridas pelas vezes de quem dita a ordem do tempo. O tempo de ninguém? 

(...) Na minha época não tinha dessas coisas não. A gente podia andar na rua sem guarda-chuva, sem óculos escuros de sol (...) Enquanto os velhos comiam churrasco e bebiam cerveja, caipirinha (...) A época era deles, não minha (...) A mulher do tempo falou que vai parar de chover amanhã. Elas sempre erram (...) A chuva derreteu os fios. Black out na cidade... Se continuar chovendo assim...

Na dramaturgia do ator/diretor, vencer o medo e sair à rua protegido de guarda-chuva (minimalista). Um todo enredo econômico, elaborado na esteira de texto sintético, possibilita ao público, envolvido enquanto assistência, uma sensação de beleza introspecta. 

Uma estética aplicada ao corpo que fala, queimando expectativas, ardendo possibilidades de sobreviver à “Chuva Ácida”, que cai lá fora e encharca aqui dentro, a mente da platéia.

Valdir Medori Jr., “Chuva Ácida” e Jean Pessoa, uma sintonia expressiva. Obra aberta para escolhas ou não escolhas de avançar para a chuva. Os artistas estão encharcados pela obra. Derretem o selecionado entre o cascalho e dão brilho à cena brasileira.

Um comentário:

  1. adoro ler o maneco, vinga! diz o que não vemos, ver o que não dizemos, me reaprendo a cada leitura nova,outra forma de ver o que se viu! valeu amigo!

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