segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Direitos hermanos

Direitos hermanos
por maneco nascimento

A Sala Torquato Neto (Complexo Cultural Clube dos Diários/Theatro 4 de Setembro) recebeu de 19 a 24 de novembro de 2012, a 7ª. Edição da “Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul”. Uma diversidade de cinema para quem gosta e, ou é aficcionado pelo encanto e magia da sétima arte reveladas pela técnica e ato criativo do diretor de cinema.

O Piauí já participa da Mostra desde a 3ª. Edição e, segundo o coordenador de viabilização da Mostra, em Teresina, o promotor cultural Walfrido Salmito, a cidade já absorveu muito bem e a cada ano está + integrada ao projeto. 27 capitais brasileiras envolvidas numa realização da Secretaria de Direitos Humanos e na produção da Cinemateca Brasileira/Ministério da Cultura, com o patrocínio da Petrobrás.

E para quem acha que é difícil realizar esse tipo de evento, acabará descobrindo que políticas públicas de formação social cidadã só não existe onde não há quem perceba que a arte e a cultura estão intrinsecamente ligadas ao fator social e às vidas das gentes, desde a reprodução da realidade expiada até a abertura de reflexão e apropriação da identidade através da criação manifestada.

A Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul também recebe o apoio do Ministério das Relações Exteriores, da TV Brasil, SESC, Sociedade Amigos da Cinemateca – SAC, SASC e Governo do Estado. Não bastasse uma semana de filmes em curta e longa metragem, num amplo olhar de diretores, roteiristas, atores e técnicos dessa linguagem de audiovisual, há ainda, o melhor ângulo do Projeto que é ampliar a recepção, através da arte, e facilitar a reflexão e entendimento do papel social através da abordagem dos direitos humanos.

Formar plateia, instigar o interesse pela sétima arte, envolver alunos e professores da rede de ensino básico e informar cidadania reflexiva em repertórios de filmes e linguagem cinematográfica a viés de “Cine-Educação”. Numa das falas de W. Salmito, em que a Mostra ia ganhando vida interativa, disse que foram 37 filmes distribuídos nos horários das 10h, 16h, 18h e 20 horas e que a maior alegria era ver o público interessado e acompanhando as edições, desde a 3ª. Mostra.

Um dos ótimos exemplos de cinema nacional em exibição foi “Cabra marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho. Um público estudantil, atento, acompanhou o filme/documentário que conta a história de João Pedro Teixeira, morto por desmandos de detentores da propriedade rural brasileira. Esse herói rural das Ligas Camponesas morreu por defender os direitos naturais à terra e sobrevivência das gentes simples, sujeitadas aos coronéis do latifúndio nacional.

Embora o “incidente” criminoso que matou o trabalhador rural tenha ocorrido há 50 anos, em 1962, o filme sobre sua história tenha sido interrompido com os dias negros do golpe militar de 1964 e só retomado como documentário na década de 1980, quando o diretor voltou ao local para reencontrar os atores reais daquela história e dar continuidade ao filme, qualquer brasileiro se sensibiliza com o documento vivo que “Cabra marcado para morrer” reúne sobre a história da construção político-social brasileira.

Com a implantação da ditadura e seus dias de chumbo, todo o mundo envolvido naquela filmagem, sobre um homem brasileiro, ficou marcado para morrer. Fugas, prisões arbitrárias, torturas, clandestinidade, retomada da liberdade através da Anistia e reencontro dos atores reais daquele filme real, numa metalinguagem de recuperação e registro da memória social, um libelo da liberdade da arte do cinema nacional.

A 7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul – 7ª. Muestra Cine Y Derechos Humanos em Sudamérica, uma grande idéia dessas que só a reunião do propósito já está na contramão dos desvios sociais que presentes em qualquer sociedade. Direitos irmãos devem passar pela prática social de qualquer um e educação e formação cidadã é dever de qualquer um de nós.

Esse projeto já tem lugar cativo também em Teresina, agora só nos resta aprender a aprender a manter viva a chama do livre arbítrio da criação e facilitação do entendimento do papel social que cada brasileiro tem a cumprir. A arte e a cultura nos ensinam isto, o dever do Estado é promover essas políticas sócio-culturais.

“Derechos hermanos”. Direitos comuns. Direitos Humanos através da arte é também papel político. A 7ª. Edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul é prova viva de que desejo e vontade também geram ação política e cidadã.

Viva o cinema Latinamérica

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