sábado, 8 de setembro de 2012

Fábula Kabuki

Fábula Kabuki
por maneco nascimento

A cor da pele” é o nome da + nova dança do repertório da Só Homens Cia. de Dança, composta para essa montagem por Adriano Abreu, José Nascimento, Samuel Alves, Temístocles Reis, Felipe Rodrigues e Darkson Mikael. A coreografia é de José Nascimento. A estreia ocorreu dia 06 de setembro, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro.

É de longe a distância que essa Cia. de corpos falantes tem mantido do + que se produz de dança na cidade. Grupo cada dia + coeso, tanto na escolha de temas, como nas respostas buscadas na pesquisa e no regurgito da técnica burilada. 

De alguma forma,
 J. Nascimento e a Só Homens Cia. de Dança estão revigorando novas formas de intervenção na linguagem tradicional para movimento e formas que assumam o corpo determinante da dança.

Molduras”, inspirado no diário da artista plástica Frida Kahlo, entre outras ótimas iniciativas da Só Homens, já detinha identidade criativa e manejo da prática em sentido de fuga do lugar efêmero. Em “A cor da pele”, o coletivo na dança demonstra que + sabe quem sempre experimenta o risco, do que os insistentes em se fazerem impor por virtuoses variáveis entre a novidade de impacto incompreensível, ou o óbvio do exercício gasto.

Esse novo espetáculo tem uma acuidade de desenho coreográfico preciso, sincrônico organicizado e de tônus maleável numa tessitura de corpos e formas de invejável depuro da marca planejada. Uma força delicada que varia para a energia kabuki, desvinculada da carga dramática da arte oriental.

Da cenografia, uma caixa fechada com cortinas pretas em reserva do espetáculo para neutro de iniciação.
 Os Figurinos, de Adriano Abreu, acompanham, desde o início, a estética escolhida de abertura da fábula. Intérpretes em vestimenta preta preenchem os vazios da cena estimulados por sonoridades precisas.

No preto surge o amarelo, como o sol da meia noite, e pinça de nova cor a cena. Numa atomização em apresentação de matizes, o amarelo vai sendo substituído pelo azul e, em seguida, o verde toma o corpo do enredo até ser dominado pelo vermelho. O quente da rubra cor é também responsável pela quebra do paradigma da caixa cênica, até então em negro. A cada cor alternada, o figurino vai puxando o novo fio contado.

O corpus, que polissemiza a língua expressa em cores e corpos falantes, detém uma simbiose inteira de dramaturgia encenada, sem folga para distração do público. Do vermelho que parece dominar o enredo, a seu turno, surge a mudança à pontuação do branco, em sobreposição no cenário original da caixa escura. O branco sobre o preto.

O desvelar à cena final, a fuga do branco para debaixo do “tapete” escuro, até que se vislumbre a última cor do espetáculo, a da pele revelada, ao fundo. Última imagem para flagrante de fotografia de peles em postura costal livre. A fábula da criação, do breu à pigmentação do colorido, e do despir-se das cores interpretadas à cor nativa. A cor das gentes, o invólucro das anatomias criativas.

Quarenta minutos de ótima performance, em equilíbrio sintético e arte cultuada para presença de técnica decantada.
 O Desenho de Luz e operação de Danilo França não fogem ao esquema premeditado a cunho de obra que valora pesquisa, maturidade de escolha e de multiplicação da matemática da dança para ciência lúdica. A Pesquisa musical também fundamenta toda a encenação.

José Nascimento, responsável pela cartografia dramatúrgica apresentada, parece cada dia + afinado com o que possa aprender a aprender com os colegas intérpretes. Com experimentações, apropriadas de estética, em laboratórios finalizados para “Se eu te olhasse”; “Nar Brenha”; “Molduras”; “Trechos para Budapeste”, entre outros, consegue em “A cor da pele” um requinte de respostas ao tempo da construção cênica.

Há,
 na cena, exatas formas samurais de ilustrar sentimentos, sejam com a leveza de brisa em jardins de cerejeiras, ou vento caliente soprado desse lado ocidental. A obra vista, um brinquedo fabuloso, em viés livre, da criação da cor original a partir da expansão do neutro. Big banho de arte em dança concordada na busca estética.

A
 Só Homens Cia. de Dança tem conseguido tornar-se, de longe, o melhor sinal de dança nova por aqui laborado.

A cor da pele”, o + afinado e refinado coletivo em dança, do momento. A Só Homens Cia. de Dança é 10. Merde! 



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