sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sociabilidades e comunicação


 Sociabilidades e comunicação
por maneco nascimento

As sociedades convencionais foram sendo construídas a partir das intenções e, naturalmente, convenções de grupos, núcleos e lideranças que arbitraram caminhos para que se chegasse ao perfil organizacional que rege as civilidades, ou mesmo os coletivos sociais primitivos. É claro que os vasos comunicantes estão, inseparavelmente, presentes na vida social de qualquer um.

Dessa feita os encontros, as trocas de informações, os embates e as construções de sociabilidades, propriamente, regurgitam os princípios humanos da comunicação, troca de turnos lingüísticos que retroalimentam o ato comunicativo das experiências em sociedade. 

Da comunicação oral “tete-a-tete” à descoberta das ondas eletromagnéticas e as novas falas às longas distâncias, um salto da humanidade em escalas de amplificação comunicacional.

Das ondas eletromagnéticas ao rádio, um instante claro da ciência incansável. E, antes que o aparelho rádio chegasse em nossas vidinhas domésticas, outras estratégias vieram na frente para compensar a comunicação, ou limpar as veredas para a indústria de comunicação de massa falada, através do rádio.

Teresina em sua experiência de sociabilidades e estratégia de atração da atenção de quem precisa ser convencido do discurso, também manteve sua era da comunicação amplificada. 

Amplificadores de uma ou duas bocas, implantados em logradouros públicos, no centro comercial da cidade, para informar, noticiar e vender negócios.

(...) Eu sou da pré-história do rádio, isso nos anos 40, porque Teresina ainda era uma cidade provinciana (...) Em 48 eu tinha 16, 16 pra 17 anos. E eu comecei nas amplificadoras, isso com a idade de 12, pra 13, 14 anos, aproximadamente. Na Rua Barroso, onde é hoje quase defronte ao Banespa, ali existia a casa do Sr. Isaías Almeida e ali ele alugou uma sala para que os jovens que começavam a trabalhar em amplificadoras, evidentemente se especializando em saber falar e saber transmitir (...) Ali foi criada a Amplificadora Teresinense (...)” (SAID, 2005 IN Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.])

Da fala à oralidade, da elocução à oratória ampliada, do dito no silêncio ao exaspero das palavras vomitadas, o homem (genérico) sempre foi bicho comunicador e perseguidor de ouvintes para efeito de convencer o outro. E quanto + gente estiver assimilando a comunicação, então “tá dominado!”. 

Ainda na década de 1930, o centro da cidade de Teresina ganha um novo elemento com a instalação de rádio amplificadora na Praça Pedro II e na Praça Rio Branco. Nesse período, Teresina constituía uma das poucas capitais do Brasil que ainda não possuía uma estação de rádio (...) Na cidade havia várias amplificadoras, porém, nas primeiras décadas do século XX, basicamente duas eram de maior relevo: a ‘Rádio Amplificadora Teresinense’ e a ‘Rádio Propaganda Rianil’.” (Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das ondas ZYQ-3: A Rádio Difusora de Teresina na década de 1950/[Idem])

As Rádios Amplificadoras ensaiaram os passos à primeira emissora de rádio que chegaria na cidade, no ano de 1948, a Rádio Difusora de Teresina. Havia os reclames comerciais e músicas, o jornalismo colhido do rádio-escuta, as vozes da hora da radiofonia amplificada, as falas de opinião e espaço para entrevistas a artistas e personagens da cidade. A comunicação de identidade e pertencimento, as sociabilidades entre o rádio e o coletivo.

A Rádio Amplificadora de Teresina, por exemplo, em 1938, além das músicas, já fazia transmissão dos primeiros jornais falados (...) Embora constituísse um novo requinte, as praças como símbolo de progresso, por vezes, foram criticada em decorrência da ‘polifonia’ no centro urbano, uma vez que as amplificadoras disputavam o espaço sonoro em torno dos anúncios de comerciantes locais e da divulgação de músicas das estrelas do rádio.” (Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das ondas ZYQ-3: A Rádio Difusora de Teresina na década de 1950/[Idem])

A comunicação social seja em diálogo "fechado", ou interrelação para maior público, sempre será objeto de disputa pelo interlocutor. “A Rádio Propaganda Rianil e a Rádio Amplificadora Teresinense disputavam prestígio e costumavam anunciar nos jornais os programas e novas atrações desses serviços de alto-falantes (...) Por sua vez , a Amplificadora Cultural, de propriedade da Arquidiocese de Teresina, tinha como principal finalidade propagar o catolicismo.” (Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Quando adolescente, lembro de uma Amplificadora que funcionava no bairro Vila da Paz, zona sul de Teresina, próximo do em que ainda resido. Ficava instalada numa chaminé de antiga fábrica (de cerâmica). Da minha casa ouvia-se as notícias amplificadas. Recados da comunidade, pedidos musicais e informes paroquiais, entre outros.

No início da década de 50, segundo o técnico de rádio Luís Gonzaga Fernandes Carvalho, os dois maiores serviços de alfo-falantes no centro, a Cruzeiro do Sul e a Amplificadora Comercial Teresinense, tinham concorrência acirrada e possuíam licença da prefeitura para funcionarem em horários alternados (...) No entanto, a utilização dos serviços de som na área comercial só aumentava entre os lojistas do centro, principalmente no horário comercial. Na periferia, aqui e ali também surgia uma amplificadora, como a do bairro Vermelha, zona sul da capital.” (Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Na construção de sociabilidades e comunicação social, os canais mediadores das falas populares e estratégias de persuasão tinham seus próprios paradigmas, ou quebra deles. Cumpriam seu papel social, na disputa de espaço e para estar na frente da notícia.

Para Francisco Alcides do Nascimento (2004, p. 17) o termo Pioneira pode indicar que a Rianil foi a primeira amplificadora de Teresina, tendo sido inaugurada em abril de 1939. No entanto, como já vimos, desde 1937, havia legislação taxando publicidade por meio de microfone e alto-falantes.” (Nascimento, Francisco Alcides do. História e Memória da Rádio Pioneira de Teresina IN Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Amplificadora Teresinense; Rianil, também chamada de Estação Pioneira; Amplificadora Cultural; Cruzeiro do Sul; Amplificadora Comercial Teresinense, entre outras, cada uma em seu papel social amplificando sociabilidades e abrindo veredas da comunicação. 

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