domingo, 29 de julho de 2012

Triângulo das calças compridas


Triângulo das calças compridas
por maneco nascimento

A Miramundo em Repertório - Conexão Nordeste, apresentou dia 28 de julho de 2012, e repetiu dia 29, às 20 horas, no palco do Teatro Municipal João Paulo II, o projeto crítico reflexivo a partir de observação das chagas sociais e vivências ao coletivo da cena expiada. Sua versão para violência doméstica e seus desdobramentos tomam força dramática em “História de todos os Dias”, com texto e direção de Michelle Cabral.

O espetáculo se fortalece na luz do revela, esconde os recortes dramáticos selecionados para contar o tema das três personagens narradoras do enredo. A criação de luz é de Nina Araújo e a operação da iluminação de Thyago Cordeiro. Os claros escuros do drama apresentado vão delineando as sombras da violência e os lapsos de clareza que surgem para memórias de dores, baixa estima e labirintos do esquecimento. O melhor desenho da dramaturgia de “História de todos os Dias” passa pela luz.

O espetáculo inicia-se com atores em vestimentas neutras e na prática de exercício de relaxamento preparatório para a densidade do que vão apresentar. A cenografia composta, araras em que as personagens narradoras vão buscar elementos (adereços e figurinos) para ilustrar o contador de história da vez. O triângulo das personagens narradoras varia para memórias infantis de calças curtas e outras adultas às de calças compridas.

Os intérpretes Fátima de Franco, Heriverto Nunes e Ricardo Torres dividem as ações mapeadas em que ora são de opressores, outras de oprimidos. As brincadeiras, canções de rodas e cirandas infantis também definem a linha divisória entre as memórias infantes e as adultas. Há uma carga denso-interpretativa e lingüística seja de quem narra, seja de quem representa o teatro discursivo e quase panfletário e imagético feito à cena.

A dramaturgia, de imagens coreográficas e composicionais, tem apelo forte em que os corpos falam + tênues aos tempos de silêncio. O paradigma é quebrado quando surge o texto e elementa outros contextos para mesma variação do tema. Há momentos em que Fátima de Franco destaca-se em sóbria violência testada, noutras submete a personagem a encolhimento pertinaz do violado.

Heriverto Nunes desliza entre o cabra marcado para bater e o cabeça da fila na liderança de brincadeiras. Os tempos em que divide personagens infantis com Ricardo Torres e Fátima de Franco talvez enfraqueçam a construção. Aliás, esse é momento que, por vezes, há uma baixa das interpretações.

Algumas personagens narradoras crianças parecem construídas da maneira + fácil. Surgem na forma de caricaturas infantis, com vozes e trejeitos que quase nunca repercutem o real daquela idade, parecem apresentar deficiência fonolinguística e retardo de discurso inteligente, mesmo em contexto de “pobres” crianças violadas.

A dramaturgia literária de Michelle Cabral, uma denúncia da cultura da violência, presente desde as brincadeiras infantis até o + rígido colapso de memórias de exceção, de perfil do regime governamental brasileiro da ditadura. Discurso chocante, não poderia ser apolítico haja vista tratar-se de histórias contumazes, fatos em drama cultural nacional, para qualquer viés socioeconômico.

A cenografia da gaiola dos “loucos desviados” sociais, um símbolo muito forte da prisão que vai encolhendo, como reflexão do inchaço de presos nos cárceres brasileiros. Brinquedos torturantes, fantasias e drogas, lúdicos invertidos apresentam o enredo para conflitos que mordem o calcanhar de heróis e de pessoas comuns, até criar espécie de identidade com a cena posta.

A pesquisa de sonoplastia, assinada por Diana Mattos, equilibra o tenso do exposto e desmitifica o denso da cena dramática. “História de todos os Dias” pode até parecer distante de qualquer realidade que conhecemos, por transferir-se ao palco na forma de jogos dramáticos, mas está + presente no cerne de qualquer um, negue-se ou aceite-se como fato dado.

É história de todos os dias. Reprodução de contextos sócio-culturais que, por vezes é empurrada para debaixo do tapete. E pesa como armadilha em triângulo de calças compridas, no país maravilha.

História de Circo


História de Circo
por maneco nascimento

A Cia. de Teatro Miramundo Produções Culturais navegou pelos caminhos de idas a bem vindas cidades nordestinas, com o Miramundo Repertório – Conexão Nordeste. A partir da abertura à entrada aos Portos de Circulação, através do Prêmio FUNARTE Myrian Muniz, a Companhia pode realizar seu percurso cultural de levar o teatro aonde o povo espera.

Desembarcou, nesse final de semana, para temporada de sábado e domingo (28 e 29/07/2012) e fazer chegada no palco do Teatro Municipal João Paulo II, com dois espetáculos de seu repertório. As montagens, “Palita no Trapézio”, 18h e “História de todos os dias”, 20h.

Para o primeiro espetáculo de primeiro dia de temporada, o infantil para universo circense “Palita no Trapézio”, com Michelle Cabral, a Palhaça Palita Presepada, e Ricardo Torres, como o trapezista Jack Jones. O espetáculo se inicia com uma intervenção nervosa, no meio do público que aguarda, na entrada, o início. Uma fura fila é impedida de entrar na frente, em detrimento de quem aguarda a própria vez.

Um susto do público que não espera tal performance antes de tudo que tem por vir. Aquece a platéia e quebra o paradigma do só riso. Primeiro um drama e, em seguida, se dá a comédia. Uma aula rápida dos dois pólos do teatro em exercício pedagógico da encenação.
 

Quando o público se acomoda, depara-se com um mestre de cerimônias que anuncia que não haverá espetáculo porque a trapezista foi embora. A fura fila, com uma ajuda do público, se candidata ao cargo.

Ai é que começa a desenrolar-se a metalinguagem do teatro. O que começou no Hall do Teatro toma forma no interativo com o público, em cumplicidade do espetáculo dentro do espetáculo, das personagens com os espectadores. As personagens brincam de felicidade dividida com a platéia. Teatro e arte desenvolta contemplam o exercício do ator na cena.

Michelle Cabral, desde a intervenção que abre o espetáculo, já está muito à vontade e sua Palita Presepada é mesmo uma Palhaça cheia de graça e encanto que contagia crianças e adultos.
 

Tranquila quase a perder de vista, parece que está em casa, brincando de nada fazer enquanto preenche a fantasia de quem curiosamente espera ver até onde ela chegará. Não decepciona.

Ricardo Torres, o mestre de cerimônias e, descobre-se + tarde, trapezista de mancheia, torna-se o partner ideal. Abre a cena do circo, corrobora com as palhaçadas sem nem mesmo perceber que está quase sendo ludibriado pelas presepadas da Palita. Teatro do circo para o ator e do ator ao circo em realização equilibrada.
 

A direção de Michelle Cabral acompanha roteiro simples e dramaturgia de cena peculiar para o fantástico e lúdico efeito do teatro popular, com suas gagues, suas desenvolturas clownescas e, especialmente, esquetes de tradição e memória do maior espetáculo da terra, o circo de cada artista que se propõe a criar a fantasia do riso.

A dramaturgia de encenação vem bem acompanhada pela Iluminação, de Nina Araújo, que em economia valoriza a cena e o artista do picadeiro e tem a execução da luz, assentada, de Thyago Cordeiro. A sonoplastia de Diana Mattos vai costurando a memória do circo e preenche os espaços do encenado com muita acuidade musical.
 

O desenho da dramaturgia de “Palita no Trapézio” fecha-se na licença poética de gerar o real no sonho e o sonho repercutir a realidade. Depois das diversas e engraçadas tentativas de conseguir o emprego de trapezista, a Palhaça acaba ficando só para o pernoite no circo. E, durante o sono, o sonho dá-lhe o salto ao fantástico, quebrar a frustração e vencer na profissão.

Talita no Trapézio” é circo e teatro na essência e, numa cenografia significativa e emblemática de uma cortina de picadeiro e um trapézio, consegue prender a atenção do público e embevecer a memória guardada na criança que amadureceu.

Na simplicidade, em exercício da cena, Michelle Cabral e Ricardo Torres relêem uma das + antigas tradições do teatro, ator e a cena para o riso e para a felicidade, através do investimento na cultura popular do circo. Acertam bem.

A produção local de Nanda Oliveira fecha o grupo que investe suas tramas teatrais em terras piauienses. Ganha a cidade que pode conferir “Palita no Trapézio”, um cerco de qualidade dramática e um circo de alegria pela cena maranhense.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Abominável!!?


 Abominável!!?
por maneco nascimento

O arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, declarou segunda-feira que a igreja católica classifica a união entre casais do mesmo sexo como abominável e inaceitável pelas leis divinas. De acordo com o arcebispo, os homossexuais têm direito a viver em sociedade civil, porém a igreja rejeita o matrimônio gay. ‘O matrimônio gay, comparado com a família, não aceitamos de jeito algum porque ele bate de frente com a lei natural, homem e mulher imagem da semelhança divina que geram uma vida’. Para Dom Aldo, a união entre casais do mesmo sexo fere os princípios da igreja e, portanto, é inadmissível. ‘Nós não aceitamos e é abominável segundo a lei natural e a lei de Deus', concluiu o arcebispo." (Blogueiro MeioNorte/Informe: Efrém Ribeiro/meionorte: opinião, 26/07/2012)

De sorte que as sociedades têm avançado bastante para digerir os discursos diversos, mesmo os advindos da igreja católica paraibana, plantada no nordeste e filha do sol do equador desse lado de cá da América latina. 

Direitos civis há muito que giram por fora das discussões dos circuitos religiosos e doméstico-dogmáticos, estão melhor amparados nos legislativos e judiciários a partir de espaços sociais ampliados e abertura de leitura dos comportamentos sociais.

Os discursos religiosos católicos estão seguramente + próximos também dos neo-pentecostais de salvação e perdição do reino dos céus. A igreja católica, ficando + no terreiro da discussão de púlpito da maior representação nessa América ibérica, pode ter a postura que lhe convier. 

As liberdades de culto, de credo, de voz e expressão e também de orientação sexual é da natureza do livre arbítrio. Não há, para os dias contemporâneos, Deus vingativo do velho testamento, nem raio fulminante vindo dos céus.

Pode haver, sim, forças naturais e intolerantes vindas do homem, auto proclamado procurador dos “negócios” de Deus. Eis onde moraria um perigo que contaminaria os ouvidos, o seio familiar reservado, as ruas, as comunidades e a vida do diferente aos olhos do santo detentor da palavra de Deus.

A ciência, a igreja, a justiça, a política, a polícia e as leis naturais, ou reelaboradas, classificam, mas a vida tem dinâmica própria como a língua, para sobrevivência entre dogmas e jargões.

Classificar o que é certo e o que é errado pelo ponto de vista dogmático religioso é bom para quem se sublima à fé, cega. A ciência que sofreu tortura dessa mesma igreja, capitulou para libertar-se depois e fez, a si própria, a palavra de ordem, científica. 

Todos os homens (genérico), qualquer que seja a orientação sexual, têm direito de viver em sociedade civil e não é a igreja que vai determinar isso, não +. A cidadania das conquistas sociais é que define qualquer direito adquirido.

A rejeição da igreja ao “matrimônio gay” parece discurso em círculo da matilha escolhendo qual bicho da alcatéia será o prato da hora. Não parece que os casais homoafetivoss estejam sonhando com casamento com véu e grinalda e bênçãos da santa madre igreja. 

O “casamento gay” não é para ser comparado com a família José, Maria e Jesus, ou Maria, José e Jesus, ou ainda Jesus, José e Maria. O “casamento gay”, ou melhor, o casamento homoafetivo não é para ser comparado com nada, ou ninguém.

O casamento homoafetivo, se tiver que sofrer referência de semelhança, ou diferença, é para ser com os exemplos de comunhão de casamento entre pessoas do mesmo sexo e só. As novas relações não precisam ser aceitas por qualquer igreja, só pelas escolhas das pessoas e das leis que as protegerão caso haja intolerância de radicais.

A homoafetividade não veio para “bater de frente” com leis naturais e religiosas, veio para assegurar liberdades de escolhas, referências fora da convenção velhaca e livre do remorso e da culpa dos “escolhidos”.

O mundo sobreviverá mantendo casais heterossexuais, mas também terá flexibilizado outro tipo de formação social e conjugal, “doelha a quem doelha” e olha que parece que ainda poderá doer muito do lado de quem será apedrejado ao modelo de experiências velho testamentais. 

Mas a sociedade avançou muito desde que Jesus separou a igreja do estado. A igreja fique com suas ovelhas, escolhidas, e esqueça a parábola da que se desviou do rebanho. O estado cuidará dos direitos civis, institucionais e de novas práticas sociais de convivência humana.


("A Criação de Adão", de Michelangelo Buonarrotti/Teto da Capela Sistina, Vaticano/imagem colhida de www.naturale.med.com.br)


Os feitos à imagem divina continuarão procriando os próximos à imagem divina da igreja. Os outros em livre arbítrio poderão constituir novas formações familiares, resposta ao novo mundo que as sociedades naturalmente têm construído à força das leis de natureza do entendimento social + amplo.

A união entre casais do mesmo sexo não é para ferir princípios de ninguém. Há + coisas inadmissíveis entre o céu e a terra vaticanas e parecem passar despercebidos pelos discursos oficiais da igreja católica apostólica romana. Há abominações também em corredores, sacristias, escolas fechadas religiosas do alto ao baixo mediterrâneo, passando pelo sertão, de dentro, de Arapiraca e alhures.

Que a igreja, do alto de seu púlpito do diverso da salvação, realize seu papel seja de salvação d’almas, seja de lotear benefícios entre o céu e a terra saída de Israel e assentada na península ibérica para o mundo. Das questões das novas formações sociais e orientações sexuais cuidem as leis naturais do estado.

Não é apologia ao casamento homoafetivo, é apologia à sobrevivência da espécie em seu diverso. E que Deus onipresente e onisciente desempenhe seu próprio conceito sobre que direito cabe a quem.

Clube em Festejos

 Clube em Festejos
por maneco nascimento

Depois de sobreviver ao
 São João das Cidades, Cidade Junina, Encontro Nacional de Folguedos e os Festejos do Poti Velho, Teresina agora terá que passar pela prova de fogo dos “Festejos do Clube dos Diários”. De 01 a 17 de agosto de 2012, a partir das 19 horas, no Bar e Palco “Osório Jr.” dos Diários, haverá + movimento às noites do centro da cidade.

Para as comemorações de um ano, de radioatividades artísticas, no ambiente cultural do
 Bar do Clube dos Diários, o coordenador da programação cultural, João Vasconcelos, promete que ninguém passará impune pelas noites dessas três semanas de festejos. E como quem não anda não gera veredas, o Bar do CB vai invadindo a praia de quem gosta de arte e cultura fomentada.

E se é pra festejar que festeje bem. Então, primeiro de agosto já começa quente porque os festejos virão fervendo.
 Dia 1º. (quarta feira), o show “Raul e os Dez astrados”, com participação de Gerônimo Rocha e Roberto Seixas. 

O show beneficiará a AMH+Amor. E a doação deverá ser em fraldas e sondas descartáveis. O benefício vai às crianças com Mielomeningocele e Hidrocefalia. A doação não é obrigatória, mas festejar bem também pode ser com solidariedade.

Dia o2 de agosto (quinta feira), os Radiofônicos em Pop Show apresentam “Tributo aos Beatles”, e haverá ainda o DJ Tarel em repertório anos 80. Couvert artístico, R$ 5,00. No dia 03 (sexta feira), Moisés Chaves no show, “Por Causa de Você” e a participação da compositora Fátima Castelo Branco, em palhinha vocal. Ingressos, R$ 10,00(inteira) e R$ 5,00(meia).

Quando sábado chegar,
 dia 04 de agosto, será hora de rock pop com as Bandas Elétron e Comassocial. A entrada para amantes e curiosos do rock, o valor simbólico de R$ 4,00/R$ 2,00. Na segunda feira, dia 06 de agosto, a noite toda girará em torno do som da radiola. “Peça sua música ou traga seu vinil” será comandado por Rai Silva e Jack Blue.

Na
 terça feira, dia 07, “Eu, Você e o Teatro da Minha Vida” apresenta o espetáculo, em estréia, “Apareceu a Margarida”, baseado na obra de Roberto Athayde. A intervenção à cena será de Edith Rosa e a facilitação de Avelar Amorim. A rodada do Chapéu artístico garantirá o cachê da artista. Quem tem põe, quem não teria contribui com o que pode.

Dia 08 de agosto, quarta feira, o Projeto Boca da Noite traz o melhor da MPB autoral e memória musical, na voz e violão do cantor e compositor Messias Messina. A entrada será em leite em pó e a renda doada ao Lar da Esperança. Quinta feira, dia 09, Jorjão e Darlene convidam ao Show “Cabelo de Nego”. As canções e os amigos das canções se reúnem em grande estilo. Couvert artístico, R$ 5,00.

Cláudia Simone é show e, “As Canções que eu + gosto” o tema da noite do dia 10 de agosto(sexta feira). A cantora e compositora Cacau Simone receberá, no palco, participação luxuosa de Bebel Martins, a sempre jovem em guarda da canção brasileira. O couvert artístico, R$ 5,00. 

No sábado, dia 11, tributo a uma das + emblemáticas bandas brasileiras dos anos 80. “Tributo a Legião Urbana”, com as bandas Seu Capital e Outro Lado. Ingressos a R$ 12,00. A Legião se sustenta e os fãs de Renato e de seus “blues covers” devem acorrer em cortejo de expectativa.

Na segunda feira, 13, oito músicos, sons vibrantes, “rock in roll” em melhor pedida de todos os tempos.Tributo à maior banda da terra, pela sonoridade pop show da banda da terrinha. Radiofônicos retorna com “Tributo aos Beatles”.

Nessa noite, 13, o “Tributo aos Beatles” também será regado com um “Hemerovídeo Beatles” e música eletrônica. O DJ dessa pancada será Jack Blue, o couvert artístico, R$ 5,00. Radiofônicos e Eletrônico, na companhia musical. Os sons da terra do rock e as batidas eletrônicas preencherão o ar.

Eu, Você e o Teatro da minha Vida”, de volta na terça feira, 14, com o show de humor “Rebimboca da Parafuseta”, na cena Luis Salete e direção de Roger Ribeiro. Uma personagem que andeja do Oiapoque ao Chuí, contando piadas e picardias nacionais até esbarrar em Timon, no Maranhão e atravessar o Parnaíba para contar suas loas em Teresina. O Chapéu artístico rodará e dará o peso medida do show.

O Boca da Noite, da quarta feira, 15, a MPB será de James Brito. O ingresso será 1kg de alimento não perecível. Na quinta feira, dia 16, a cidade em vídeo e cinema. O “Cine Mostra Teresina” apresentará três horas de filmes produzidos na capital e homenageará o cineasta Alan Sampaio. Cinema, vídeo e clips regados a pipoca, grátis. Produção e idéia original Adê Moreira.

Agora,
 quando a noite do dia 17 chegar, “Eu vou tá lá - a Festa”. Um ano de radioatividades comemorado começa com “Tambores do Coisa de Nêgo”, seguidos de perto pelo espetáculo de dança“100 Ruas”, do Art Dança, de Francisco Moreno. Depois vem + música com Gislene Danielle, Ricardo Tote, Moisés Chaves, James Brito, Gomes Brasil, Radiofônicos, Hélio Carvalho, Assis Bezerra.

E ainda
 haverá nesse canjão musical as bandas Eremitas, Elétron , Scrok, Pablo Pablo, et all. E se ainda não satisfeito com os “Festejos do Clube dos Diários”, o dia em noite do 17 de agosto encerra com o DJ Tarel e musicais dos anos 70, na “Bôite free lance”.

“Free, sempre “free” na festa de aniversário de 1 ano do Bar do Clube dos Diários - O Retorno. Quem quiser que invente outro!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Tospericargerja


 Tospericargerja
por maneco nascimento

Meu Brasil brasileiro, terra de Ary e de todos os bons e os “bads” amantes do futebol, samba, bunda, carnaval. É também de idiossincrasias e muita memória para boas lembranças e outros diversos da construção social brasileira.

É desse país continental que também saem
 os filhos brasis com nomes diferentes, homenagens a artistas, celebrizados, mas é especialmente da orgulhosa prova de que para homenagear alguém que se gosta, vale qualquer preço futuro a quem carrega o nome do homenageado. 

Tenho uma amiga, por exemplo, que
 os pais a batizaram de Sandra Regina. A homenagem eternizou no nome dela as atrizes Sandra Brea e Regina Duarte. Testemunhei ela contando, da homenagem, à Regina, certa vez em São Paulo. São iniciativas singulares, homenagens a personalidades nacionais. 

No Bom Dia Brasil (Globo), de 25 de julho de 2012, a pauta de esportes trazia uma matéria curiosa.
 O nome do rapaz homenageava tricampeões da Copa de 1970, no México. Tospericargerja é o nome oficial de registro do cidadão nascido no norte do país. 

O cidadão é técnico em laboratório em Manaus, no Amazonas (...) Tospericargerja da Silva Torres, nascido em 19 de julho de 1971, é filho de Oder Nunes Torres e Odília da Silva Torres. O Seu Oder, criador do nome, anda doente e está com dificuldade de falar. Mas sabe em quem ele se inspirou? Na seleção brasileira de 1970, aquele timaço tricampeão do mundo no México, formado pelos ídolos do seu Oder. É só unir as sílabas. Tos de Tostão; Pe de Pelé; Ri de Rivelino; Car de Carlos Alberto; Ger de Gerson; Ja de Jairzinho.” (g1.globo.com/Mauro Junior)

Gerado e nascido ainda no fogo da conquista do tricampeonato da Copa do Mundo de 1970, provavelmente o pai deveria ter acompanhado os campeonatos anteriores à vitória nacional, 1958 e 1962.

Em 1962 eram dias que em que se aproximavam tempos negros ao exercício da democracia brasileira e, em 1970, ainda vivia-se o auge dos dias de chumbo.
 A publicidade do Regime Militar do Golpe de 1964 influenciou toda uma geração de brasileiros pela divulgação nos meios de comunicação de massa.

Frases de efeito, lemas e hinos canções incentivadoras também ganharam destaque de proteção e convencimento público.
 “Brasil: Ame-o ou deixei-o”; “Brasil: AME-O”; “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil”. Os hinos e canções também deram sua contribuição patriótica.

As praias do Brasil ensolaradas,/O chão onde o país se elevou, (...) O céu do meu Brasil tem mais estrelas./O sol do meu país, mais esplendor (...) Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!/meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil./Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!/Ninguém segura a juventude do Brasil (...)” (“Eu Te Amo, Meu Brasil”, da dupla Dom e Ravel)
 

E ainda, "Este é um país que vai pra frente/Rô Rô Rô Rô Rô/De uma gente amiga e tão contente/Rô Rô Rô Rô Rô/Este é um país que vai pra frente/De um povo unido, de grande valor/É um país que canta, trabalha e se agiganta/É o Brasil de nosso amor!" ("Este é um país que vai pra frente", de Os Incríveis)

Quando Tospericargerja (Peri para os amigos) nasceu, ainda nos ardores da conquista da Copa de 70, já se passara um ano da conquista da Taça Jules Rimet e ainda não entendia o que se ouvia de ufanismo em dias de chumbo. Eu, que nascera antes do Golpe Militar, ouvia, aprendi e cantava o hino de futebol que embalou o Brasil naquela vitória:

Noventa milhões em ação,/Pra frente Brasil,/Do meu coração/Todos juntos vamos,/Pra frente Brasil,/Salve a Seleção!/De repente/É aquela corrente pra frente,/Parece que todo o Brasil deu a mão.../Todos ligados na mesma emoção.../Tudo é um só coração!/Todos juntos vamos,/Pra frente Brasil!/Brasil!/Salve a Seleção!!!” ("Pra Frente Brasil" - Copa de 70)

"O Presiente Médice, gaúcho, Exigiu a convocação de Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro. Foi co-autor da música "Pra Frente Brasil". Influenciou decisivamente na demissão de João Saldanha às vésperas da copa e criou financiamentos para compra de televisões." (www.wikipedia.com.br/acesso: 25.07.2012, às 18h 10m)

O menino de nome incomum cresceu em um Brasil de jogos populares e dramáticos, de vitórias ao futebol e de derrotas a quem se impunha contra a dureza de marechais e brigadeiros. Era hora de festejos, mas também de desaparecidos, torturados, órfãos e de violações arbitrárias de direitos individuais.
 

Era da festa propagandeada em desvio da atenção dos desmedidos militares, tinha-se o ufanismo do milagre econômico e da conquista mundial pelo futebol.

Taça Jules Rimet foi o nome que recebeu o troféu da Copa do Mundo da FIFA até 1970. Nesta edição, o Brasil a ganhou em definitivo por ter conquistado o campeonato pela terceira vez. A tríplice conquista conferiu ao Brasil o privilégio de ter a posse definitiva do troféu. Isso forçou a FIFA a elaborar uma nova Copa, desta feita sem entrega definitiva a nenhum dos vencedores, e chamada Copa Mundial da FIFA.” (www.wikipédia.com.br/acesso em 25.07.2012, às 14h40m)

Tospericargerja hoje, com família constituída, nasceu em dias de “festas oficiosas” e de luto marcado na memória brasileira.
 Torna-se motivo curioso de reportagem por ter nome que homenageou cidadãos nacionais, representantes do país do futebol e heróis em dias difíceis em que a resistência também se fazia presente através do esporte.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Mistério em "déjà vu"



 Mistério em “déjà vu”
por maneco nascimento

A notícia pode parecer velha, em piscares de olhos tecnológicos, mas o princípio da verdade ganha vida própria em qualquer circunstância, mesmo que escamoteado para debaixo do tapete por interesses escusos, de proteção ou de comodidade oficial e pública.
O tom, dado em lide: “Descompostura em Compostela
Furtado há um ano, o Código Calixtino, relíquia do século 12, reaparece em um caso com ares de crime passional
” (www.estadão.com.br/geral – 22 de junho de 2012/6h23, de Ivan Marsiglia)

A matéria detém-se no sumiço de principal relíquia da Catedral de Santiago da Compostela e o reaparecimento com desfecho mal explicado, gerando disse-me-disse entre a população local, católicos fervorosos e freqüentadores do percurso de peregrinação. 

A peça, um pergaminho costurado em forma de livro, datado do século 12, sumiu de forma mágica, da sala forte do templo, em 11 de julho de 2011. A polícia foi chamada e encontrou dificuldades de informações precisas acerca do sumiço misterioso da relíquia. 

Causou ainda mais estranheza o silêncio obsequioso do deão (autoridade religiosa logo abaixo do bispo) da catedral, José María Díaz. Compungido, recusou-se a dar informações sobre a segurança da sala onde o livro estava ou sobre os poucos que tinham acesso a ele. Murmurou algo sobre ‘atentado’ e ‘vingança”, mas não quis dar nome ao santo. ‘Se suspeito, não digo. Porque é pecado fazer juízos temerários’, declarou, com solenidade eclesiástica.” (Idem)

Segundo a matéria, o livro código teria sido escrito entre 1135 e 1140, supostamente encomendado por Guido de Vienne, o papa Calixto II (1060 – 1124). Narra os feitos do apóstolo Santiago Maior e consta de reflexões, cantorias, em raras partituras medievais e iluminuras, ilustrações ou letras iniciais dos capítulos. É célebre por conter uma espécie de guia para o ‘caminho de Santiago’ – aquele mesmo, que pavimentaria, séculos depois, o sucesso do escritor brasileiro Paulo Coelho.” (Idem) 

O Código Calixtino fora encontrado em posse de um eletricista, que teria sido demitido, em 2011, dos serviços da Catedral, após longa e dedicada amizade com o deão José Maria Díaz. A jóia foi encontrada dia 4 de junho de 2012.

(...) dentro de um saco plástico preto, na garagem do ex-eletricista da catedral José Manuel Fernández Castiñeiras, que foi preso com a mulher, um filho e uma nora. Na casa, também foi descoberta a espantosa soma de 1,6 milhão, surrupiada da catedral ao longo dos 25 anos em que Fernández iluminou a fé de Compostela – sem que aparentemente ninguém se desse conta de seu pecado continuado.” (Idem) 

As especulações populares de que haveria uma diferenciada amizade entre o deão e o eletricista, rumores de uma “certa eletricidade na relação dos dois” não foram confirmados. 

De sorte, e com investigação insistente da polícia espanhola, deu-se cabo do mistério e as terras da Galícia e alhures tiveram sua paz espiritual recuperada com a devolução, ao lugar de origem, de um dos + importantes artefatos do patrimônio histórico e cultural espanhol.

Ao comentar com um amigo sobre o incidente, acresci sobre suspeitas de conluio entre ex-eletricista da Catedral de Santiago da Compostela e o deão, + o silêncio e falta de colaboração dos religiosos, durante as investigações:

Que há submundo na igreja, todos nós sabemos bem. Que tenha havido “eletricidade” entre o eletricista da catedral e o deão, pequena novidade, “todos os homens são mortais”, como diria Simone de Beauvoir. E para um rato, recolher migalhas no escuro do sono alheio é talento galício, mas não só daquele lado d’Espanha, porque por aqui os ratoss são midiáticos e não gatos, mas gatunos, e estes não concorrem com os ratos, são aliados. 

Nas entradas de agosto o país repercutirá o teatro do Julgamento do Mensalão. Os coronéis urbanos e seus companheiros das estratégias de espertezas, atores combatentes das “firulas” da imprensa e da justiça, estarão a postos para tentar desestabilizar os trabalhos do Supremo.

A Corte do Supremo Tribunal Federal será matizada das cores, calores e discursos emblemáticos dos defensores de mensaleiros. O Brasil espera que a justiça suprema não despenque em cascatas da empresa Mensalão.

O sumiço do Código Calixtino é fichinha, diante do código de desonra de cachoeiras e sevícias do recurso público goela abaixo do brasileiro.

sábado, 21 de julho de 2012

Liberdade de expressão


 Liberdade de expressão
por maneco nascimento

NOTA
A Guarnição Federal de Teresina integralmente solidária ao 4º. Exército a 10ª. Região Militar, no firme propósito de preservar a paz e a tranqüilidade do povo teresinense, faz veemente apêlo para que todos confiem na patriótica e democrática ação das Forças Armadas, colaborando de maneira decisiva, na preservação da ordem e segurança da família brasileira. Nesse sentido, o comando da Guarnição recomenda a todos indistintamente, que se abstenham de participar de quaisquer pronunciamento ou manifestação pública, que porventura venham perturbar o clima de absoluta tranqüilidade, ora reinante nesta Capital, os quais serão enérgica e prontamente reprimidos.
Quartel em Teresina, 02 de abril de 1964.
Francisco Mascarenhas Façanha
Coronel Cmt. Da Guarnição Federal de Teresina.
” (IN Oliveira, Marylu Alves de. Considerações sobre o Discurso Anticomunista no Jornal “O Dia"/[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. Do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.)

Assim começavam os discursos salvacionistas da democracia nacional, sob o viés do estado militar instalado no Brasil, naqueles fins de março e início de abril de 1964. O Golpe de 64 vem justificado pelo temor da ameaça vermelha do comunismo. O estado militar e seu Estado Maior das Forças Armadas banca praça nas decisões do país e segue-se a ditadura, com firme endurecimento do discurso.

Os ataques aos comunistas vêm também e, às vezes, expressivos, através da imprensa da direita estabelecida e, atendendo ainda a interesses da hora. O que antecedeu ao golpe militar e ou corroborou à formação de opinião pública contra o comunismo tem seu tempo de persuasão e convencimento popular.

Comunistas “comedores de criancinhas”, ou estatizadores dos bens e propriedades privadas e privadores de liberdade, se trouxeram pavor a pessoas esclarecidas, o quanto não fez aos menos atentos a modelo sociopolítico de nivelamento de direitos a partir da forma de governo. 

Segundo Marylu Oliveira, na pesquisa detida em jornal tradicional de Teresina, “No discurso anticomunista do jornal ‘O Dia’, a liberdade era fator determinante, tanto que o comunismo estava associado à ideia de escravidão como sugere a frase: ‘queriam escravizar-nos à Moscou, à Cuba e à China Vermelha’” (O DIA, 1965, n. 1.498, p.07 IN Oliveira, Marylu Alves de. Considerações sobre o Discurso Anticomunista no Jornal “O Dia"/[Idem])

De qual escravidão nos livraríamos pela força armada do exército brasileiro e seus brigadeiros e em que armadilhas da nova sorte seríamos forçados a seguir.

Para Alcides do Nascimento, o movimento das tropas que davam sustentação ao golpe lançado contra uma experiência democrática tinha começado dia 31 de março e se estenderia a 2 de abril daquele 1964, quando notícias chegadas pelo rádio informavam que “(...) o presidente da República, o Sr. João Goulart, tinha deixado o País rumo ao Uruguai, e os militares se preparavam para assumir o Comando do Estado brasileiro (...)” (Nascimento, Francisco Alcides do. A Censura e o Rádio no Piauí./[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. Do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.])

O Brasil acordou para anos que se seguiram com salvoconduto contra o comunismo e comunistas que queriam entregar o país nas mãos da ameaça vermelha. O pesquisador aponta que começava uma longa noite para as instituições democráticas e para aqueles brasileiros que ousaram e ainda ousariam (grifo meu) discordar dos que detiveram o poder político nacional.

Dos discursos anticomunistas de preparação ao Ato governamental militar e os seguidos Atos de exceção, a (de)formação da opinião pública ganhou caráter de confirmação do novo regime imposto ao país, e o muito do vivido passou à posteridade como a força da nova lei e regras de nação sob o jugo de dias de chumbo conhecidos. E os anticomunistas verteram energia para legitimar o golpe contra as liberdades de expressão.

Os que em nome da democracia, atacavam os comunistas eram os mesmos que defendiam o latifúndio, proibiam o voto dos analfabetos e tinham horror a greves ou qualquer manifestação de trabalhadores em defesa de seus interesses imediatos de classe” (MAZZEO, 2003, p. 88 IN Oliveira, Marylu Alves de. Considerações sobre o Discurso Anticomunista no Jornal “O Dia"/[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. Do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.)

A imprensa ou foi se adequando, ou foi sendo paulatinamente empastelada. Jornalistas e radialistas passaram a ser controlados pelos fiscais do regime e

(...) homens e mulheres que fizeram e fazem o rádio no Piauí, portanto jornalistas (...) tiveram como sombra militares acompanhando o trabalho de cada um, chamando, às vezes, a atenção desses atores, em decorrência do emprego de uma palavra considerada ‘perigosa’, por rodar uma canção avaliada como portadora de mensagem contra o regime (...)” (Nascimento, Francisco Alcides do. A Censura e o Rádio no Piauí./[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. Do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.])

 na década de 1980, tive um desprivilégio de ter que demonstrar um ensaio geral de espetáculo de teatro para o “peixe”, um policial federal que vinha conferir se não havia algo que desabonasse a democracia do regime militar. Mas isso já era em tempos bem próximos da abertura democrática a que concorreram, naturalmente, países latinoamericanos que insistiam na linha dura de regência de governo.

Nos dias de chumbo, imprensa e atores do diverso da comunicação social e de massa sofreram reveses que a história da resistência preservou à posteridade. Quando esses dias chegaram ao Brasil, nos idos de março de 1964, eu era criança e demoraria muitos anos para que compreendesse sobre ideologias, democracia, liberdades e exceção.

Naqueles dias de minha infância, para os suspeitos, vigiados e delatados, foram tempos de violência moral e física, de torturas e desaparecimentos alguns, ainda, insolúveis. A comunicação parecia não manter ruídos pela força da lei regimentar. Os programas populares de rádio também tinham que adequar-se pela sobrevivência de continuar a existir e preservar a vida dos profissionais da área.

(...) pelos programas de animação comunitária não podiam utilizar canções que denotassem qualquer tipo de crítica porque tinham o trabalho censurado (...) Os militares efetuaram prisões, e elas não foram poucas, nos meios de comunicação no Piauí. Expuseram as vítimas para intimidar os companheiros de profissão (...)” (Nascimento, Francisco Alcides do. A Censura e o Rádio no Piauí./[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. Do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.])

Liberdade de expressão houve para defensores e algozes das liberdades. Foram dias difíceis. Hoje refletimos sobre essa página obscura da história brasileira e contamos como memória a não ser repetida, mas jamais ser esquecida.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sociabilidades e comunicação


 Sociabilidades e comunicação
por maneco nascimento

As sociedades convencionais foram sendo construídas a partir das intenções e, naturalmente, convenções de grupos, núcleos e lideranças que arbitraram caminhos para que se chegasse ao perfil organizacional que rege as civilidades, ou mesmo os coletivos sociais primitivos. É claro que os vasos comunicantes estão, inseparavelmente, presentes na vida social de qualquer um.

Dessa feita os encontros, as trocas de informações, os embates e as construções de sociabilidades, propriamente, regurgitam os princípios humanos da comunicação, troca de turnos lingüísticos que retroalimentam o ato comunicativo das experiências em sociedade. 

Da comunicação oral “tete-a-tete” à descoberta das ondas eletromagnéticas e as novas falas às longas distâncias, um salto da humanidade em escalas de amplificação comunicacional.

Das ondas eletromagnéticas ao rádio, um instante claro da ciência incansável. E, antes que o aparelho rádio chegasse em nossas vidinhas domésticas, outras estratégias vieram na frente para compensar a comunicação, ou limpar as veredas para a indústria de comunicação de massa falada, através do rádio.

Teresina em sua experiência de sociabilidades e estratégia de atração da atenção de quem precisa ser convencido do discurso, também manteve sua era da comunicação amplificada. 

Amplificadores de uma ou duas bocas, implantados em logradouros públicos, no centro comercial da cidade, para informar, noticiar e vender negócios.

(...) Eu sou da pré-história do rádio, isso nos anos 40, porque Teresina ainda era uma cidade provinciana (...) Em 48 eu tinha 16, 16 pra 17 anos. E eu comecei nas amplificadoras, isso com a idade de 12, pra 13, 14 anos, aproximadamente. Na Rua Barroso, onde é hoje quase defronte ao Banespa, ali existia a casa do Sr. Isaías Almeida e ali ele alugou uma sala para que os jovens que começavam a trabalhar em amplificadoras, evidentemente se especializando em saber falar e saber transmitir (...) Ali foi criada a Amplificadora Teresinense (...)” (SAID, 2005 IN Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Rádio: encruzilhada da história: rádio e memória/orgs. Francisco A. do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. – Recife: Bagaço, 2006. 278p.])

Da fala à oralidade, da elocução à oratória ampliada, do dito no silêncio ao exaspero das palavras vomitadas, o homem (genérico) sempre foi bicho comunicador e perseguidor de ouvintes para efeito de convencer o outro. E quanto + gente estiver assimilando a comunicação, então “tá dominado!”. 

Ainda na década de 1930, o centro da cidade de Teresina ganha um novo elemento com a instalação de rádio amplificadora na Praça Pedro II e na Praça Rio Branco. Nesse período, Teresina constituía uma das poucas capitais do Brasil que ainda não possuía uma estação de rádio (...) Na cidade havia várias amplificadoras, porém, nas primeiras décadas do século XX, basicamente duas eram de maior relevo: a ‘Rádio Amplificadora Teresinense’ e a ‘Rádio Propaganda Rianil’.” (Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das ondas ZYQ-3: A Rádio Difusora de Teresina na década de 1950/[Idem])

As Rádios Amplificadoras ensaiaram os passos à primeira emissora de rádio que chegaria na cidade, no ano de 1948, a Rádio Difusora de Teresina. Havia os reclames comerciais e músicas, o jornalismo colhido do rádio-escuta, as vozes da hora da radiofonia amplificada, as falas de opinião e espaço para entrevistas a artistas e personagens da cidade. A comunicação de identidade e pertencimento, as sociabilidades entre o rádio e o coletivo.

A Rádio Amplificadora de Teresina, por exemplo, em 1938, além das músicas, já fazia transmissão dos primeiros jornais falados (...) Embora constituísse um novo requinte, as praças como símbolo de progresso, por vezes, foram criticada em decorrência da ‘polifonia’ no centro urbano, uma vez que as amplificadoras disputavam o espaço sonoro em torno dos anúncios de comerciantes locais e da divulgação de músicas das estrelas do rádio.” (Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das ondas ZYQ-3: A Rádio Difusora de Teresina na década de 1950/[Idem])

A comunicação social seja em diálogo "fechado", ou interrelação para maior público, sempre será objeto de disputa pelo interlocutor. “A Rádio Propaganda Rianil e a Rádio Amplificadora Teresinense disputavam prestígio e costumavam anunciar nos jornais os programas e novas atrações desses serviços de alto-falantes (...) Por sua vez , a Amplificadora Cultural, de propriedade da Arquidiocese de Teresina, tinha como principal finalidade propagar o catolicismo.” (Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Quando adolescente, lembro de uma Amplificadora que funcionava no bairro Vila da Paz, zona sul de Teresina, próximo do em que ainda resido. Ficava instalada numa chaminé de antiga fábrica (de cerâmica). Da minha casa ouvia-se as notícias amplificadas. Recados da comunidade, pedidos musicais e informes paroquiais, entre outros.

No início da década de 50, segundo o técnico de rádio Luís Gonzaga Fernandes Carvalho, os dois maiores serviços de alfo-falantes no centro, a Cruzeiro do Sul e a Amplificadora Comercial Teresinense, tinham concorrência acirrada e possuíam licença da prefeitura para funcionarem em horários alternados (...) No entanto, a utilização dos serviços de som na área comercial só aumentava entre os lojistas do centro, principalmente no horário comercial. Na periferia, aqui e ali também surgia uma amplificadora, como a do bairro Vermelha, zona sul da capital.” (Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Na construção de sociabilidades e comunicação social, os canais mediadores das falas populares e estratégias de persuasão tinham seus próprios paradigmas, ou quebra deles. Cumpriam seu papel social, na disputa de espaço e para estar na frente da notícia.

Para Francisco Alcides do Nascimento (2004, p. 17) o termo Pioneira pode indicar que a Rianil foi a primeira amplificadora de Teresina, tendo sido inaugurada em abril de 1939. No entanto, como já vimos, desde 1937, havia legislação taxando publicidade por meio de microfone e alto-falantes.” (Nascimento, Francisco Alcides do. História e Memória da Rádio Pioneira de Teresina IN Solon, Daniel Vasconcelos. Novos sons se espalham por Teresina: os alto-falantes e o processo de modernização da cidade [1939 – 1952]/[Idem])

Amplificadora Teresinense; Rianil, também chamada de Estação Pioneira; Amplificadora Cultural; Cruzeiro do Sul; Amplificadora Comercial Teresinense, entre outras, cada uma em seu papel social amplificando sociabilidades e abrindo veredas da comunicação. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pimenta não dói...?


 Pimenta não dói...?
por maneco nascimento

No final da semana passada e início desta, o brasileiro que mantém sua sensibilidade, em exercício, ficou horrorizado com imagens do higienismo da polícia civil metropolitana de São Paulo. 

Os horrores das imagens vistas em cadeia nacional de televisão demonstram que, quem tem pode tudo, quem não tem nada, sempre será saco de pancada dos representantes da sociedade “ameaçada” pelos excluídos urbanos.

Em São Paulo, na região central da capital, a reportagem do SBT fez novos flagrantes de homens da Guarda Civil Metropolitana agredindo e humilhando moradores de rua (...) Em uma das agressões registradas, no último sábado – 14 de julho -, membro da GCM disfarçadamente pega o spray de pimenta que está no cinto e espirra, à queima roupa, no rosto do mendigo. Outro flagrante, no Largo São Francisco, guardas civis retiram roupas, cobertores e até documentos das pessoas que vivem na rua. Os mendigos tentam fazer uma leve resistência, mas são vencidos pelos GCMs.” (mariafro.com/2012/07/18/gcm-de-kassab-a-cria-de-serra-espanca-morador-de-rua...)

A cidade está empobrecida de humanidade, da pobreza física e material está também a olhos vistos. Os grandes centros urbanos realizam campanhas oficiais de proteção da sociedade asséptica e de limpeza das áreas centrais, sujeitas à especulação financeira.

Essas campanhas acabam interpretando gentes pela imagem de bichos brutos e, em país que animal irracional tem muito pouco respeito de boa parte das gentes limpinhas, são tratados feito nada, seja gente ou seja bicho, vai tudo no mesmo ralo comum. 

Essa cultura da guarda civil metropolitana paulista que, (in) disfarçadamente, lança spray de pimenta nos olhos de um morador de rua, reforça lição apreendida de cor a que tudo se pode contra morador de rua, mendigo, índio, entre outros excluídos urbanos.

“Quem se debruçar para olhar o drama dos excluídos urbanos passa a ter uma sensação de que a sociedade abandonou uma parte de si mesma. Parece um pedaço do corpo social que não mais lhe pertence e tem de ser extirpado antes que contamine o resto que se julga são.” (Oliveira, Edmar. “de náufragos, de ratos”. blog excluídos urbanos. quinta feira, 05 de julho de 2012) 

Assim, os + afoitos e paladinos do higienismo social poderão atear fogo em semelhantes, espancar até a morte, fuzilar, ou passar com seu carro por cima de quem está mesmo na rua, logo não deve ter quem olhe, vigie ou reclame umas “traquinagens”, pelo bem da maioria ameaçada. 

Alguns incluídos solitários amam seus animais na devida proporção em que detestam os excluídos. Os excluídos amam seus animais na mesma proporção em que não existem para os seus semelhantes enquanto tais. E os animais de estimação para ambos os grupos são os cães e gatos. Fossem os grupamentos humanos animais estariam identificados como gatos e ratos. Os ratos, excluídos, vagam debaixo de viadutos, deitados ao relento, afogados nas sarjetas. Os ratos precisam das sobras dos gatos para sobreviver. E os gatos, os incluídos, não lhes dão trégua, querendo-os longe da vista. Muito ao longe.” (Idem: Edmar Oliveira/excluídos urbanos) 

Pimenta não dói...? Porque não é nos olhos dos pares da guarda civil metropolitana de São Paulo. Quando é em pessoa desprotegida pelo estado e abandonada à própria sorte e infâmia dos incluídos e fardados, então dói duas vezes +.

Quem viu aquela imagem, repetidas vezes, em canais de televisão, pode se estarrecer porém sem jamais saber da real agonia que sentiu aquele homem, vítima da violência premeditada do representante da segurança civil metropolitana da cidade de São Paulo. 

Pimenta no rosto e olhos dói sim, dói + gravemente no olho do Brasil, honesto e pagador de imposto para bancar a violência oficializada.

Pé de Moleque no Circo Harém



Pé de Moleque no Circo Harém
por maneco nascimento

Ô raia o sol,/Suspende a lua/Olha o Palhaço/No meio da Rua (...)
        (Quadrinha popular da memória do Circo brasileiro)



O Projeto cultural Circo Harém, do Grupo Harém de Teatro, está com a agenda do maior espetáculo da terra e, nessa sexta feira, dia 20 de julho de 2012, às 20 horas, o picadeiro será da Trupe Pé de Moleque, com a participação da família Acioly.

O Circo Harém está instalado na Avenida Raul Lopes, ao lado do Parque “Meus Filhos”. Depois da temporada de “Macacos me Mordam – A Comédia”, o + novo espetáculo do repertório hareniano, agora será a vez da Trupe Pé de Moleque.

Essa Escola social de circo Pé de Moleque vinculou-se, em 1990, ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR, e passou a conviver com as facilitadoras oficinas de serigrafia, teatro de boneco, dança, leitura e escrita, percussão e circo. 

E, a partir dessa experiência, criou-se o desejo de meninos e meninas que, encantados com o mundo do circo, decidiram dar continuidade ao projeto da arte popular circense e o transversal acesso à comunicação cultural e artística de formação cidadã. Esses ex-menino (a)s são hoje educadores e repassam as idéias e propostas do Projeto do MNMMR em transversal de seu tempo.


                                                      (Trupe Pé de Moleque/divulgação)


O Projeto sociocultural Pé de Moleque, em 1995, recebeu convite de uma paróquia deTorino – Itália e apresentou o espetáculo “Um Circo Bem Brasileiro” em várias cidades italianas. Entre 1996 a 2005 montou e apresentou o espetáculo “Ciranda no Circo”. Com o Governo Federal participou de parceria do Consorcio Social da Juventude.

Ao ingressar na Rede de Circo do Mundo - Brasil, no ano de 2005, participou da formação de educadores promovido pela Rede de Circo e Cirque Du Soleil, nas cidades de: Recife, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro. Nos anos de 2006, 2008, 2009, 2010 e 2011 participou do Festival de Circo do Brasil, em Recife -PE.

Premiado pela “Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo”, em 2007, a partir do Projeto Circo e a Cultura da Paz, montou e fez carreira com o espetáculo “Pazlhaçada”. 

Também desenvolveu os projetos Ciranda dos Direitos – Fundo para a Infância e Adolescência - FIA/Petrobras. E, em 2008, integrou participação na oficina com os Anjos do Picadeiro, no Encontro Internacional de Palhaços Rio de Janeiro - RJ.

Outras integrações em eventos: grafitagem, 2009, no painel baseado no espetáculo Quidan do Cirque Du Soleil - em Canoa Quebrada - CE; na 8ª, 9ª, 10ª, 12ª e 13ª Convenção Brasileira de Malabares e Circo em Paranápiacaba - SP, Curitiba-PR, Campinas-SP, São Leopoldo-RS, Rio das Ostras – RJ; no primeiro Festival de Circo Social da Nossa América em Goiânia - GO, em 2010; na Expedição Acrobatas da Serra da Capivara – PI- 27 mil anos de proeza circense, em 2011.

E ainda, em 2007, 2009, 2012, do I, II, III Colóquio de Educadores Sociais de cama elástica do Nordeste, em Juazeiro do Norte-CE. Foi espectador do espetáculo “Alegria, Quidan, Varekai”, nas cidades de: Brasília – DF, Fortaleza-CE e Salvador-BA, em 2007, 2009, 2012, respectivamente.

Nesse ano de 2012, na Rio+20 - Cúpula dos povos na cidade do Rio de Janeiro – RJ, também montou sua tenda cultural e mostrou seu circo.

Com todo esse currículo, o Pé de Moleque tem bagagem de sobra para brilhar no picadeiro do Circo Harém. E, nessa sexta feira, 20, às 20 horas, o espetáculo será a Trupe Pé de Moleque, com a participação da família Acioly.

Ô vale o sol/Ou brilhe a lua/Olha o artista que no Circo Harém atua./Ô valha o céu da alegria/Brilhe o circo e a fantasia./Ô raia o sol/Suspende a lua/O Pé de Moleque no Harém contagia.”
                                                                (paráfrase da quadrinha popular circense)
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