sábado, 30 de junho de 2012

Mostra p'ra gente ver


 Mostra p’ra gente ver.
por maneco nascimento

Nestes dias 30 de junho e 1º. de julho (sábado e domingo) de 2012, o Teatro Municipal João Paulo II abre as portas da Casa à Mostra de Resultados das Oficinas de Arte – 1º. Semestre, oferecida à comunidade. A partir das 18 horas, arte na Praça Aberta e, às 19 horas, é toda no palco do Teatro. Na pauta os exercícios facilitados em sala de aula.

Na programação, desse final de semana, as respostas aos estímulos em oficinas de Iniciação ao Balé Clássico; Dança Contemporânea a crianças, jovens e adultos; Dança de Salão, Teatro e, na prática de musicalização, recital de Violão. Projeto de incentivo à aptidão artística, as oficinas de arte do Teatro Municipal João Paulo II são realizadas pela Prefeitura de Teresina, por meio da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e têm, ao longo do experimento acertado, conseguido resultados a arte e artistas iniciados.

As atrações de agenda: coreografias das turmas de Balé Clássico, dos instrutores Manuela Monte, “Aulas livres e ilustradas” e o “O Forrozinho das danadinhas”, de Sidh Ribeiro. Do contemporâneo, “Jaraguá”, criada por Fernando Freitas e a “Quadrilha Alfabetização do Corpo", Grupo da melhor idade, facilitado por Vanice Oliveira. Beth Bátalli e sua turma do contemporâneo dançam “Rio”; Fernando Freitas e a turma de dança de Salão trazem "Salsa"; Roger Ribeiro e seus iniciados apresentam perfomances dos autores nacionais, Ísis Baião e seu texto “O enterro”, “Enfim só...!”, de Jomar Magalhães e “As pérolas de D. Maria”, de Júnior Martinez. A oficina de iniciação ao violão, com Alfredo Werney, pauta “Recital Gonzaguiano”.

Também na programação, resultados de grupos residentes, como o Stylo Livre, com as coreografias “Acordando no ritmo da dança” e “Reação em cadeia", com linguagem de dança de rua; o Grupo Lego, de experimento musical, traz seu “Pocket show”; o DC Dance concorre pelas criações “Farofa Mix” e “Dissidência” e o Grupo Capoeira Contemporânea que atende a crianças e jovens da região do Dirceu Arcoverde, mostrará seus gingados de tradição e memória cultural. 

Os convidados especiais da Mostra, O Nuclinho do NAI Dirceu, com a coreografia “Baile”; a Bátalli Cia. Dança, com as coreografias 
“Essência”, “Eu” e “Álbum coreográfico”, da pecha da coreógrafa que assina o nome da companhia de dança. Do NAI Dirceu, as peças “Me dá a honra dessa dança?” e “Trio Pipoca”. O coreógrafo Helly Jr. preparou para seu aluno, Pedro Sá, a coreografia “Experimento” e o bailarino Douglas Lima, da Bátalli Cia. Dança, compôs“O pequenino”.

Dias 30 de junho e 1º. de julho, os olhos da comunidade do Dirceu Arcoverde estarão voltados para a Mostra de Resultado – 1º. Semestre, uma iniciativa do Teatro Municipal João Paulo II em prestar contas aos familiares, amigos e público afim da Casa, acerca das práticas artísticas produzidas nas dependências do TMJPII.

A partir das 18 horas, na Praça Aberta e às 19 horas no palco do Teatro João Paulo II, a hora e a vez serão dos aspirantes a futuros artistas que a cidade de Teresina mantém em continuado exercício de informação e formação cultural.



Quem quiser “curiar” as coisas e as cores culturais das oficinas de arte, do Teatro Municipal João Paulo II, não pode esperar esses dias 30 de junho e 1º. de julho passarem em brancas nuvens. Primeiro a vontade, depois o desejo e olhos a quem mereça ser espiado. A Mostra de Resultados - 1º. Semestre, do TMJPII, é o mote.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Apendic(it)e cultural


   Apendi(cit)e Cultural
por maneco nascimento

Depois de receber convite por + de uma vez e por + de um colega comum da área de dança, resolvi então conferir os encontros, “fóruns”, de discussão acerca dos caminhos e descaminhos da dança produzida ou facilitada na cidade. 

No encontro em que estive presente, talvez já o quinto, não recordo bem dessa contagem feita lá. Na oportunidade, havia representantes de pequenas e médias academias de balé, ONGs da dança, Grupo independente de arte criação, bailarinos e coreógrafos, convidados especiais e + eu.

Naquela ocasião, no encaminhamento da burocracia de reuniões anteriores, as primeiras discussões levaram à leitura de um aditivo(rascunho) de proposta de modificação de artigos do edital do Festival de Dança de Teresina que pudesse contemplar, + democraticamente, aberturas outras à dança e a sugestão de criação de uma Mostra paralela de Dança Contemporânea para abrigar a maior diversidade dessa linguagem que tem desenvolvido laboratório, em algumas vertentes, com melhores resultados(crivo meu).

As discussões giraram no fato do FestDança ter caráter competitivo, cobrar entrada, agraciar a linguagem do clássico e que, no edital, para o ingresso de linguagem contemporânea, haveria alguma coisa sobre dança moderna, mímica, etc., e que não corresponderia ao real status do que seja dança contemporânea. Aliás, segundo as discussões, a forma como se abre um precedente para dança contemporânea, no edital, seria uma ofensa aos artistas-criadores dessa tendência.

Das + sugestões do aditivo, além da implementação de uma Mostra de Dança Contemporânea, não competitiva, o convite de um profissional gabaritado da linguagem para trazer informações acerca do viés de criação e um espetáculo contemporâneo que pudesse não só ser conferido, mas gerar compreensão e aberturas de formação e informação sobre dança contemporânea. Todas, a meu ver, estariam intrinsecamente direcionadas a novos rumos de ver e integrar profissionais dessa linguagem nova e da tradicional.

Assunto exaustivamente repetido foi a questão da informação e formação do profissional da área de dança. Já houve, em movimento nacional, a separação de corpos entre dança e teatro. Cada um com sua linguagem, seus editais de concorrência e suas linguagens fins, pelo menos quando o assunto for a dança, propriamente. E percebeu-se, numa reunião de discussão sobre perspectivas da dança e de quem a conduz, que a palavra chave de falha trágica para uma boa maioria dos "formadores" de opinião criativa e criadora na dança, da cidade, é a (des)informação.

De um número expressivo de profissionais da dança, presentes, àquela reunião do dia 26 de junho de 2012, a partir das 9 horas, na sala de ensaios do Balé da Cidade de Teresina, nas dependências da Casa da Cultura, ficou claro como água para chocolate que o melhor discurso, + eloqüente, inteligente e divisor do diverso desinformado, veio de Marcelo Evelin e, no contraponto, Roberto Freitas.

De um modo geral, as outras falas pareceram melancolia de decaídos em amargura da perda de postos. Alguns até deram-se ao ingênuo, sem localização geográfica da própria dança, para verbalizar tratados de informação dislexos, sem determinar o que realmente queriam dizer, embora arroubados de automarketing de conhecimento, detenção da linguagem e apontador da falha alheia, e discurso “maqueiado” de caça aos não profissionais, (in)capacitados à formação na dança.

Nalgum momento, quando se retomou às discussões da Mostra de Dança Contemporâneasobre o fato desta ter sido cunhada como apêndice do FestDança, alguém ao tratar da expressão, teria retificado que estaria + para uma apendicite do Festival que poderia ser retirada a qualquer momento.

Do ponto de observador, sem nenhuma pretensão em dançar, coreografar ou criador estilismo à dança, concluí que os encontros para discutir os rumos do que se dança em Teresina são muito louváveis e urgem que se façam luz. Do ponto de vista crítico, pareceu-me uma condução de discussões em três nomes determinantes de para onde as perguntas e respostas devem ir. 

Houve até um dos três nomes detentores dessa reunião, que disse ao final, abre aspas: teve pessoas que falaram coisas que não interessariam às discussões, fecha aspas. Discorda do próprio discurso, lá implementado, de que as conversas deveriam ser abertas, democráticas e inclusivas.

Reitero, as melhores falas ficaram para Marcelo Evelin que detém informação, conhecimento, formação e consegue ser pragmático na contribuição dada e a Roberto Freitas que esteve como representante de si mesmo, enquanto profissional da dança, representante informal da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e diretor do Balé da Cidade de Teresina, e defendeu que existem linguagens diversas de dança e espaço para todas.

De aprender a escutar e aprender aprendendo com quem sabe o que está fazendo, como também decifrar os silêncios que geram + informações, como bem falou Evelin, considero que foi uma reunião dinamicamente produtiva e não vi palavras vazias de quem quis se pronunciar, ouvi discursos vazios e resistentes d'alguns, mascarados de contributivos.

Do + aprendi a lição de cor. Como ultimamente não danço nem samba, deixo as discussões dos rumos da dança a quem dança e sabe melhor do que fala em sua experiência profissional à facilitação, ou não do ato criativo de dançar.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Circ(ul)o global


 Circ(ul)o global
por maneco nascimento

Retocai o céu de anil/Bandeirolas no cordão/Grande festa em toda a nação./Despertai com orações/O avanço industrial/Vem trazer nossa redenção (...)” (Parque Industrial/Os Mutantes)

A TV Rádio Club de Teresina completa seus 40 anos de ruídos, informação se acomodando e recepção + clara para dias contemporâneos, em resposta ao sonho de um ideal realizado pelo senhor Walter Alencar, lá pelos idos de 1972. 

Quem já nascido àquela época e com idade curiosa sabe bem da musiquinha que abria o sinal local à repetição da programação nacional. Música que mixava sons de pássaros em seu repertório cifrado à melodia.

Desde então, como repetidora da TV Globo e, no andar da carruagem de fogo eletromagnético pela caixinha mágica do mundo fabular, da Rede Globo, muitos olhares e ouvidos atentos estiveram grudados no sinal da tevê, ainda em preto e branco, que chegava para alguns que podiam ter um aparelho de televisão em casa. Quem não podia, ainda, ter seu próprio aparelho, pegava uma biqueira do vizinho.

Hoje, pelo sinal da santa Meca platinada, já chegando para alguns na forma digital, a TV Club ainda caminha na esteira reluzente da emissora cabeça de rede e, na continuidade do sinal nacional, colhe os louros da audiência forçada pelos mercados e futuros culturais mass media. E até faz força para, em retalhos de seda coreana, plinsar o formato fechado da programação da abelha rainha.

E, nessas tentativas, mantém-se em padrão do círculo e circo global da audiência número 1. Quando o assunto é festejos juninos, a área de marketing, propaganda e negócios continuados de cultura para mercados, setor executivo da repetidora da Globo, deu seu pontapé à cultura popular revisitada e fez bonito em formato que (...) já vem pronto e tabelado/É somente requentar/E usar, (...)” (Idem), e soa pelo pomposo palco da alegria chamado "Cidade Junina". 

Nesse 2012, o “Cidade Junina completou 18 anos de festejos juninos continuados e mantidos pela iniciativa privada, com apoios públicos, é claro, que parafraseando o poeta “sem fazer ruídos, é claro, que ruídos na comunicação nada resolvem.” (paráfrase à Morte do Leiteiro, de CD Andrade, de 1945).

É certo que o “Cidade Junina chega a sua maioridade, consentida, com um evento que reúne populares, durante uma semana, em torno de uma competição de quadrilhas juninas oriundas do interior e capital do Piauí. + de quarenta agremiações disputaram espaço à final. Só passaram na peneira fina, deste ano, seis quadrilhas e ficou o melhor xerém do milho pisado na arena de shows de um shoping da cidade.

As finalistas, ao dia 24 de junho de 2012, Lua de Prata, de Demerval Lobão; Lumiar, de Parnaíba; Rei do Cangaço, de Parnaíba; Viola Caipira, de Teresina; Luar do São João, de Teresina e a Balança Matuto, de Teresina. + de quarenta inscritas e uma festa, na final, para torcidas, preces, alegrias, euforias e tristezas reservadas no balaio da competição quente.

Grosso modo, as agremiações mantêm vigor, e muita força de empenho nas performances particulares, para garantir expectativas impulsionadas à busca da premiação de representação do estado, na concorrência nacional que ocorre em Pernambuco, com transmissão ao vivo pela cabeça de rede platinada.

Para acompanhar o padrão de competição mass média, as aspirantes a filhas do sol da Áquila romana usam de todo artifício. Vale reinvenção do passes tradicionais, valem virtuoses coreográficas com efeitos carnavalizantes para sambódromos juninos, mas também vale dentro da pasteurização encomendada, um sinal de novidade que atenda o mercado e mantenha a tradição.


(Casal Destaque, da Rei do Cangaço/foto, de Gilcilene Araújo, colhida do portaldaclube)

Quem melhor realizou esse efeito, neste ano, foi a que, por fim, levou a melhor. A Rei do Cangaço, de Parnaíba, não só fugiu + das influências do cancan e belepoquismos kitchs, como apresentou dramaturgia à cena, mesmo que, quando o assunto é só danço para santos e deuses juninos, posso ainda assim sair do lugar comum.” E fez a boa diferença.

(Rei do Cangaço/foto de Gilcilene Araújo, colhida do portaldaclube)

Todas as finalistas tiveram desempenho acima da média em entradas, repertório musical, vestuário, animação, evolução e coreografia, alinhamento e saídas. Enfraqueceram na encenação do casamento, alguns de extremo inexpressivo. Os marcadores também estiveram na média.

Os resultados deslizam na soberania dos julgadores. Melhor Destaque: Maria Bonita, da Rei do Cangaço; Mais Belo Casal de Noivos, ficou com o da Rei do Cangaço e o melhor Marcador permaneceu com o título para o representante da Lua de Prata.

Dos resultados + esperados, o 1º. Lugar: Rei do Cangaço – Parnaíba (R$ 2.000.00 + uma moto); 2º. Lugar, Balança Matuto – Teresina (R$ 2.000,00); 3º. Lugar, Lumiar – Parnaíba (R$ 1.000,00), 4º. Lugar, Luar de Prata – Demerval Lobão (Troféu); 5º. Lugar, Luar do São João- Teresina (Troféu) e 6º. Lugar, Viola Caipira – Teresina (Troféu).

Numa disputa acirrada, venceu o ponto no doce de batata, abóbora e “aluá”, a serem servidos na festa da comemoração. Dois pontos, particularmente destacáveis, ao registro da sensibilidade e ao evento de inclusão e participação livre, fora do certame competitivo, foram a bela iniciativa da Quadrilha Roda Viva, formada por cadeirantes, da Associação de Cadeirantes e Amigos de Teresina – ASCAMTE e a convidada Rastapé.

(Quadrilha Roda Viva - ASCAMTE/foto, de Gilcilene Araújo, colhida do portaldaclube)

A Arena do “Cidade Junina”, um circo armado para assistência interessada e um círculo de festa e tradição que, salvo, raras exceções premeditadas, cumpriu muito bem, obrigado, seu papel de exercício experimentado de cota regional na programação institucional. Faz com seu padrão o exigível e acerta.

E, como a vida continua para vencedores e secundados, agora é guardar baterias para próxima empreitada (...) Pois temos o sorriso engarrafado /Já vem pronto e tabelado/É somente requentar/E usar,/É somente requentar e usar,/Porque é made, made, made, made in Brazil/Porque é made, made, made, made in Brazil.” (Parque Industrial/Os Mutantes) 

sábado, 23 de junho de 2012

Balaio cultural

Balaio cultural
por maneco nascimento

Um furacão, de sons, luzes e cores, alegria e cena coroada, passou por Teresina entre os dias 16 e 17 de junho e deixou desalinhado o terreiro do teatro local. Para quem pode experienciar a práxis cênica do coletivo de Clowns de Shakespeare, Grupo natural de Natal, Rio Grande do Norte, não se arrependeu do que presenciou.

No balaio do
 Grupo, uma montagem divertida, irreverente, classuda e, especialmente, muito requintada em tratamento ao teatro popular de um clássico de William Shakespeare, Ricardo III. No quintal do Teatro Municipal João Paulo II, dia 17 de junho de 2012, a partir das 19 horas, um doce deleite à assistência, através da linguagem clownesca burilada. Foi vista pelo viés particular de leitura do Grupo Clowns de Shakespeare, Fernando Yamamoto e Gabriel Villela a conta perolada Sua Incelença, Ricardo III”.
                                          (Sua Incelença, Ricardo III/foto: Pablo Pinheiro)

E, de saída,
 a agremiação deixou aos leitores da cidade e artistas da cena a Revista Balaio (Ano I, No. 01/set. 2009). Uma publicação do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare. No sumário, destaca-se em capítulos, o processo de (re)invenção de Sua Incelença, Ricardo III”. Abre a revista o artigoMemórias de coletivos teatrais: breves apontamentos de percursos e andanças” (pags. 8 a 13), deAlexandre Mate, educador do Instituto de Artes da UNESP, da Escola Livre de Santo André e pesquisador de teatro.

Todo
 o restante da edição está dedicado ao Dossiê Ricardo III, para tornar público o Projeto Caravana de Investigação Teatral: Ricardo III, desenvolvido no segundo semestre de 2008, em cinco etapas, para cinco cidades potiguares(Angicos, Assu, Santa Cruz, Currais Novos e Natal). Projeto facilitado pelo BNB – Programa BNB Cultura 2008, engajou oficinas a partir da obra Ricardo III,interagindo experiências com artistas e grupos locais das cidades escolhidas.

Fernando Yamamoto, da trupe Clowns de Shakespeare, apresenta o Dossiê Ricardo III e assim se declara envolvido Somos mais uma vítima da cruel sedução de Ricardo, o Duque de Gloster. Junto aos seus comparsas Márcio, Jan e Gabriel, Ricardo nos envolveu de uma forma que não temos mais como escapar (...) Durante essa mesma residência em São Paulo, outro grande mestre surgiu no nosso caminho, o encenador Gabriel Villela (...)” (Yamamoto, Fernando. Dossiê Ricardo III – Apresentação/Revista Balaio, pags. 14 a 17)

O Processo de investigação de construção da encenação é dividido em atos e, para o Primeiro Ato, Angicos, o relato da experiência na primeira cidade é realizado pela integrante do Grupo, Renata kaiser. “A primeira cidade a receber a Caravana de Investigação Cênica é mundialmente conhecida pelas experiências pioneiras do educador Paulo Freire (...) Ao longo de uma semana, o grupo se deparou com o desafio de apresentar um texto clássico a um público com pouco hábito na leitura (...) A cada dia da semana foi trabalhada uma cena do ato I, (...)” (Kaiser, Renata. Primeiro Ato, Angicos/Idem. pags. 18 a 23)

Dando prosseguimento à nossa Caravana de Investigação Teatral, partimos para a execução da segunda etapa do nosso projeto, desta vez na cidade de Assú. O objetivo é desenvolver uma exploração cênica sobre o segundo ato da peça Ricardo III, de William Shakespeare. Na bagagem, levamos a experiência e o aprendizado da realização da primeira etapa em Angicos e, a partir disso, a certeza de que precisávamos fazer uma boa revisão em nosso plano pedagógico.” (Ferrario, César. Pelas bandas do Piató/Idem. pags. 28 a 35)

Ferrario apontou resultados investigativos do segundo ato e Fernando Yamamoto atos de experiências à base do terceiro. 

Santa Cruz foi a etapa mais difícil e delicada deste projeto e, em decorrência disso (e dos resultados que conseguimos alcançar), a mais recompensadamente também (...) Acabamos por fazer um recorte do nosso universo de trabalho (...) apenas a cena 9, que nos pareceu trazer um conflito mais explícito (...)maiores possibilidades de provocar o jogo entre eles.” (Yamamoto, Fernando. Entre a Cruz e a Espada/Idem. pags. 38 a 41)

De novo, Fernando apresenta respostas conseguidas, dessa vez ao IV Ato.

A chegada a Currais Novos, portanto veio cercada de uma grande expectativa por parte de todos nós (...) Cheguei ao Seridó na quarta feira, já sob uma enorme expectativa criada pelas notícias dos meninos durante os dois primeiros dias de trabalho (...) criamos um jogo muito dinâmico entre os grupos, no qual a história do Ato IV era contada. Claramente conseguimos, ao final do projeto – ou suposto final, já que resolvemos criar um bônus em Natal, com o Ato V – (...)” (Yamamoto, Fernando. O javali sanguinário no Seridó/Idem. pags. 46 a 49)

O processo do Ato V – Natal é apresentado por Marco França, o ator que compôs a personagem chave de Sua Incelença, Ricardo III”. Aponta Após quatro cidades, três traduções, uma média de oitenta alunos, alguns muitos quilômetros percorridos, dezenas de “muriçocas” mortas e uma quantidade imensurável de conhecimento construído aportamos, finalmente, em terras doces de um lar por vezes distante: Natal.” (França, Marco. Ato V – Natal/Idem. pags. 52 a 58)

Esclarecida de forma pontual a pedagogia construtivista do espetáculo, ainda há os bônus que complementam a passagem da Caravana, em que outras “feras” lavram a impressão do projeto costurado. Ayra Moabb Monteiro Pessoa, pedagoga de Angicos, apresenta o poema Clowns de Shakespeare em nossas vidas” (pags. 24 a 27); o ator e professor de letras, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, traz seu olhar sobre o (...) sonhar e vislumbrar a magia do teatro(...)”, em "Para Contar uma história" (pags. 36 a 37)

Há, ainda, o Mão dupla” (pags. 42 a 45), texto do comunicador, agente cultural e secretário de cultura da cidade de Santa Cruz até 2008, Iranilson Silva; Ana Carla Azevedo, atriz do Grupo Empório Dell’Art, de Currais Novos, se expressa por Aos Clowns”(pags. 50 a 51). A atriz Titina Medeiros, do Grupo Carmin, convidada a participar da montagem investigada, escreve Um Shakespeare que me revela um Nordeste”(pags. 59 a 61).

Por fim, a reprodução de uma conversa franca, mediada pelas novas tecnologias, entre duas gerações de pensadores e tradutores de Shakespeare. Um bate papo virtual que reuniu Aimara Resende, presidente do Centro de Estudos Shakespearianos (CESh), no Brasil, e Marcos Barbosa,jovem e premiado dramaturgo cearense, radicado em Salvador e professor da UFBA. O tema, W. Shakespeare e sua obra Ricardo III, no capítulo intitulado fricções” (pags. 62 a 69)
                                          (Sua Incelença, Ricardo III/foto: Pablo Pinheiro) 

A
 Revista Balaio, uma experiência registrada de processos de delicada riqueza à cena brasileira. Há muita gente pensando o teatro nacional de forma séria e concentrada. O Grupo Clowns de Shakespeare, de Natal, RGNorte, possibilita, ao público curioso e afim, um balaio de cultura trabalhada. E deixa em seu rastro uma saudade alegre da cena ampliada. Evoé, belos artistas!




quinta-feira, 21 de junho de 2012

Clara e literária

 Clara e literária
por maneco nascimento

A menina moça, Clara Mello, conseguiu lançar seu primeiro livro profissional, em 2010, no Rio de Janeiro, pela editora Mirabolante e assim se apresenta, na orelha esquerda do livro, “Meu nome é Clara e tenho 17 anos. Tenho uma família de artistas, e minha casa é cheia de gente e de arte. Desde que me lembro adoro livros e quero ser escritora. Estou terminando o terceiro ano do ensino médio e vou cursar Letras.” (Mello, Clara. A casa de Isabel. Rio de Janeiro: Mirabolante, 2010. 144p.)

Naquele ano surgia + uma nova escritora brasileira e, com tão pouca idade, para um contexto de diversos e dispersas informações em ágeis fluxos comunicacionais, ainda se dava a uma insistente arte de “resistir” ao mundo do silício e construir obra para livro de papel. Ponto aos leitores tradicionais.

 "
A casa de Isabel" mantém uma qualificada estética de impressão. Bom papel, ilustrações(Fernanda Barreto) a carvão, muito concentradas no enredo. Diagramação equilibrada e capa (frente) fundindo cores do (carvão) com um azul suave mesclado por grafite a acinzentar as horas do céu semi-límpido. A fachada de um solar carioca antigo, recortado por um gradeado à base de estilismos, completa a sobriedade da burguesia carioca recatada em bairros tradicionais do Rio de Janeiro.

Na contracapa (verso) duas árvores ilustram o quintal do solar, protegidas pelas grades do circuito de proteção da propriedade, espaço reservado pela autora para enredar a história do livro que se dá pelo período de um carnaval. Dois jovens, um homem e uma mulher, são reunidos a partir do telefonema da protagonista (Isabel) ao amigo de infância (Teo), no qual informa a morte da irmã + velha da moça, Cecília.

Resolvidos os problemas burocráticos e traumáticos da morte da irmã de Isabel, o casal de amigos divide a Casa, dos pais da protagonista, que se mantivera fechada desde a morte do pai e a diáspora do restante da família. 

Naqueles dias e horas reservados, mas confrontados com os ruídos do carnaval lá fora, eles recordam a infância, as traquinagens, as mudanças, as prisões e liberdades regurgitadas e, por fim, a redenção feliz quando fecham novamente a casa.

História simples, mas bem construída. A irmã “estranha”; o pai amoroso que morre; a mãe que precisa aprender a sobreviver e criar as duas filhas; a filha + velha que vai embora; a mãe que resolve voltar para a Bahia; a volta da irmã + velha para a casa dos pais; o telefonema marcando encontro com Isabel na casa em que cresceram e o suicídio da filha pródiga que gera um quase diário juvenil, bem construído é claro, pela irmã + nova e narradora da reviravolta familiar e desfecho em dias momescos.

A escritura limpa, capítulos e períodos curtos. De ingenuidade em franco processo de maturidade de argumentação e enredo, coesão e coerência à afinação desejada. E uma história de paixões infantis, desejos naturais de sobrevivência recatados, amores não revelados, sinceras amizades e um desfecho aberto, sem deixar pistas românticas de folhetim.

Na orientação lingüísticas de frases, orações, períodos e capítulos enredados
 só algo criou um “desconforto” frasal, em todo o livro, mas talvez seja apenas um purismo lingüístico, que pareceu cacofônico: De todos os sentimentos, ela tinha alguma experiência para compartilhar (...)” (pag. 91) e “Isabel pareceu pensativa. Fiquei imaginando se ela tinha uma rosa seca dentro de si.” (pag. 92).

Purismo vernacular, ou só estranhamento de leitura. A linguística aposta que, em comunicando, tá tudo certo. Há comunicação e, tinha ela as próprias intenções de construir as frases como dispostas no livro. A latinha não pode conservar purismo ao ato criativo. Machado(s) e Graciliano(s)eram gênios, mas não se sabe que tenham condenado aspirantes a escritores.

Salvo essas digressões gramatiqueiras, "A casa de Isabel" é um ensaio bem definido da aprendiz de feiticeira, Clara Mello. E, de sobra, é lamber a própria cri(a)ção sem vaidades e umbigos inflamados para fogueiras fortuitas. A arte de escrever parece exigir talento, leituras, vivências e muita determinação. 
 

Essa nova escritora já sabe o caminho das próprias pedras, agora é descobrir qual a que está no meio do caminho, e quais são as para efeito de passadio à profissão de escrevinhadora. De sorte é que construiu uma obra aberta e parece que sem arroubos de envaidecimento, ou pretensões de ser “Best”.

É leitura para não ofender arcanos, nem troianos. Qualquer leitor será capaz de entender e, sem resistência, gostar da construção textual direta e econômica ao mundo de Clara e literária produção.