sexta-feira, 30 de março de 2012

Com toda a Graça

Com toda a Graça
por maneco nascimento

“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”
(Millôr Fernandes)

Sabia bem do que falava o homem brasileiro Milton Viola Fernandes que, como um dos brilhantes e ademais atuante intelectual nacional, nunca se fez de rogado, nem dourou a pílula de quem quer que fosse. Honesto, direto e pragmático, fosse através de seus traços de arte e humor plástico, fosse pelas falas e tiradas inteligentes e refinadas, críticas e cheias de sabedoria e ironia para salvação da espécie dada ao riso e provocação para sujeito dado ao mal humor.
(Millôr Fernandes em sua casa, bairro Ipanema/foto: g1.globo.com/pop-arte/fotos)

Desenhista, jornalista, humorista, dramaturgo, tradutor, escritor, roteirista, filósofo e pensador livre, em horas de descanso, pode ao Brasil diverso deixar um legado de obra e arte inestimável a gentes bem humoradas e voltado ao riso amparador de dias, mesmo de chumbo, quando o assunto era a exceção.

Prodígio, porque o artista já nasce com sua pena da lei criativa, tem passagem com sua criação e talentos necessários, já desde muito moço, pelo O Jornal do Rio de Janeiro”, a revista “A Cigarra”, a revista “O Cruzeiro”, “Diário Popular”, de Portugal, revista “Veja”, a “Folha”, “TV Tupi Rio”. Fundou com amigos “O Pasquim”, jornal de cultura de resistência ao tempo da ditadura brasileira.

Aos 88 anos, no último dia 27 de março, Millôr pegou carona nas asas d’algum anjo, desses com gracejos da felicidade a quem sempre aplicou laboratórios ao riso e à vida + alegre e dada a “impulso de humana compreensão”. Em passagem de horas que se comemorou o Dia Internacional do Teatro e do Circo, talvez não houvesse momento melhor, para discreta e saudável entrada no mundo do imponderável.

Data de alegria e festas ao artista do palco e picadeiro, o dramaturgo que também incluiu-se no universo das cenas em tablados, por obras suas montadas, marcou borderô de passagem aos céus do Criador e, dessa feita, apontou memórias à “Liberdade liberdade” que sempre há de abrir asas sobre todos nós, para arte e para vida consumadas.

Sua fala, seu nome e sua história, “Viver é desenhar sem borracha”. Para um artista do desenho e da tinta determinados à criação, pode em filosofia sintética e eficiente traduzir metalinguagem entre traços da vida e outros do ato criador e artístico “separados” na realidade, mas unidos pela dialética.

Para um homem que não tinha qualquer frescura e dizia que Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor”, desenvolveu tema direcionado ao feminino e, em 1953, conquistou o palco do TBC – Teatro Brasileiro da Comédia, em São Paulo, com seu primeiro texto encenadoUma mulher em três atos”.

Também viu encenada, por João Bittencourt, em 1960, “Um elefante no caos”. E para musicais, roteirizou em parceria com o querido Flávio Rangel, “Liberdade liberdade”. Ao lado de Elizeth Cardoso e Zimbo Trio também lavrou cultura em Do fundo do azul do mundo”.

AoTerra Estrangeira”, resultado à telona, emprestou sua pena. E salve o cinema nacional pois quem viu sabe do que se está falando. Homem das letras e da imprensa livre, em papel de oposição, ainda coletivizou seu bom texto em “O Correio Brasiliense”; “Jornal do Brasil”; “O Estado de São Paulo”; “Correio da Manhã”; “Folha da Manhã” e “Diário da Noite”.

Às frases (des)feitas, aos versos e reversos de textos contundentes, traços e tinta e conceitos, lições de razão e crítica, fábulas e contos fabulosos. O poeta da vida e obra laborada a “nosotros” só deixa uma boa saudade da tua presença à terra brasis.

Millôr Fernandes com toda a Graça
, a mérito próprio, alcança o alegre encontro com a paz almejada e expectativa tranqüila ao lado de quem melhor desempenhou amizade, riso, prazer de companhias e verdade solidária.

Nenhum comentário:

Postar um comentário