sábado, 31 de março de 2012

governo Mal educado

governo Mal educado
por maneco nascimento

A forçosa manobra de governo e impositiva postura de “quem manda aqui sou eu” tem empurrado o primeiro semestre das escolas públicas estaduais “às cucuias”. Os professores da rede estadual de ensino estão em greve, de direito, desde o dia 27 de fevereiro de 2012. A proposta governamental ainda cheira a descaso não só com os profissionais da educação, mas, especialmente, com centenas de alunos dependentes do serviço público da educação formal.

Para o professor aposentado, da rede pública estadual, Alborino Teixeira da Silva, sobre a proposta oficial de reajuste aos trabalhadores em educação(...) Agora apresenta com o maior desrespeito à categoria uma proposta indecente afirmando que vai pagar o Piso somente para as classes A e B, acabando com a carreira do magistério, como se as outras classes não tivessem direito ao Piso estabelecido em Lei (...)” (Silva, Alborino. Pleno Descaso. Opinião. Teresina: ODIA, 31.03.2012, pag. 6 – Artigos)

Quando há uma campanha em busca de melhorias de condições de trabalho e salarial, naturalmente que são envolvidos não só professores e professoras, mas todo um corpo de profissionais que despendem sua força de trabalho para manter uma escola viva e em andamento.

O profissional da sala de aula acaba à frente de movimentos dessa ordem porque teria, talvez, poder de argumentação e arregimentação coletiva de interesse comum.

Nesse momento, os professores e professoras reivindicam o Piso Salarial como vencimento básico, como manda a lei, mas há também uma necessidade de aclarear a opinião pública acerca de direitos trabalhistas, para que não pareça que, mesquinhamente, esses profissionais educadores estariam centrados só em seu salário.

Segundo Alborino, além da implantação do Piso à categoria, há também reivindicações quais (...) reajuste da regência de classe; regularização das transposições; quadro de professores completo nas escolas; auxílio transporte; reforma no Plano de Cargos, Carreira e Salário do Magistério; agilidade nas aposentadorias (...) condições concretas e dignas de trabalho; redução da carga horária de trabalho (...) Licença-Prêmio sem discriminação; regularização das férias dos vigias e reajuste para todos os trabalhadores técnicos e administrativos (...)” (Idem)

Como se percebe há um corolário de necessidades reais para que as escolas funcionem a contento. Há, inclusive, argumentos de necessidades que, aparentemente, estariam embutidas na vida prática da relação professor/aluno/sala de aula/escola. O governo do estado amplia a agonia de pais e estudantes atrelados na escola pública ao anunciar que:

O governador Wilson Martins vai enviar à Assembleia Legislativa, na próxima segunda, proposta de pagamento do piso nacional do magistério retroativo ao mês de janeiro, a partir de maio – todos os professores, em qualquer cargo, receberão reajuste com adoção do piso salarial de R$ 1.451 (...) A proposta governamental significa uma ampliação do prisma do salário, já que a lei que regulamenta o piso salarial da categoria garante o pagamento apenas aos professores do cargo inicial de carreira (...)” (Opinião. Da Redação. Teresina: Meio Norte, 31.03.2012, A/4 – Política & Justiça)

Educandos da rede pública de ensino estarão sempre à mercê de administradores com propostas escorregadias e discursos simbióticos quando o assunto é protelar a finalização de interesse de quem está na ponta do problema.

Aluno(a)s, às centenas, sem aula na capital e em todo o estado. O período letivo já quase comprometido e o maneirismo político de estratagemas de tentar vencer pelo cansaço quem reclama por melhores condições de vida e trabalho. As escolas do município também enfrentam problema semelhante. São dias difíceis.

Chefes de executivo e políticos, seus assessores, não têm problemas com encolhimento educacional. Grosso modo, estes vêm de condições sócio-econômicas que dispensam preocupação, ou sequer passagem pelo serviço da educação pública. Serviço público é para maioria que não teria outra escolha, senão depender do instituto público oficial, custeado com imposto coletivo.

Enquanto o eleitor brasileiro trocar o seu voto pelo discurso de holofotes e carisma genealógico e nepótico de quem é alçado a representante do povo, nada poderá ser diferente do Brasil que conhecemos e achamos natural em sua representação política.

governo Mal educado para tratar de assuntos de interesses públicos coletivos tem educação e status social suficientes e costas largas para bancar-se a si e aos seus, sem necessidade de recorrer aos serviços de educação, saúde, transportes urbanos, etc., essas necessidades são da maioria e essa maioria é útil em números de votos.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Marilyn, Marilyn!

 Marilyn, Marilyn!
por maneco nascimento

Recentemente, através das campanhas de disputas pela estatueta do poder “business in movie”, descobriu-se que a história de Colin Clark, “Minha semana com Marilyn entrou no páreo de concorrência a um Oscar, através do filme Sete dias com Marilyn” em que a atriz Michelle Williams ganhou o Globo de Ouro pela atuação na pele da personagem da “Deusa” de Hollywood.

1956, Colin Clark, um jovem inglês de 23 anos de idade, conseguiu um emprego como terceiro assistente de direção no set de ‘O Príncipe Encantado’. O filme, dirigido pelo renomado ator britânico Laurence Olivier, que também era um dos protagonistas, tinha como atriz principal o maior símbolo sexual de Hollywood, Marilyn Monroe – e as brigas entre eles entraram para as lendas do cinema.” (Clark, Colin. Minha semana com Marilyn. Tradução Carmen Fisher. São Paulo: Seoman, 2012. – Nota de orelha)

As confissões de Colin, que segundo o próprio autor só seriam publicadas após a morte da lenda viva, referem fidelidade a uma semana de convivência com a mulher + apaixonante, desejada, odiada, invejada, humilhada e confusa sobre qual seria seu papel, se de heroína, vilã, puta, atriz com ou sem talento, ou simplesmente alguém querendo ter liberdade para ir e vir, sorrir e conversar com alguém que não se interessasse por ela, só para levá-la à cama.

Esse jovem inglês, filho de amigos pessoais de Laurence Olivier, conseguiu o emprego através do tio Larry e tornou-se a pessoa + importante no set de gravação por ser a ponte despretensiosa e desinteressada entre a instável diva e todo o “staf “de gravação de cinema. A equipe inglesa dirigia-lhe olhar enviesado e não disfarçava a antipatia por Marilyn, ou o fato dele ter “passado” para o lado dela.

Por toda uma gloriosa semana, a maior estrela do planeta buscou conforto nos braços do empregado mais jovem do set. Minha semana com Marilyn é o relato franco, doce e engraçado de como Colin Clark passou a partilhar os segredos de Marilyn Monroe – e até a cama dela!” (Idem)

(capa livro de colin clark/ retirada de: www.pensamento-cultrix.com.br/minhasemanacommarilyn)

O s relatos de Colin Clark que passou a escrever, em um diário, sobre o dia a dia das filmagens, desmistificam a imagem glamourosa da mulher + disputada e manipulada pela indústria de cinema americano. Marido, advogados, executivos, diretores, produtores, preparadores da atriz, cabeleireiros e maquiadores e toda uma gente envolvida na vida postiça de Marilyn ganham destaque de meio deus, meio diabo nas confusas interpretações da artista para jogo de poder da indústria mass media.

Pelas conversas entre a deusa de barro e o terceiro assistente de direção se consegue entender o redemoinho em que era envolvida. O rapaz tentava convencê-la de quem dava as cartas. Ela é que era o centro do furacão e os outros é que giravam em torno dela, agarrando-a para sobreviver ao fenômeno que representava, sem talvez ter consciência do poder ou ruína que atraía para si.

Entre as crises de baixa estima, comprimidos para dormir e total insegurança de não estar agradando o grande mestre do teatro britânico e seu diretor no set, ela acabava tendo com tábua de salvação os conselhos de Colin, talvez um dos poucos amigos que dispunha na Inglaterra e que tinha interesse em vê-la realizar o maior sonho, tornar-se a atriz que perseguia ser.

Você tem talentos e vantagens que a maioria das pessoas só consegue sonhar. Você simplesmente não tem quem ajude a usá-los apropriadamente. Como todas as pessoas ambiciosas, você precisa crescer o tempo todo – crescer como atriz e também como pessoa. E crescer é doloroso, não há a menor dúvida. Dores do crescimento, como são chamadas (...)” (Clark, Colin. Minha semana com Marilyn. Tradução Carmen Fisher. São Paulo: Seoman, 2012. pag. 115)

Se tradução fiel ao original e original fiel as experiências vividas pelo autor, então ele não teria sido só um confidente ocasional, mas também o único amigo em quem ela confiaria, psicanalista de plantão e “amante” fortuito. Seu poder de convencimento a tirava da cama e a punha no set de gravação às 7h45m, para surpresa de todos. Ela o ouvia de verdade:

(...) Mas você não quer ficar parada. Você não suporta ficar sentada pensando: ‘Eu sou Marilyn Monroe e isso é suficiente para passar por um filme desmiolado de Hollywood para outro.’ Se conseguisse fazer isso, você não estaria aqui agora. Você não teria se casado com um escritor famoso, não teria lido Os irmãos Karamazov nem concordado em atuar com Laurence Olivier. Você estaria dirigindo um Cadillac cor-de-rosa em Beverly Hills, almoçaria todos os dias com seu agente e ficaria contando o dinheiro que tem no banco.” (Clark, Colin. Minha semana com Marilyn. Tradução Carmen Fisher. São Paulo: Seoman, 2012. pag. 115)

Minha semana com Marilyn”, de leitura rápida que, no momento, pode ser “da moda” por tratar-se de obra adaptada à telona. Mas traz uma luz difusa acerca da personagem mito do cinema americano. 

Marilyn, Marilyn! A mulher + cobiçada do mundo parece que só desejava ser gente comum. Pagou o preço forjado a deuses mortais.

Com toda a Graça

Com toda a Graça
por maneco nascimento

“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”
(Millôr Fernandes)

Sabia bem do que falava o homem brasileiro Milton Viola Fernandes que, como um dos brilhantes e ademais atuante intelectual nacional, nunca se fez de rogado, nem dourou a pílula de quem quer que fosse. Honesto, direto e pragmático, fosse através de seus traços de arte e humor plástico, fosse pelas falas e tiradas inteligentes e refinadas, críticas e cheias de sabedoria e ironia para salvação da espécie dada ao riso e provocação para sujeito dado ao mal humor.
(Millôr Fernandes em sua casa, bairro Ipanema/foto: g1.globo.com/pop-arte/fotos)

Desenhista, jornalista, humorista, dramaturgo, tradutor, escritor, roteirista, filósofo e pensador livre, em horas de descanso, pode ao Brasil diverso deixar um legado de obra e arte inestimável a gentes bem humoradas e voltado ao riso amparador de dias, mesmo de chumbo, quando o assunto era a exceção.

Prodígio, porque o artista já nasce com sua pena da lei criativa, tem passagem com sua criação e talentos necessários, já desde muito moço, pelo O Jornal do Rio de Janeiro”, a revista “A Cigarra”, a revista “O Cruzeiro”, “Diário Popular”, de Portugal, revista “Veja”, a “Folha”, “TV Tupi Rio”. Fundou com amigos “O Pasquim”, jornal de cultura de resistência ao tempo da ditadura brasileira.

Aos 88 anos, no último dia 27 de março, Millôr pegou carona nas asas d’algum anjo, desses com gracejos da felicidade a quem sempre aplicou laboratórios ao riso e à vida + alegre e dada a “impulso de humana compreensão”. Em passagem de horas que se comemorou o Dia Internacional do Teatro e do Circo, talvez não houvesse momento melhor, para discreta e saudável entrada no mundo do imponderável.

Data de alegria e festas ao artista do palco e picadeiro, o dramaturgo que também incluiu-se no universo das cenas em tablados, por obras suas montadas, marcou borderô de passagem aos céus do Criador e, dessa feita, apontou memórias à “Liberdade liberdade” que sempre há de abrir asas sobre todos nós, para arte e para vida consumadas.

Sua fala, seu nome e sua história, “Viver é desenhar sem borracha”. Para um artista do desenho e da tinta determinados à criação, pode em filosofia sintética e eficiente traduzir metalinguagem entre traços da vida e outros do ato criador e artístico “separados” na realidade, mas unidos pela dialética.

Para um homem que não tinha qualquer frescura e dizia que Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor”, desenvolveu tema direcionado ao feminino e, em 1953, conquistou o palco do TBC – Teatro Brasileiro da Comédia, em São Paulo, com seu primeiro texto encenadoUma mulher em três atos”.

Também viu encenada, por João Bittencourt, em 1960, “Um elefante no caos”. E para musicais, roteirizou em parceria com o querido Flávio Rangel, “Liberdade liberdade”. Ao lado de Elizeth Cardoso e Zimbo Trio também lavrou cultura em Do fundo do azul do mundo”.

AoTerra Estrangeira”, resultado à telona, emprestou sua pena. E salve o cinema nacional pois quem viu sabe do que se está falando. Homem das letras e da imprensa livre, em papel de oposição, ainda coletivizou seu bom texto em “O Correio Brasiliense”; “Jornal do Brasil”; “O Estado de São Paulo”; “Correio da Manhã”; “Folha da Manhã” e “Diário da Noite”.

Às frases (des)feitas, aos versos e reversos de textos contundentes, traços e tinta e conceitos, lições de razão e crítica, fábulas e contos fabulosos. O poeta da vida e obra laborada a “nosotros” só deixa uma boa saudade da tua presença à terra brasis.

Millôr Fernandes com toda a Graça
, a mérito próprio, alcança o alegre encontro com a paz almejada e expectativa tranqüila ao lado de quem melhor desempenhou amizade, riso, prazer de companhias e verdade solidária.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Dia do "Petúnias"

Dia do “Petúnias”
por maneco nascimento

O Grupo “As Petúnias de Teatro” foi a melhor agenda, no bairro Dirceu Arcoverde, em data de comemorações ao Dia Internacional do Teatro. Enquanto a cidade dividia-se em espaços de ocupação às festas do teatro e do circo, o Teatro Municipal João Paulo II recebia o espetáculo “O Macaco Malandro”, dirigido por Marina Marques.


O bem humorado espetáculo, para público infantil, marcou em seu histórico de atuação a participação no dia mundial de manifestação artística das cênicas, no horário das 18 horas, no Teatro João Paulo II.

O público que compareceu teve uma boa impressão e divertiu-se com a história do macaco que, numa de “Pedro Malasartes”, passa a perna na raposa e no lobo, domados pela ingenuidade.

Difícil não rir, nem envolver-se na trama do macaco juiz que ilude os dois colegas da selva e, numa estratégia de toda esperteza, vai engabelando-os até devorar todo um pedaço de queijo achado e disputado pelos predadores naturais, envolvidos em enredo fabular.

As fábulas, em suas características estilísticas e de narrativas morais desempenham papel de crítica, reflexão e transferência comportamental humana à pele de animais, como estratégias de, ao atrair o público infantil ao fato contado, também fazê-lo compreender os meandros da malícia da natureza humana, mesmo em vozes e vidas de outros bichos.


É assim a dramaturgia textual de “O Macaco Malandro”, mas é também a dramaturgia de cena e condução das personagens em palco, possibilitadas por Marina Marques, que muito enriquecem o teatro infantil piauiense e abrem possibilidades não só de lançar novos atores ao mercado da cena amadora local, como confirmar uma nova geração do fazer teatral em Teresina.

Há, na montagem, uma sintonia divertida, concentrada e característica ao teatro infantil. Equilibrada, sem exageros nem apelos fáceis para excitar crianças e fazer parecer que as está conquistando.

O público infantil, nesse espetáculo, se concentra na história, participa, ri na hora certa e intervém dando sua contribuição na quebra da quarta parede.

Os figurinos e máscaras dos bichos têm inteligência de apropriação de cores, efeitos e liberdades criativas direcionadas ao universo infantil. Concorrem em grande acerto.

O cenário simples de cipós pendidos e um tronco que, em determinado momento, transmuta-se para trono do juiz em seu tribunal de espertezas, é muito eficaz.


A árvore que anda (Ary Veras) e faz-se às vezes de contrarregra; amiga; sombra dos bichos e apartadora das brigas entre eles, favorece um ar de muita graça à personagem que fala pelo corpo. Mesmo porque árvore não fala, mas esta anda e tem desenvoltura entre atabalhoada, de propósito, e de humor para pantomimas, ou revezes de “inanimados” com muita vida e alegria incontida na economia desesperada da cena vista.

O triângulo de bichos está muito à vontade. A raposa, de Cristina Pillar, e o lobo, de Eliziânio Pedro, mantêm uma dobradinha eficiente quer seja em entradas interventivas pela platéia, quer seja no miolo da trama preparada, pela dramaturgia, para enganá-los.

O macaco, de Juremir Rios, que já traz na rubrica do título do espetáculo a marca característica à personagem, é de uma naturalidade malandra e sutilmente apegada a signos e linguagem à leitura própria do universo infantil planejado.

Marina Marques, diretora da peça e que assina também os figurinos, e Lorena Campelo, criadora de adereços e operadora do som do espetáculo, estão de parabéns, ampliados a elenco e resultado. Não há qualquer ruído que desabone a comunicação criada entre teatro e público durante a vida encenada de “O Macaco Malandro”.

Salvo qualquer montagem infantil que ainda esteja por surgir, nesse momento, dos espetáculos vistos, esse é talvez um dos melhores resultados para crianças que a cidade dispõe.

O Grupo As Petúnias de Teatro está em seu melhor dia de resultado encenado e o Dia Internacional de Teatro esteve em sua melhor hora, durante a apresentação de “O Macaco Malandro”.

sábado, 24 de março de 2012

A Deus, Chico.


A Deus, Chico.
por maneco nascimento

 (Chico Anysio/professor Raimundo na Escola do.../foto divulgação)

A ponte aérea para as estrelas despachou “chek in” ao grande e nosso maior humorista brasileiríssimo, o Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, no último dia 23 deste março corrido. Cearense porrenta, de Maranguape, atomizado para construir história, em solo mortal, na franca data de 12 de abril de 1931.

De alcunha artística e de poesia à comunicação social d’arte ampliada, tornou-se o inimitável Chico Anysio, em carreira iniciada como radioator e comentarista de futebol, quando ao lado da irmã Lupe Gigliotti concorreu a teste seletivo na Rádio Guanabara. Entrou para compor elenco de radionovela e saiu do teste radioator e locutor comentarista de futebol.

(...) Por acaso eu sou ator. Talvez eu não seja o ator que imagino (levando-se em conta o que todos imaginam ser um ator), mas ator, porque dois terços da minha vida eu dediquei a este trabalho onde um cara faz o papel de médico ou palhaço, de chofer ou milionário, de mendigo ou pastor de almas, seja lá que personagem for. E isso é o que faço.” (Anysio, Chico. Sou Francisco. Rio de Janeiro: Rocco,1992. pag. 9)
 (grande Chico Anysio/foto divulgação)
A minha geração jamais negaria que cresceu vendo televisão, veículo de diversão, entretenimento, informação e, para os mais céticos, alienador. Salvo as defesas político ideológicas, foi a televisão que chegou à Teresina, na década de 1970, que possibilitou a muita gente conviver com a “caixinha mágica” e dobrar o riso com o humor qualitativo e crítico diferenciado, produzido à telinha pelo mestre Chico Anysio.

A minha dúvida de ser ou não ser ator é produzida pelo descrédito dos críticos do meu país, que sempre preferiram me chamar de humorista ou de comediante, (...) Sou um ator, queiram eles ou não. Desde o rádio, época em que muitos ainda nem tinham nascido, até à televisão, veículo onde a crítica perde, inclusive, o sentido (...) deixe-me explicar que nunca me senti diminuído ao ser chamado de humorista ou comediante, porque isso eu também sou, orgulhosamente. Se me permitem: ‘modéstia-à-partemente`.” (Idem. pags. 9, 10)
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Foi na televisão que textos, “sketchs”, quadros e diálogos fabulosos ganharam vida rica de personagens inestimáveis como o seu Popó, o velhinho ranzinza; o pastor Tim Tones, de 1984, com o jargão “quem tem põe, quem não tem tira...”, uma paródia de sutilezas e ironias à cena local, usando como cavalo a imagem do pastor fundamentalista Jim Jones. O personagem do ator clássico Alberto Roberto, d’uma pavonice deliciosa.
  (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

E uma galeria de humor, inteligência, sarcasmo, crítica venal e política de fazer rir em abordagens de temáticas sérias, humanas e de identidade com tipos naturalmente identificáveis no país de Macunaíma. O personagem Silva, com óculos “fundo de garrafa”, chapéu de couro e peruca estirada; Gastão, o pão duro; Bozó; Bexiga; Tavares, o comandante de avião; Urbulino; Washington, o jovem; Nazareno: “Calada!”.
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Os tipos antológicos ganharam voz na boca popular, como Salomé de Passo Fundo; Justo Veríssimo, o político que odiava pobre; Painho, o pai de santo, baiano e dengoso; Bento Carneiro, o vampiro brasileiro; Pantaleão, o contador de “causos”: “É mentira, Terta?”.
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Ou ainda o Haroldo, o delicado; o maravilhoso Professor Raimundo Canavieira que se desdobrou à Escolinha do professor Raimundo: “E o salário, o´...” e o Profeta que sempre encerrava o programa semanal com uma mensagem de paz e reflexão ao telespectador brasileiro.

 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Chico Anysio, como todo jequitibá que enverga, mas não quebra, todavia precisaria cumprir ciclos de retorno ao jardim das essências, tomou forma de poeira de luz, nos primeiros vazios e preenchidos espaços da tarde de 23 de março de 2012.
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Havia três meses que sofria de complicações da idade e saúde, problemas respiratórios e processos de desligamento terrestre rumo ao transcendente.

Aos 65 anos de carreira, com mais de 200 tipos criados para o rádio e televisão, deixou a terra mortal com 81 anos de idade bem vividos, aproveitados até o último estimulo de rigor ao compromisso da profissão e prazer escolhidos. Voltando-se a sua memória e história conquistadas disse, ao falar da profissão:
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

(...) Isto talvez explique o fato de ter sido, a partir de 1948, locutor, narrador, galã de novelas de rádio, locutor ‘atrás do gol’, locutor de futebol no segundo jogo, comentarista de futebol, locutor de radiobaile, ator característico, novelista, redator de todos os tipos de programas do rádio, teleator, escritor, autor de letras de música, compositor, imitador, pintor e ainda ter tido tempo de namorar centenas de vezes, casar cinco e produzir cinco filhos, por enquanto.” (Idem. pags. 10, 11)
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

O Brasil dormiu sem Chico, ontem, e acordará a partir d’agora sem o Anysio que durante décadas contagiou o país com seu ótimo humor e demonstrou ao brasileiro que não é só de sofrimento e corrupção, é também do riso, da boa piada política, da pilhéria e do picaresco inteligentes que se constrói a cultura nacional.
 (fotografia.folha.uol.com.br/galerias/-personagens-de-chico-anysio)

Grande ator, comediante, humorista. Grande homem, grande artista que atestou: “Sempre detestei a piada-pela-piada, a graça ‘de graça’, porque na minha concepção, humor é algo que pode ser tudo, até mesmo engraçado. Charlie Chaplin prova isso.” (Idem. pag. 12)

A Deus, Chico. Porque a nós resta a doce lembrança dos dias em que melhor nos fez rir.