quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mocambinho - o filme.

Mocambinho, o filme
por maneco nascimento
Uma das novidades que atraiu convidados à Sala Torquato Neto, na noite do dia 01 de novembro, às 20 horas, foi a sessão de pré-estréia do filme “Mocambinho – o filme”, roteirizado e dirigido por Franklin Pires. Uma “película” que, segundo o diretor, realizada em apenas trinta dias, reúne histórias verossimilhantes com o mundo real do bairro da zona norte da cidade.
Romances entrecruzam-se na ficção e sempre numa picardia de natureza franklinpireana para escorpiões e lacraias. Há uma radiografia daquela micro-cidade com sua noite de gatos pardos, bares, churrascarias, ruas e avenidas e seu movimento de horas e tempo dinâmicos e o comércio natural de vidas e sobrevivências contumazes.
(arte cartaz "Mocambinho- o filme"/foto: divulgação)

A linguagem de Pires está impregnada no texto de roteiro eficaz ao projeto, nas tomadas de claros e escuros das almas e espíritos livres de qualquer bairro e civilização pós-moderna. Como a própria identidade do filme se anuncia, desde as primeiras e bucólicas cenas, tudo está enredado ao drama, romance e comédia. Só não ri quem não quiser, ou estiver no cinema errado, no programa fora de órbita saudável.
(Banda Penosa de "Mocambinho - o filme"/foto: divulgação)

Há, da direção de fotografia, uma boa valorização do bairro. Cenas aéreas, noturnas, ruas suburbanas e suas tiradas de simplicidade, o mercado das carnes, o comércio das frutas e frutos, peixes e víveres de todas as necessidades.
Para os romances transversalizados, tem-se o do vendedor de pastéis com a filha “virgem” do pastor; o da transexual com o dançarino de banda de suing/quebradeira e, no terceiro vértice, o do vocalista da Banda Penosa, “comedor” das mocinhas desprotegidas e macho alfa das dançarinas e das “piabas” da rede.
 F. Pires, também produtor do filme, empresta-se para viver o vocalista da Banda de quebradeira e apresenta-se com um humor de correspondência corporal forjado à veia padrão de personagens de bandas de forró e suingueira. Domina o estilo e convence.
 A vestuária e adereços completam o perfil do vocalista em vias de celebrização. O acompanham, compondo a Banda Penosa, as personagens-dançarinas compostas por Cleide Fernando e Nayara Fabrícia, uma dupla dinâmica necessária e divertida. Fecha o conjunto, Bruno Lima, o dançarino-galã de segundo turno.
Do núcleo família de Claudenor/Karina, destaques para a avó, Edith Rosa, entre o dramalhão e um humor particularmente divertido; Carmem Carvalho (mãe), uma viúva para desempenho assentado. Fica bem no cinema, comove nas cenas dramáticas; João Vasconcelos (tio), um misto dele mesmo com tiradas naturais para efeito do bom riso. E a criança, Nathalia Cavalcanti, no cumprimento do seu papel de interferente na família muito doida, está à vontade.
Gleyciane Pires na pele da transexual, um charme, beleza e elegância ao menino que volta da Europa mulher feita. Desenvolve uma boa química com Bruno Lima, o dançarino da banda que se apaixona pela moça que mija em pé. Numa intertextualidade com “Quanto mais quente, melhor”, de Billy Wilder, o roteiro copta que mesmo nas periferias latino-americanas os detalhes são descartáveis à conversão do final feliz.
(Cenas de "Mocambinho - o filme/foto: divulgação)
No núcleo da mocinha, filha do pastor e seu romance pastelão com o vendedor de salgados, o envolvimento se finaliza ao público. Ítalo Falcão, dentro de sua natural interpretação, preenche o vídeo de plástica consumível pelas indústrias culturais e recebe um reforço de beleza e concentração dramático-econômica, para trocar fichinhas, de Nayara Vanise. O casal água com chocolate desempenha bem suas conotações artísticas e tem em Francisco Augusto, o pastor, um confronto de gerações e diverso de atuação.
O filme, uma colcha de retalhos com alinhavo histriônico em que trinta atores dão seu recado e convertem o público ao riso e entretenimento e recheia o público de novidades corriqueiras, mas de identidade imediata.  Alex Zantelli, dono da Lan House, é show. Valdemar Santos, como o travesti La Toya, abandonado pelo mocinho-dançarino, preenche um riso a + à tragicomédia deslanchada.

Os vizinhos Odirene dos Santos, Ana Carvalho, Nilda Neres, Camila Karen, José Dantas e as demais personagens que vão sendo enxertadas, à medida que o humor e enredo exigem, cumprem seu papel sem “frescuras” e empenham diretrizes de F. Pires.
Completam o time, para ganhar, Madeleine Alcântara, Danilo França, Junior Vieira, Laura Marques, Leo Corpão, Dionny Arthuro, Diana Preta e Dani Lacet. Yara Vaz, a dançarina da boite de  polydance, um espetáculo de performance a olhos vistos.
Mocambinho – o filme, vem com sua força de furacão para desvendar risos, encantamentos, despeitos e graves desejos de que não dê certo. A fórmula é própria e o empenho é coletivo. Quem quiser que invente outro, esse mote já tem assinatura.
Elenco técnico:

Roteiro, direção e edição: Franklin Pires
Pós Produção: Sergio Lima
Imagens: Franklin Pires e Bruno Lima
Produção: Danilo França
Sonorização: Sergio Lima e Reinaldo Fernandes
Colorização: Jean Marcelo



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