sábado, 12 de novembro de 2011

As cidades das gentes

As cidades das gentes
por maneco nascimento
As cidades e as pessoas compõem a alma das sociedades forjadas. As cidades porque abrigo das pessoas, as pessoas porque abraço das cidades. Sem uma ou outra, algo não se completa. Das primevas experiências de reuniões em eixos sociais, núcleos de união de interesses, intenções e reprodução de hábitos é que se construíram as cidades das pessoas e as pessoas das cidades.
(relíquias de Teresina/acervo: paroquiasantajoanadarc...)
Vilarejos, vilas, cidadelas, cidades, centros urbanos e conglomerados contemporâneos, em todos os estágios em que se estruturaram as sociabilidades físico-geográficas, estágios estes ainda repetidos em qualquer parte do mundo das civilizações, sempre houve a presença do idealizador dessas junções das gentes em ambientes de acomodação e sobrevivência. O engenheiro das vidas protegidas pelas sociedades de construtores e das antropologias edificadas.
(Praça PII e antigo prédio que abriga hoje o Centro Artesanal Mestre Dezinho/acervo: www. skyscrapercity.com)
Assim é que temos as cidades das memórias, das velhas e renovadas histórias, as fisicalizadas e as invisíveis. As cidades acompanham a dinâmica das vidas e de seus pares e vão-se modificando a cada novo lampejo de engenharias sociais. É dessa forma que foram erigidas Tebas,Tróia, Roma, Atenas, Egito, Alexandria, entre outras historiografadas. Umas destruídas e refeitas, outras perpetuadas pela ousadia e defesa de geografias político-bélicas.
A imberbe Teresina em seus poucos + de cento e cinquenta e nove anos, nascida às margens do rio Poti, na Vila Velha do Poti e depois transferida para local mais elevado para melhor sobrevivência social, na Chapada do Corisco, vem assumidamente ganhando contornos de modernidade e emendas com as franjas da cidade, as necessárias periferias que pipocam como natural tábua de salvação às moradias das demais gentes.
(Teresina de hoje - avenida João XXIII/foto: juscelino reis)
A velha Teresina subiu a ladeira, fugindo das inundações ribeirinhas e das infecções tropicais. No alto da Jurubeba ganhou contornos de nova Teresina, com igrejas, primeiros prédios públicos e residências oficiais e civis. E, ampliando-se +, subiu rumo leste para atravessar o mesmo Poti já à região leste/sudeste.
(centro velho da cidade/acervo: overmundo.com. br)
Dos casarios do início do século XX, construções de alvenaria para dois pavimentos, alguns sobrevivem no centro velho da cidade e no que avançou no quadrante da Frei Serafim. Algumas decisões + audaciosas derrubaram, em ação de trator, exemplares de moradia de rigor arquitetônico, plantados dessa região.

(vista áerea da Teresina/acervo: www. skyscrapercity.com)

As gentes + humildes foram empurradas às zonas suburbanas por discurso prático de higiene social. Incêndios da década de quarenta, por exemplo, melhor definiram as gentes do centro e as de outras plagas sócio geográficas. As cidadelas de palha nascidas no Barrocão, Piçarra, Vermelha, Porenquanto, entre outras, sofreram o Fogo! feito chuva ardente e “Chuva!” como metáfora à pira dos infernos.
Atualmente e a cada vez +, menos edificações têm sobrevivido no velho centro da cidade. A memória arquitetônica tem paulatinamente sido substituída por estacionamentos e novas edificações ao sopro da contemporaneidade do crescimento urbano comercial.

As gentes proprietárias dos casarios antigos foram mudando-se para novas regiões e as moradias ficaram à mercê de especulações, fechadas e ou abandonadas. Em casos extremos, destruídas para uso de estacionamento. As gentes, donas originais das casas, desapareceram. Os herdeiros preferem, por vezes, passar adiante as “velhas” moradias. Livrar-se do IPTU e dividir o espólio.
(São Benedito e Frei Serafim de alguns anos atrás/acervo: www. skyscrapercity.com)
As vidas das gentes, moradoras do velho centro, perderam-se no tempo. As casas das gentes donas das antigas memórias perderam seu tempo de vida “saudável” e seguem mortas, sem esperança de recuperação dos tempos áureos de existência edificada. Findam-se às novas especulações financeiras.
(Av. Raul Lopes, Ponte Estaiada Isidoro França e Rio Poti/foto: Juscelino Reis)
As casas das gentes simples nos subúrbios e periferias seguem livres. Com paredes caiadas, com cadeiras na calçada, ainda têm vida compensada às gentes que as preservam à própria permanência. As micro cidades, contidas na macro Teresina, também têm suas memórias e suas histórias que contém tempo de continuidade protegida.
A velha Teresina obscurece sua memória arquitetônica, na contra mão da Belo Horizonte em que a iniciativa privada tem recuperado prédios antigos, apropriando-os de vida nova a centros culturais ou repartições públicas.
(Ponte Estaiada Isidoro França e edfício zona leste/foto: Juscelino Reis)
A cidade verde cresce verticalmente e, em nome do progresso, amplia a cortina de fumaça do esquecimento das vidas das gentes e sua antiga cidade. Progressivamente são encurtadas as cidades visíveis. Não sobra às novas gerações nenhuma perspectiva edificada de memória das cidades invisíveis. Dorme a cidade satisfatoriamente.



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