terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vende-se


Vende-se
por maneco nascimento

Na atualidade, a ideia de publicidade é regida pelas lógicas de mercado e a mídia, como previsto por Habermas (1984), figura como palco de novo debate público contemporâneo. Determinados temas, capazes de promover mudanças e debates sociais, repetidamente, servem somente para controle de audiência, destaque de certa marca, promoção ou lançamento de algum produto (...)” (Dourado, Jacqueline Lima. Rede Globo: mercado ou cidadania? – Teresina: EDUFPI, 2011, 344p.)

O livro da jornalista Jacqueline Dourado, Doutora em Ciências da Comunicação, que atua como docente junto ao Curso de Jornalismo e aos Cursos de Mestrado em Comunicação Social e Políticas Públicas da UFPI, traz uma rica reflexão acerca do papel das mídias e uma radiografia do discurso de cidadania, marketing e merchandising sociais aplicados na grade da programação da tevê “número 1” de audiência.

E, naturalmente, como aponta pesquisa da professora-doutora, a publicidade regida pelas lógicas do mercado e a mídia, acaba definindo defesas simbólicas e produção de sentido para contexto de um bom negócio às vendas e lucros.

Pegando o gancho de detido estudo da cientista da comunicação social, quero contextualizar discussão sobre campanha publicitária vista em jornal impresso local.

Um anúncio fotográfico de página inteira traz uma família composta por um homem, uma mulher, um menino e uma menina. Estão amarrados todos juntos e com tarja preta nos olhos. As crianças frontais, os pais ao fundo.

O pai, ao fundo esquerdo, em perfil diagonal, sentido anti-horário. A menina, frontal, à frente do pai. A mãe, ao fundo direito, em perfil diagonal frontalizando, sentido horário. O menino, quase frontalizado total, sentido horário, à frente da mãe.
 
 A família branca, bonita, bem vestida, revela na forjada imagem de estética publicitária uma marca de violência? O fundo da página publicitária é negro para contraste da variedade de cores das roupas, peles e lábios rosados. O texto que assina a venda está sobre a cabeça dos “reféns”. A mensagem escrita com letras em cor branca.

A legenda: “Não É Filme, É A Violência Que Está Invadindo Casas Em Teresina. Mas Você Ainda Pode Escapar...”

Todas as primeiras letras de cada palavra estão em maiúsculo. O anúncio é da primeira página do caderno publicitário. Quando se abre o caderno para as páginas interiores, o miolo do sanduíche, ai tem-se um maravilhoso modelo importado de vida realizada. Uma imagem aérea aberta de condomínio fechado.

Nos detalhes, em outras fotos recortadas, se vislumbra lago ao fim da tarde, gansos nadando em grupo, pescaria, academia de ginástica, piscina e heliporto, fachadas de casas construídas em arquitetura diversa, demonstração em quadra de tênis, etc. As informações de encantamento final à compra do sonho, ao lado direito das belas fotos.

A legenda que finaliza a venda vaticina: “Muito mais seguro do que você imagina.” E, por último, o nome do condomínio em letras garrafais, cor verde.

O anúncio foi publicado no jornal meio norte, de domingo, dia 07 de agosto de 2011, B/4 e B/5. As páginas internas do caderno publicitário recebem o nome Theresina. The(em verde) e resina(em vermelho).

Em não havendo sensibilidade do criador publicitário que precisa pagar as próprias contas, sobra certo descuido da ética da profissão que vende o “discreto charme da burguesia” e transforma toda a sociedade à margem das benesses da “ville way of life” em vítima potencial da violência e banditismo do mundo exterior, desprotegido das cercas do deus burguês.

A Mídia, mãe e madrasta generosa, com suas tetas fartas será sempre o melhor veículo para vender marcas, eficientizar promoção ou lançamento de algum produto do anunciante, bom pagador. O negócio é um negócio e o que vende é o que melhor apelo tem.

Parabéns ao publicitário criador da campanha, ao agente, ao dono da conta, ao proprietário da agência de publicidade, ao fotógrafo. Todos levam o seu no  melhor estilo de negócio.

A imagem de herói vitimizado na fotografia, fica bem na fita queimada em papel.Com pinta de poeta a concretas fogueiras e vaidades, ator para máscara canastrona de meio palco e efígie de “como era bom o meu francês” que arranha os seus em Teresina, o publicitário e galã de plantão, modelo exposto à campanha cumpre seu papel e vende-se.

Para um bom empreendedor, meio negócio basta.

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