domingo, 18 de setembro de 2011

Nara para sempre


Nara para sempre
por maneco nascimento

O Theatro 4 de Setembro recebeu, em seu palco para todas as cenas, a doce melodia em furacão sem fúria, mas força e energia da altas estações da natureza cultural sensibilizada. Desdobrados tons e sons sutis para bossas e outras nossas músicas relembraram em “Nara”, estrelado por Fernanda Couto, Rodrigo Sanches, William Guedes e Guilherme Terra as memórias musicais da inconfundível Nara para sempre.

O inteligente e bem resolvido musical “Nara” se não tivesse acuidade de resultado estético e artístico de cena, ainda assim estaria no lucro por brindar o público com sutil e quente roteiro/enredo da curta, mas emblemática passagem d’Ela, a menina moça Nara Leão.
 (Nara Leão: musa da bossa nova/acervo: divulgação)

 Que musa da bossa nova, abraçou com decisão o Tropicalismo, os sambas e reis da música do morro, Roberto & Erasmo e passeou por versões da composição de clássicos americanos, porque a música está na humanidade e não na forma.

O Texto, de Fernanda Couto, que protagoniza a cantora, e de Márcio Araújo, tem uma tessitura invejável de aglutinar comentários de narradores/atores e falas de memórias das entrevistas e bate-papos da rica vida de Nara. 

 (elenco de 'Nara": Fernanda, Rodrigo, William e Guilherme/acervo: divulgação)

Dramaturgia competente, de aproximação da personagem do público, refaz o caminho da artista sem melindres e pudores de classes e Ilustra os percursos musicais da ferrenha defensora da velha-nova MPB.

Nara e sua postura de política musical, cultural, artística e de direitos humanos repercutem até hoje ao histórico e imagem da artista brasileira. A Direção de cena elementa sinceridade contida e respostas diretas do público assistente que pareceu encantado por voltar ao túnel do tempo.

Fernanda Couto que toma chegada pelo público, com uma rosa branca na mão, desenvolve uma Nara econômica e sutil em desenho corporal e domínio da cena com tranqüila certeza do sabor do vinho degustado. Só deleite, prazer, respeito e talento praticado enquanto brinca de ser Nara. 
 (Nara Leão: delicada interpretação de Fernanda Couto/acervo: divulgação)

De Nara para Nara, Fernanda acerta na veia e veleja num barquinho para memórias de lobos bobos, açúcares e afetos, opinião, insensatez e outras raras histórias do cancioneiro nacional. Numa suave decisão de homenagear Nara Leão, o faz com requintado zelo enquanto narra, canta e se desloca na cena, tudo com graça e desvelo pensado.
 (a Nara de Fernanda Couto/acervo:divulgação)

Das costuras da dramaturgia textual aplicadas ao musical, ponto alto para “Diz que fui por ai” (Zé Kéti e H. Rocha); a inclusão de diálogos naturais sobre os famosos joelhos da Nara; a ilustração da doença que a vitimou depois de uma década; sua ida ao Japão e seus lapsos de memória provocados pela doença.

Não há momento desprezável. A cenografia (Valdy Lopes) de flâmulas de tecido algodão neutro, suspensas e sobrepostas ao fundo da cena, simples e simbólica. Memórias se enfileiram para curtas, médias e longas distâncias. O cenário se completa com sofá e mesinha, de apartamento zona sul, mimetizados com estúdio de ensaios para o real de músicos/intérpretes em cena. Não faltou o banquinho e o violão que arredondam a estética.

A iluminação, de André Boll, transmuta-se para cenário e artistas em cena com força de luz da história contada. Tem o calor de proximidade não só das falas das personagens reproduzidas, mas também da luz própria dos espíritos engajados na verdade artística de história contada.
 Os figurinos, de Cássio Brasil, acompanham muito de perto a sobriedade e cuidado dramatúrgico em reproduzir Nara. Elegante, discreto e prático para execução em trocas rápidas dos intérpretes e segue linha criativa, se não cronológica da personagem, mas de licença poética com riscos de muito acerto.

A Direção Musical, de Pedro Paulo Bogossian, vem madreperolando toda a ambientação sonora que, delicadamente, se vai absorvendo ao longo do enredo.  Deixa sempre um gosto de quero mais. Arranjos limpos e concorrentes a resultados de liberdades de arte renovada.

Em breves 60 minutos do musical “Nara”, de inteligente Direção assinada por Márcio Araújo, se guarda uma ótima lembrança de como as nossas memórias, quando melhor resgatadas, são responsáveis por prazeres inestimáveis.

Fernanda Couto, Guilherme Terra, Rodrigo Sanches e William Guedes são o show para nenhuma repreensão. Cantam bem, tocam sem deixar vestígios de falhas, interpretam com graça e talento trabalhados.
 (Nara e eles. elenco do musical 'Nara"/acervo: publicação)

O musical de Fernanda Couto e Márcio Araújo é de força irreprimível. É Nara para sempre e nada será como antes depois que o 4 de Setembro recepcionou, nos dia 17 e 18 de setembro de 2011, às 20 horas, “Nara”.

 E, parafraseando Nelson Cavaquinho “(...) depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade (...)”, mas verdade em preces tocantes e musicais como as possibilitadas por esse grupo de artistas de força e equilíbrio artístico cultural “(...) nada mais”.




Um comentário:

  1. Compulsivamente seguindo os escritos de Maneco, oh doce luz que dedilha da ponta de seus dedos!!Bjos na alma querido(Belissímo texto).

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