segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E nosotros?


E nosotros?
por maneco nascimento

Enquanto que, no Brasil, o Estado abandonou a sociedade, os ricos demonstram maior ostentação e desprezo pelos pobres do que em qualquer país do mundo. Apesar disso, os brasileiros ricos são pobres. Continuam na pobreza porque compram sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos ônibus desconfortáveis, lotados de trabalhadores das grandes periferias e dos subúrbios”. (Carlos Humberto Campos, Sociólogo, Vice-Presidente da ASA BRASIL e Assessor da Cáritas Brasileira Regional Piauí)

Recentemente Teresina, leia-se a dos estudantes, desempenhou papel fundamental à retrocessão da política amiga governo municipal aos empresários de transportes coletivos. Após uma decisão empresária de aumentar a passagem de ônibus de R$ 1,90 para 2.20, os estudantes da cidade disseram não à arbitrariedade do aumento escorchante.
  (estudantes em frente a PMT/foto acervo: www.pstu.org.br)

O tom abusivo e determinante do aumento por deter o poder local, azeitado pelo caminho privilegiado e cheio de meneios de sobrevivência conveniente a quem melhor interessar e dar as cartas teve que amarelar. Os estudantes entenderam diferente a prepotência e, politicamente, deram uma resposta da sociedade mobilizada ao poder público oficial e ao empresário novo rico com postura regurgitada sob a égide de concessões de linhas de transportes hereditárias. 
 (movimento estudantil na frei serafim/foto acervo: www.pstu.org.br)

“(...) Aqui em Teresina, há muito tempo ouvimos falar em licitação para melhorar o transporte coletivo; Há muito tempo ouvimos falar em integração das linhas de ônibus; Há muito tempo ouvimos falar em melhores terminais de paradas de ônibus; Há muito! Entretanto, não há nada. Será que esse discurso também não é vandalismo institucionalizado, amparado por uma legislação que muito vezes prioriza os ricos em detrimento dos mínimos direitos dos pobres? (...)” (Idem)

Nunca em Teresina os estudantes haviam desempenhado tanto sangue no olho. E a reação veio como melhor julgou-se tratar o assunto. No final, embora a população tenha feito sacrifícios para deslocar-se e, premeditadamente, o transporte ter sido tangido ao planejamento empresarial, tentando impor um discurso próprio condenante, o SETUT não conseguiu que os cidadãos tomassem o partido dos donos de ônibus.
 ( estudante enfrenta polícia/foto acervo: manifestação.org)

Houve cortejos de pessoas de ponto a ponto de ônibus, houve problemas de atrasos, ou até de ausência de transporte para voltar para casa, mas não houve sentimento de revolta da população contra a manifestação estudantil. Os filhos de militares, professores, comerciários, ambulantes, empregados domésticos, funcionários públicos, entre tantos moradores de bairros de Teresina andam é de ônibus. 
 (estudante evita ser pisado pelo ônibus/ foto acervo: manifestação.org)

As gentes simples dos bairros e periferias da cidade sabem o valor real de se pagar passagens de serviço precário e concessionado do transporte coletivo “generoso”, oferecido ao cidadão teresinense. Quais prejuízos tiveram os empresários de ônibus? Quais prejuízos tem-se nosotros?
Ônibus lotados, atrasos incorrigíveis, passagens caríssimas, donos de empresas de ônibus choramingando prejuízos que não se sabe de onde saem, porque se paga passagem todo dia. E muita, mas muita gente pega ônibus e ninguém anda de graça. Aliás, tem-se visto o tratamento dado a idosos e, por vezes, a outros cidadãos com direito a passe livre.

Coragem e sangue livre teve a Teresina estudantil que obrigou o poder a capitular. “(...) Essa abandonada e excluída juventude, ainda tem que carregar as severas críticas e acusações dos chamados “Cães de Guardas” de um modelo Político e Econômico, que destrói vidas e aniquila os sonhos, em defesa dos lucros de gananciosos empresários! (...)” (Idem)
 (estudante detida pela polícia de choque/foto acervo: manifestação.org)

A sociedade brasileira parece ter-se habituado com a contumaz corrupção nacional, arraigada do Iapoque ao Chuí. Denúncias contra gestores públicos, meandros de envolvimentos nas instâncias judiciárias, legislativas e executivas. Apropriação indébita do recurso público, investigações freadas por barreira de fórum privilegiado, ou renúncia vazia, magistrados em relações estreitas com vias escusas de julgamento e privilégios “legais”.

Como diz o sociólogo, Carlos Humberto Campos, as autoridades brasileiras deveriam ser modelo e referência de conduta ética para uma juventude tão carente de bons exemplos e que viceja um futuro não interditado por atos ilícitos e políticos de postura duvidosa. 

 (polícia contra-ataca estudantes/foto de Valter Reis/publicada em nazarenofonteles.com)

“(...) antes de condenarmos a ação dos estudantes, é preciso que façamos uma reflexão mais apurada das verdadeiras causas e origens de tais comportamentos sociais (...) sinto-me feliz e nutro a esperança de uma sociedade melhor ao contemplar o rosto indignado de uma juventude que demonstra coragem de lutar pelos seus direitos, pela justiça e pela igualdade. A SOCIEDADE NÃO AGUENTA MAIS ESSE DISCURSO DOS “CÃES DE GUARDA” DE UM MODELO POLÍTICO FALIDO” (Idem).

Nosotros, de qualquer parte do Brasil, também buscamos garantias devidas pela soma de impostos pagos. Não são favores, mas direitos.




















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