sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Teatro do coração


Teatro do coração
por maneco nascimento

No páreo de competição para a 18ª. edição do Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Prêmio Zezé Lopes, dia 10 de agosto de 2011, às 20 horas no 4 de Setembro, a vez foi de Maria do Rosário Sales, a nossa Lari Sales e sua “Rainha do Rádio”.
 (Adelaide Fontana(Larti Sales): Rainha do Rádio/acervo)

A história de Adelaide Fontana e sua amargura de ser preterida do mundo nepótico-fisiológico da família Zoroastro e da Rádio a que dedicou toda uma vida, se faz ponto máximo através do texto, por vezes “boca suja”, mas dentro de um universo de discurso bem humorado, medido para um riso sem o apelo fácil da linguagem ligeira ao gargarejo.

Dramaturgia literária de revezes ora densa, ora relaxada ao entretenimento e diversão, reflete o ocaso de uma profissional, de um paradigma de expressão laboral. A morte da poesia e embrutecimento de relações de trabalho e afetivas.

A Adelaide de Lari Sales é dramática, divertida, tem uma pulsação de coração medido ao gráfico de inflexões, intenções e entonações que enleva a platéia à comoção e à diversão perversa de participar da desgraça da personagem, injustiçada pela cidade e pelo patrão.

A história da personagem não se quer confundir, em nada, com a da intérprete, mas há sinais comuns que as aproxima. Uma vida dedicada à carreira e a escolha da profissão. Uma é atriz de talento conquistado, a outra é radialista e amante professa de rádiodifusão. Ambas comunicam. A idade da atriz e maturidade de fingimento se aproxima da idade da personagem composta à cena expiada.

Densidade dramática e nuances delicadas dialogam com certa tranqüilidade e apego à prática festejada na boca da intérprete. É uma Lari conhecida e cheia de arte para aproximar público e obra aberta. Para essa faceta de Sales, um investimento no momento de ouvir-se +, demorar nas passagens e entradas cênicas construídas ao longo da carreira.

Na noite do dia 10 de agosto, um resultado pouco concentrado na maturidade já experta da atriz. Falas truncadas, falhas perdoadas no conjunto de um bom exercício em dia incomum para a mesma montagem.

Uma mulher da cena da cidade que já arrastou em sua esteira de deus Ex-Machine, Raimunda Jovita, Raimunda Borborema, Joaninha, Bernarda Alba e tantas outras leves e graves personagens, tem dias de glórias e dias de menores acertos. A falha trágica faz parte da personagem, mas intrínseca de qualquer intérprete. 

O teatro torna-se visível, mas prospectado do invisível e labirintos do ator/personagem. Então, Lari Sales deu-se com toda verdade e honestidade de encenar e tinha uma energia e força dramática ricas de propósitos ao palco. Mas não apresentou um redondo eixo dramático para o dia de concorrência.

Continua uma Adelaide Fontana apaixonante e uma atriz Lari Sales fascinante. Não estava no seu maior espetáculo àquela noite, nem sua melhor performance. Logo, faz-se crer que a ótima Adelaide confundiu-se com fundo coração de sangue pagão de Lari. 
 Teatro, arte e ciência conquistadas pela emoção, razão e pesquisa para sempre resultados do coração. Às vezes + experiências, outras sempre experiências. Sempre teatro, nem sempre para prêmios formais, mas premiado para ato de cena experimentada.

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