segunda-feira, 23 de maio de 2011

Duas Danças

Duas Danças
por maneco nascimento
O SESC Amazônia das Artes 2011 trouxe ao palco do Teatro Municipal João Paulo II, na tarde do dia 20 de maio, para público estudantil da região do grande Dirceu, dois espetáculos das cênicas. Resultados de duas companhias distintas, em seus caminhos de nova dança.
O espetáculo do primeiro momento, das 15 horas e 30 minutos, “Palmares”, montagem da Organização Ponto de Equilíbrio – OPEQ aborda um viés histórico do Brasil afrodescendente, de forma didática e ilustrativa do samba, capoeira, ritos religiosos.
O elenco dançante cumpre bem o papel, tem uma sintonia que vai se fortalecendo com a dialética entre o velho e o novo experimentado. Coreografias horizontalizadas no sentimento do povo negro e sua identidade expandida têm função variável entre o social e o antropológico.
As músicas compostas por Saquá e Ricardo Totte garantem uma energia extra que vem tanto dos poetas escolhidos, entre eles Castro Alves, como das melodias de elaboração de raiz. Os dois músicos presentes desde a estréia da peça musical estão muito à vontade. Os novos integrantes ao grupo de “back vocal”, Jorjão e Cláudia Simone, ainda muito fora da água e terra prometidas.
Jorjão prefere tratar do menos para não comprometer, já a cantora Cláudia Simone, muito empolgada, desvia a atenção do foco principal, os solos e coletivo dos bailarinos. Faz um showzinho à parte, não houvesse limites da direção do conjunto, talvez invadisse a cena. Cria ruídos à comunicação que quer parecer limpa em toda a dramatização musical.
 Coreografia e Direção de Valdemar Santos ficam dentro da proposta de release, embora a nova dança aplicada não consiga desviar-se do desenho introjectado do clássico. Mas não fere a arte.
O segundo tratado daquela tarde, “Problema de três corpos”, reúne duas intérpretes-criadoras da Cia. Luzia Amélia. Uma cadeirinha de plástico, cor-de-rosa, e fios de Ariadne costurando o chão de linóleo completam-se com as evoluções das duas bailarinas.
Segundo o release da Cia., “As ações se apresentam como reflexos de acumulações feitas durante a evolução temporal para dar novo significado”. Mover corpos, experimentar planos e penetrar invisíveis. Pulverizar o vazio de notas soltas de corpos em movimento é o que parece ao público comum.
A quem se detenha na cata de ligações direcionais, não as encontra fácil. É um estranhamento, um provocativo do discurso da dança contemporânea fora do círculo aristotélico. Aos de repertórios diversos, meio gesto basta para aproximar qualquer identificação.
Lembra muito projeto, desenvolvido durante algum tempo pelo Núcleo do Dirceu, alcunhado de “Instatâneo”. Dentro da linguagem distanciada de esvaziar + o já pouco preenchido, consegue deixar aberta a porteira da teoria da recepção que encaminha qualquer observador a tirar sua própria conclusão.
“Problema de três corpos” abre uma questão da nova ciência às cênicas para resoluções matemáticas de respostas diversas. E como diz o discurso setentão, de releitura nessa contemporaneidade, “quem não entendeu, que entendesse”.

domingo, 15 de maio de 2011

Talento é ciência


por maneco nascimento

Ciência é vantagem. Elemental e de razão diversa. Com todas as vantagens e aplicações culturais dadas aos sinais de fé, por exemplo, há aqueles que se confirmam e outros que não necessariamente recebem testemunho de confirmação.

Dessa forma, nem tudo pode ser obra do espírito santo. Há seus sinais, mas há outros que devem ser atribuídos à própria fé humana na razão, na ciência e no labor ao conhecimento aplicado.

Talento é inato, sim. As projeções desse talento podem também ser redefinidas e reincorpadas ao + talento que caminhe pelo científico. É assim em qualquer manifestação de prática humana, de confirmação da própria ordem de identidade e fator social     à posteridade de história e memória.

Logo, ninguém nasce feito, está óbvio. O moderno da era primitiva ganhou novas roupagens no moderno do mundo contemporâneo e por ai vai-se humanidade descarteana. Também não cai do céu, pronto para varejo, o conhecimento humano. Muitas inquietações e dúvidas transformam sombras em luz, depois de muito quebra-cabeça desvendado.

O mundo acadêmico é feito de doutores, mestres, aprendizes e colaboradores. Todos, em algum momento, se esbarram para confrontos, medidas, estranhezas, aceitação e negação de conhecimento, quer + interativado, ou não.

 Da máxima socratiana “sei que nada sei”, + construtivista que muitos comportamentos verticais de ensino-aprendizagem ainda praticado nesse mundo contemporâneo, há quem verticalmente precise manter-se distanciado do aprendiz, por fazer-se compreender degrau acima em conhecedor do conhecimento.

O douto vertical debate-se à própria vaidade sufocante. Aprendiz, o nome já vende, representa a própria condição de fome de saber algo de alguém que aprendeu antes, que está na ponta do conhecimento, pois mais curioso, ou com melhores oportunidades. A ciência é de natureza humana, teoricamente também solidária pelo menos para efeito de continuidade científica e sociológica.

Então quem é mestre ou doutor não precisa verticalizar relações, especialmente acadêmicas, porque ninguém tira espaço de ninguém. As hierarquias existem naturalmente em quaisquer culturas, só não precisam invisibilizar relações + iguais. Conhecimento é obra de esforço, de dedicação, disciplina e muitas horas de estudos laboriosos.

Ciência do tangível e intangível, o conhecimento pode ser moeda de melhores trocas, de maiores interações e quando de aplicação + humana planar na órbita da vontade de compartilhamento desinteressado. Ciência em talento direcionado, do aprender a aprender, do ensinar aprendendo.

+ Sábios, geniais ou brilhantes, ainda mortais. Voltam ao mesmo átomo comum, mesmo pó nivelador da fogueira das vaidades. Então em sendo + sabido, quem sabe + generoso? Porque conhecimento não é lei divina, é prática humana. Não é para humilhar, nem separar e muito menos criar barreiras intransponíveis de comunicação.

Quem conhece, sabe. Quem sabe é dono do seu conhecimento e pode trocar experiência com o de outrem, parceiro de ciência aplicada. Então que se seja melhor “macaco” porque de cavernas e sombras já se avançou muito. Saltar para trás nem o homem caranguejo que sempre desliza à sobrevivência a sua frente.

Talento é ciência, ciência é humana e humanidade é divina, mesmo que reservada a voltar à origem, do pó ao pó. Conhecimento nunca foi cegueira. O que tem cegado a humanidade é o temor de perder espaço. Ninguém toma espaço de ninguém.

Não se abre mão do que se tem como domínio próprio, ainda que tomado. Mesmo no mito, mais humano só conhecendo a si próprio para aprender a dividir o conhecimento que é livre como partículas da matéria que compõem também o invisível. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cena recolhida

por maneco nascimento
(arquivo)
O furacão “Raimunda Pinto, sim senhor!” apascentou as memórias percorridas. Desceu à galeria das montagens aposentadas. O ator e produtor executivo de teatro, Francisco Pelé, também timoneiro da peça fenômeno de público, em todos os tempos piauienses, resolveu encerrar a carreira da menina dos olhos populares, do riso e do entretenimento.
Depois de várias tentativas do protagonista do espetáculo de levá-lo ao estaleiro, dessa feita deu-se por fim o propósito. Com estréia agendada nos dias 04, 05 e 06 de junho de 1992, no palco do Theatro 4 de setembro, ficou em cartaz por dezenove anos bem vívidos. Conquistou as platéias do Brasil por onde a cearense leporina contou sua história.

(arquivo)
“Raimunda Pinto, sim senhor!” fez rir a público de uma, dez, de cem, de trezentas, de quinhentas e de mil e oitocentas pessoas. Ganhou prêmios nos + diversos festivais brasileiros e deixou rastro luminoso de teatro moderno, bem distante do morto que vaticina Brooke. Abriu linguagem de contemporaneidade às velhas e gastas escolas que enviesaram a raiz aristotélica.

(arquivo)
Amada por muitos brasileiros. Foi odiada por alguns que, a princípio, não a entenderam e depois desenvolveram uma “inveja saudável”, quando teriam que dobrar-se ao sucesso de novidade, de expressionismo aplicado ao simples da dramaturgia conceitual e de propósitos.

(arquivo)
Para alguns era uma viadagem. Para outros um equívoco. Para os de canais abertos, uma comunicação eficiente sem ruídos, mas ruidosamente incomodativa. Alunos cariocas foram vê-la, em temporada no Teatro da UERJ, depois de lerem crítica negativa de Bárbara Heliodora. Para eles qualquer espetáculo condenado pela Heliodora merecia ser conferido, não se decepcionaram.
Numa das últimas apresentações em São Paulo, no Festival Latino Americano de Teatro, na Sala Jardel Filho, foi ovacionada e tratada como primorosidade de efeito inteligente, humorado e de corpos que falavam como que por coreografias pensadas para a dança. Nada que o Grupo não tenha estudado e aprimorado ao longo da vida. Mas sempre foi só exercício do ator em teatro sempre vivo.

(arquivo)
Quando ganhou prêmio da FUNARTE à circulação em Brasília, no começo dos anos 2000, foi considerado o espetáculo de melhor público dos que passaram pelo Teatro Dulcina(Conjunto Nacional). Como recompensa voltou em nova temporada para mesma Casa de espetáculo.
Circulou o centro oeste, nordeste, sudeste e sul do país. Ficou devendo seu bom humor a Manaus, Belém e outras plagas do norte. Mas nas cidades do interior do estado, nas capitais do Brasil visitado, em cima de caminhão, de mesa, praças abertas, beira de rodovias, Teatro de bolso, ginásios poliesportivos e pátios de escolas, não há quem guarde qualquer queixa.

(arquivo)
 Só a memória do bom riso e felicidade de compartilhar a saga da cearense subdesenvolvida que descobre seu pássaro azul e volta ao seu Ceará para criar galinhas, mandar rachar o céu da boca, para voltar a ser fanha e colher ovos azuis, verdes, amarelos de Adilza, Adilfa e Adelfa. O discurso do genial Chico Pereira da Silva transversalizou Pound e Gaudí e reverberou a própria memória afetiva.

(arquivo)
“Raimunda Pinto, sim senhor!” que começou carreira fazendo campanhas beneficentes ao Lar da Esperança(Graça Cordeiro), recolheu a cena em nova campanha. Dessa vez em benefício à Casa Sorriso, Associação de Apoio aos Fissurados e Portadores de Lábio Leporino(Dra. Lúcia Carvalho). A apresentação para platéia lotada ocorreu no Teatro da Assembléia, no último dia 7 de maio de 2011, às 19.30 horas. Fenomenal!!”

(arquivo)
Elenco junto há quase duas décadas, composto nessa última fase por jorge carlo(Mãe/Enfermeira); francisco pelé(Raimunda); arimatan martins(Palhaço Goiabinha); francisco de castro(Izaura); fernando Freitas(Lindalva); maneco nascimento(Doutor Kildare/Milionário); marcel Julian(Marinheiro/Seu Gregório) e airton martins(Playboy/Getúlio Vargas).
Músicos que preencheram a pauta musical, Edgar Lippo(in memória); Donizeth Bujigia; Pizeca; Betinho; Juroba; Marcos Oliveira e Zaqueu da Sanfona. Agradecimentos muito especiais aos atores Dirceu Andrade, Amauri Jucá, Moisés Chaves, Elielson Pacheco, Ozanan Sobrinho e Mariano Gomes.

(arquivo)
Raimunda recolhe-se deixando um rastro de luz e sombras. Em claros e nebulosos mapas estelares guarda-se às melhores memórias conquistadas e acata decisão do intérprete carro chefe que protagonizou a anti heroína e deu-lhe o descanso conveniente.
(arquivo)

Poesia é vida

por maneco nascimento
À noite do dia 06 de maio de 2011, a partir das 18 horas, no CENAJUS – Centro Nacional de Cultura e Cidadadania/Espaço da Cidadania, leia-se, prédio que, anteriormente, abrigou a Justiça Federal, o palco foi de poesia encenada, recitada e repercutida aos atentos convidados do “Sarau da Cidadania”.

Projeto que envolve a parceria da Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, com a Justiça Federal no Piauí teve expansão de liberdade, expressão criativa e simplicidade que ganha a vida e poetas, através de sua obra dada à posteridade.


O evento aberto por Laurenice França - FMC e o juiz federal Dr. Carlos A. Pires Brandão – CENAJUS foi se fortalecendo à medida que as manifestações culturais poéticas ganharam força de envolvimento e interação natural.

Na cena, os atores M. Nascimento, Vitorino Rodrigues e José Dantas reproduziram, respectivamente, as falas de Carlos Drummond de Andrade (Caso do Vestido e A Morte do Leiteiro); Salgado Maranhão (Sol Sanguíneo) e H. Dobal (A Cidade Substituída).


No recital, para as leituras espontâneas, as obras de poetas brasileiros do moderno e contemporâneo ato literário. Não sobrou dúvida que o “Sarau da Cidadaniafez-se à luz em expansão. Magistrados federais, artistas, crianças e muitos outros convidados, na mesma energia integrada, venceram a timidez e deram sua melhor contribuição em definição à arte e cultura das letras poéticas.


Da Caixa de Poesia foram resgatados à leitura: Drummond, Quintana, Cora Coralina, Torquato Neto, entre outras grandes expressões nacionais. Da verve musicada, Garoto/Chico Buarque, Paulo Coelho/Raul Seixas, Gilberto Gil e Vinícius de Moraes também tiveram representação de homenagem.


Como o evento tem como prerrogativa animar o espaço do CENAJUS também como atividade cultural que envolva poesia, música e encontro com o exercício da arte, cultura e cidadania, o “Sarau da Cidadania” cumpriu, com eficiência, o papel de aglutinar pessoas em mesmo propósito.


Reuniu intenções comuns e culturais, estimulou o encontro e o desempenho natural e participativo do contributo cidadão e, especialmente, incentivou a produção artística compartilhada. Jovens, adultos e crianças recitando nossos poetas, guardaram consigo a memória do ser artístico ao alcance de qualquer um.

Uma boa leitura, quase nunca tem contra indicação. Logo, as leituras poéticas, realizadas em 06 de maio de 2011, durante a primeira versão do Sarau naturalmente reverberarão em outras oportunidades.

As leituras do mundo, que passem pelo universo das construções coletivas, flexibilizam novas iniciativas do criativo para sociedades + justas e sujeitas do ato comum que integrem cidadãos. Então que se deposite o crédito de que esse novo Projeto ao viés da poesia e seus autores poderá ter vida longa a novos e participativos encontros poéticos.